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O baile dos bancos zumbis

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Por IELA em 22 de junho de 2017

O baile dos bancos zumbis

 

Simone Wapler

Bail-in, bail-out, sistema de resolução bancária, directiva de resolução bancária, recapitalização preventiva, credores júniors ou séniors. De facto, a única coisa que nos interessa em tudo isso é o nosso dinheiro. Um banco sem depositantes pode falir, que belo negócio! 
O problema dos depositantes é que eles também votam, os ignorantes. E um depositante depenado tem mais memória do que um contribuinte sangrado. Por outras palavras, fazer com que a falência de um banco seja suportada pelos contribuintes é mais fácil do que fazê-la pagar pelos depositantes. Infelizmente, todas as disposições regulamentares europeias postas em prática doravante proíbem o salvamento dos bancos pelos seus Estados (ou seja, pelos contribuintes). 
Assim, é preciso executar algumas contorções para dar a sensação de deslizar elegantemente sobre o assoalho do salão de baile dos bancos zumbis. 
Uma compra fraudulenta na Espanha 
Comecemos pela Espanha e pelo Banco Popular. O Banco Popular não tinha senão uns poucos depositantes… e os raros que lhe restavam estavam em fuga. 
Em contrapartida, o Banco Popular possuía mais de €37 mil milhões de empréstimos imobiliários cujos tomadores não conseguiam reembolsar. Esta carteira de créditos duvidosos levou a €3,5 mil milhões de perdas líquidas em 2016. 
O Banco Popular foi finalmente comprado por €1 simbólico pelo Banco Santander, o maior banco espanhol – e consequentemente demasiado grande para falir. A honra e as regulamentações foram salvas: o Estado espanhol não interveio.
Os raros depositantes restantes e os detentores de dívida sénior (as obrigações mais seguros) foram poupados; Os detentores de obrigações do Banco Popular perdem quase tudo; Os portadores de acções perdem tudo; Os tomadores insolventes que contraíram empréstimos imobiliários terão sempre o Banco Santander e os oficiais de justiça no seu caminho.Um futuro incerto para um banco ainda maior 
Evidentemente, será preciso que o Banco Santander se desenvencilhe com o estorvo do Banco Popular. Um banco demasiado grande para falir tornou-se ainda maior. O Banco Santander deve levantar €7 mil milhões para se recapitalizar. 
Encontrará ele valentes accionistas? Será isto suficiente para colmatar as perdas de 2017 da carteira imobiliária apodrecida? Se eu tivesse depósitos no Banco Santander e se fosse um contribuinte espanhol, colocaria estas questões… 
Passemos agora à Itália e ao banco Monte Dei Paschi di Siena. O problema é que o referido banco tinha muito mais depositantes do que o pequeno Banco Popular. 
Além disso, 42 mil destes depositantes tornaram-se credores a contragosto. Zelosos “conselheiros financeiros” fizeram com que eles subscrevessem obrigações júnior de alto rendimento através de produtos de poupança sem risco. 
A linda pilha de regulamentações de Bruxelas foi portanto posta de lado. 
Uma nacionalização ilegal na Itália 
O Estado italiano será a priori autorizado a injectar €6,6 mil milhões no quadro de um aumento de capital de €8,8 mil milhões. Ele ficará então com 70% do capital do banco. 
Está prevista uma compensação para os poupadores no montante de €2 mil milhões. 
É portanto uma nacionalização limpa, como nos bons velhos tempos.
Os depositantes restantes e os poupadores são… poupados; Os contribuintes pagam.
Mas há outros bancos italianos zumbis no salão de baile: Banca Popolare di Vicenza e Veneto Banca para o qual convém igualmente organizar os salvamentos. A ideia para evitar a falência convocar os outros bancos em socorro do seu irmão infeliz. É preciso encontrar €6,4 mil milhões, mas a Comissão Europeia quer que os bancos italianos injectem previamente €1,2 mil milhões proporcionalmente à dimensão dos depósitos de cada um dos zumbis. 
Solidariedade ou caridade forçada 
Os outros bancos não estão ansiosos por esta operação visto que já puseram €3,4 mil milhões no mealheiro através do fundo Atlante. De repente, o governo italiano põe a pistola na testa dos dois maiores bancos, Intesa Sanpaolo e UniCredit, para que cada um dance com uma das cavalheiras necessitadas e apliquem o modelo do par perfeito Banco Santander – Banco Popular… 
O que reter deste baile dos bancos zumbis?
Que quando os depositantes são suficientemente numerosos é preciso contornar os textos e encontrar o meio de fazer com que os contribuintes paguem a ruptura. Como nos bons velhos tempos… Portanto, para o vosso banco que abrigue uma conta corrente, prefira um grande banco da rede que tenha muitos depositantes. Mas não deixe evidentemente mais de 100 mil euros e mesmo bastante menos. 
Fuja como da peste ou da cólera de contas remuneradas e de contas a prazo (super livrets). Não esqueça que se os bancos espanhóis e italianos estão infestados por créditos duvidosos, os bancos franceses e alemães estão vulneráveis aos produtos derivados e às perdas na sua actividade de trading por conta própria. Portanto se as taxas sobem ou se os mercados baixam, terá de redobrar a vigilância.E o famoso “risco sistémico”, poderá ser perguntado? Exactamente, é através das perdas no trading por conta própria que ele se pode materializar. 
Depois de €4 milhões de milhões de criação monetária e nove anos de taxas baixas, os bancos zumbis continuam sempre necessitados dos contribuintes para fazerem crer que podem continuar a viver. 
[*] Consultora financeira. 
O original encontra-se em la-chronique-agora.com 
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
 

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