Início|Brasil|O Marxismo Solar e o pop contra-revolucionário

O Marxismo Solar e o pop contra-revolucionário

-

Por IELA em 22 de maio de 2018

O Marxismo Solar e o pop contra-revolucionário

A propósito do Manifesto pela Revolução Brasileira e o PSOL.
Primoroso na análise da atualidade, este manifesto é “pela revolução brasileira”, e não manifesto da revolução brasileira. Detalhe lingüístico significativo porque nele a revolução é um apelo, uma vontade, uma necessidade, não uma realidade que esteja em curso; afinal a revolução é feita por determinadas classes sociais. Estas no entanto não são nomeadas, ficamos sem saber das classes sociais que transformariam a estrutura de poder de maneira revolucionária. 
Revolução implica a mudança de um domínio de classe por outra classe social. É isso o que não está claro, embora se reconheça a “guerra de classes”. Entenda-se por isso uma ofensiva da burguesia em nome da crise, ofensiva contra o povo trabalhador, mas este não é homogêneo, nele cabem o proletariado multinacional, o operário temporário, o trabalhador oprimido, sem salário, o campesino explorado pelo agrobusiness, a massa sobrante, o pequeno proprietário. Sem mencionar a pequena burguesia depauperada, a classe media com medo de se proletarizar, os que não terão nunca emprego. 
Admitamos que o povo seja uma categoria fundamental, todavia o povo, seja qual for o processo revolucionário, não é capaz de agir espontaneamente sem o comando de determinada classe. Qual? A resposta não é dada. Esse é o grande problema da teoria da revolução brasileira, e que tem a ver com a ausência de partido político proletário com direção anti-capital.
Sabemos da dificuldade do antigo PDT de Leonel Brizola, constituído de pequena burguesia. Ele ficou sozinho, sem o respaldo da classe operária, enfrentando os inimigos incrustados nos sindicatos, nas igrejas, nas universidades e nos meios de comunicação. O caudilho Leonel Brizola terminou os seus dias sem conseguir eleger-se senador pelo Rio de Janeiro.
O PDT não elaborou uma teoria da revolução brasileira, não apontou qual seria a classe que daria a direção política. Esteve afastado, não por princípio doutrinário, da classe operária industrial. Por outro lado, não pôde contar com o lumpemproletariado que no Rio de Janeiro transladou-se para as igrejas crentes. O caudilho viu o país rapinado pelo capital monopolista internacional, mas não conseguiu dar o salto histórico por falta de apoio das classes exploradas, principalmente na região de maior concentração operária. A classe operária de São Paulo, desinformada desde 1964, engabelada pelos efeitos do “progresso” do desenvolvimento desigual, não teve olhos livres para ver o caudilho, a principal vítima da tragédia de 1964. É desse acontecimento trágico que medra o PT, ainda que insciente de seus efeitos, para não dizer omisso quanto ao golpe de 64. Ao contrário do caudilho, o PT nasce com apoio das grandes centrais sindicais, um partido burguês de trabalhadores, negligenciando o poder imperialista, acumpliciando-se com a burguesia bandeirante e seduzido pela TV Globo, consagrando desde 1989 o gênero telenovela como escola política da classe trabalhadora.
A densidade do proletariado concentrado em São Paulo não imprimiu ao PT uma direção proletária revolucionaria. Ficou na órbita da Igreja e dos professores universitários, muitos deles de estampa tucana. O resultado, com mais de 10 anos no poder, foi um fiasco. Apeado melancolicamente do poder sem ter se valido dele para revolucionar a sociedade. Caiu sem lutar, caiu com um peteleco dado pelo Congresso, recusando-se a fazer autocrítica, ficando adstrito ao enredo da corrupção, sem esclarecer suas fontes econômicas que remetem ao poder mundial do capital monopolista. Ao ocultar essas fontes, que estão conectadas ao rentismo for export extrativista (agrobusiness e petróleo), a corrupção converte-se em ladainha moral. Suas bases materiais ficaram elididas pelo moralismo petista de origem udeno-bacharel.
A Petrobrás internacionalizou o rentismo baseado em produtos primários junto com a exportação agrobusiness. O programa bolsa família começou no governo Lula em 2002. Doze anos depois, em 2014, Dilma é reeleita em grande parte graças ao Bolsa Família, embora esse programa não tivesse sido uma ameaça para a classe dominante. A Lei da Responsabilidade Fiscal é de 2000. Antes FHC não procedeu diferente de Dilma.
O Manifesto pela Revolução Brasileira incide no sindicalismo “autônomo” convertido em sindicalismo empresarial rentista. Não surpreende o repúdio na universidade ao marxismo, que reverbera no MST ao deixar de lado a questão da propriedade em detrimento da “economia solidária”. Não se discute no MST a relação marxismo e nacionalismo em país dependente e subdesenvolvido. 
Em todos os temas abordados pelo manifesto avulta o capital monopolista em sua fase de financeirização do capital, relevando o fato de que esta poderia ser denominada capitalismo videofinanceiro, sobretudo por causa de seus efeitos na política e na consciência popular. Os efeitos da mais valia ideológica, como diria o marxista Ludovico Silva. 
O doutor Moro, em sua caçada ao Lula, poupa o Banco e outras organizações financeiras, incluindo o sistema de televisão que justifica a espoliação internacional drenando bilhões de dólares por ano.
Muito de nossa erosão psíquica avacalhada, resultado do descenso do valor de uso no capitalismo rentista, tem a ver com a existência de uma burguesia compradora que domina o Estado e a cultura. O manifesto aventa a possibilidade de o PSOL, partido novo e de jovens, embora descendente do PT conivente com as “perdas internacionais” (para nos valermos da paródia brizolista do imperialismo de Lênin), vir a ser um agente ou companheiro de viagem da revolução brasileira. É justamente nesse ponto que o leitor do manifesto é tomado de perplexidade, porquanto não se trata de considerá-lo “frente política”, mas de adentrar-se nele para lutar pela revolução. Contudo, para lograr tal intento, é preciso esclarecer a questão da classe social revolucionária, aspecto esse menoscabado pelo PSOL com o seu fetichismo pós-moderno de “gênero”.
O PSOL não vê com bons olhos a tradição nacionalista inaugurada por Getulio Vargas. Para o PSOL, influenciado pelo pop (o popismo da música popular), a ditadura começou com o AI-5, e não em 1964 com a tomada de poder pelas multinacionais. O condicionamento material e econômico da ditadura de 1964 foi substituído pela indisposição abstrata ao “autoritarismo”, tal qual o Cebrap feagaceano que seguiu à risca as diretrizes da Ford e Rockefeller. Revela dizer que no Brasil horrendo e reacionário destes dias não é por acaso que a direita liberal e a esquerda culturalista perdoam o golpe de 1964, mal necessário que teve no entanto um aspecto positivo, deixou o “populismo” darçavargojangobrizolista à lona.
Para glosar Ruy Mauro Marini, que não acreditava ser possível harmonizar cidadania com superexploração do trabalho, o capitalismo videofinanceiro (a fusão TV com rentismo especulativo) é um monstro que vampirira o corpo e a alma. Citamos Ruy Mauro Marini porque o marxismo ventilado pelo PSOL é o up to date dos EUA ou vient de paraître da França. Quase nunca o marxismo “lacucaracha” da América Latina, de acordo com o lugar comum eurocêntrico da classe dominante. Cumpre aduzir que o interesse em conhecer a atualidade, o presente como história, não é de modo algum incompatível com o estudo dos clássicos.
Louvável é a iniciativa de integrar-se ao PSOL a fim de reverter, em seu interior, a afinidade eletiva desse partido com a Rede Globo, que desde 1965 é um aparato contra-revolucionário na América Latina. 
A persuasão interclassista da TV completa a audiência de pastor de igreja. Este reforça a versão ágrafa e boçal da Bíblia, mesclada à linguagem crematística, enquanto aquela apresenta-se como veículo da modernidade com tecnologia importada. É dessa combinação que é feita a mentalidade popular na escolha dos candidatos da classe dominante.
O PSOL, seduzido pela acústica da música popular (sem analisá-la como totem de mercado), cativo da imagem, da indumentária e do léxico da telenovela, reproduz a dominação burguesa e legitima, aos olhos da juventude, a simbiose dos meios de comunicação de massa com a universidade. Se esta é o ponto de partida onde se concentra a militância do PSOL, então é imperioso não perder de vista que os professores universitários repetem os clichês do Banco Mundial, que não são diferentes dos clichês da mídia, a exemplo de “governabilidade, “cidadania”, “competitividade”, “sociedade civil”, “pluralismo”, “transparência”. J. P. Morgan do Chase Manhattan, ávido por arrebatar os ativos do Pré-Sal, é o magister dos cursos de pós-graduação. Chase Manhattan financiou os golpistas em 1964.
Os professores entrevistados pela televisão e jornalões são enredados em uma trampa sígnica e substituídos pelo âncora de TV. Se o PSOL acredita no oxímoro de direita, “celebridade revolucionária”, então fatalmente repetirá o fracasso histórico do PT filantrópico, amavioso com a burguesia proprietária da mídia que despolitizou os sindicatos.
Um programa revolucionário é inconcebível com a separação entre o intelectual e o proleta, ou se quiser, o probretário. Essa separação está em sintonia com a separação entre o impresso e o visual ou o acústico. O povo, desescolarizado pelas telenovelas e igrejas, entupido com sonoridade ensurdecedora, encontra-se impossibilitado de ultrapassar a consciência ingênua, como diria o filósofo Álvaro Vieira Pinto. O barulho, seja roqueiro, seja funkeiro, seja ripirópi, é de direita. Glauber Rocha, que não é admirado pelo PSOL, dizia que o objetivo fonomultinacional é surdar o povo. Desgraceira é isso enfeitiçar a gurizada. Quem é o bacana que sabe hacer el amor? Que é isso de intelectual pop ser mentor de partido político? A musa órfica saracoteira na TV Globo, que é reacionária, anti-popular e anti-nacional. O pop é contra-revolucionário. O pop é a quinta-coluna do capital no PSOL.
O ocaso da forma-partido, propagado pelos âncoras de TV, é uma estratégia da classe dominante. O único partido que tem direito a existir é o partido da televisão ou da igreja. Os jovens militantes do PSOL não podem descuidar do escandaloso e pornográfico neoliberalismo petucano, a ideologia do capitalismo videofinanceiro que está em perfeita consonância com as vedetes da canção e da telinha. Que não seja olvidado o episódio deprimente das Olimpíadas no Maracanã. Deprimente, entre outras coisas, porque converte a mulher do Terceiro Mundo em sexo predatório e mercantil.Os jovens militantes do PSOL, que não querem ser engambelados pelos velhacos de direita, devem se precaver contra a mistificação publicitária da juventude. 
O tabu na esquerda depois do golpe de 64 é a possibilidade de participação das Forças Armadas, ou alguns de seus atores, no processo revolucionário nacional e anti-imperialista. A esquerda, que não quer ou tem medo de tomar o poder, a esquerda que demoniza o poder, confunde militar com militarismo, por conseguinte não admite a unidade entre o povo e as Forças Armadas, sem a qual é difícil conceber a revolução anti-imperialista nos países dependentes e subdesenvolvidos, como alertou o marxista argentino José Hernandéz Arregui. A esquerda nubívaga é preconceituosa quanto à necessária unidade entre o Exército e o povo. Segundo Arregui, não há na história nenhuma revolução socialista realizada unicamente com a classe operária.
Há 40 anos Glauber Rocha levou porrada da esquerda cipaia quando denunciou a retórica democrática acerca da “sociedade civil” ao reivindicar o Exército como a vanguarda armada do povo. Na mesma época as estrelas da mercadoria pop, que atualmente são tomadas como guias teóricos do PSOL, colocaram a antítese entre o corpo desreprimido da indústria cultural e o Exército baixo astral.
Gunder Frank esclareceu que o golpe de 64 foi dado pela Fiesp. Por dentro do cinema mundial desde 1945, ano da bomba atômica, Glauber Rocha informou que Roliudi consagra a erótica do uniforme norte-americano, enquanto o alfaiate do cadete brasileiro é humilhado. A classe dominante colocou o Exército para caçar os pivetes nos morros do Rio de Janeiro. 
Os militares erraram em 1964, cirurgiões do golpe, não os seus mentalizadores, como mostrou o historiador Nelson Werneck Sodré de olho na burguesia bandeirante subimperialista. Bautista Vidal insistiu que o neoliberalismo de Collor teve por objetivo destruir as Forças Armadas nacionais. Assim o rico território tropical com sol e água doce ficaria desarmado e vulnerável ao saqueio imperialista. No governo FHC o chefe das Forças Armadas foi um advogado gaúcho do capital estrangeiro. 
É promessa verbal e psicologicamente catártica uma programática revolucionária sem incluir a questão da energia vegetal (álcool e óleos vegetais) substitutiva do agônico petróleo no Oriente Médio e no mar Cáspio. Os partidos de esquerda (incluindo o movimento MST fanzoca de la moneda cepalina de Celso Furtado) desdenham com soberba ignorância petulante a energia da biomassa e suas implicações para o socialismo limpo, o socialismo do sol, o sol do socialismo.
O PSOL tem o sol em sua sigla. O Pré-Sal antiecológico irá engordar a conta do mameluco Henrique Meirelles. A caricatura de marxismo que vinga entre nós, com ojeriza ao cipó e à mandioca, recusa a revolução socialista como revolução da floresta, anunciada por Oswald de Andrade. Caminhem em direção ao sol. Atenção: o homem do Equador vai falar.
O problema é o PSOL dar trela para Globo News no Canecão vocalizado por biguisbroders.O lance revolucionário é tirar o jovem da armadilha pop, o pop fóssil capitalista. O que nunca se pergunta, e por isso a crítica ao capital permanece abstrata, é a energia do socialismo, a energia que moverá a sociedade socialista. Isso não é devanear. A esquerda colonizada por Wall Street acredita que a derradeira energia provém do petróleo. Daí outra pergunta: é possível um socialismo à base do petróleo ecocida? O dólar, moeda que só vale porque compra petróleo, oculta o sol, resultando daí a alienação energética da sociedade inteira.
Marcello Guimarães, geólogo conhecedor dos trópicos úmidos, em seus experimentos na agricultura, evidenciou que em todo território é possível plantar simultaneamente, em pequenas propriedades, comida e energia. Plantar ao mesmo tempo energia e comida. Essa é a revolução da agricultura no século XXI: plantar energia limpa e renovável, ou seja, álcool e óleos vegetais, os combustíveis derivados da biomassa. Essa é a questão agrária fundamental. Claro que a configuração energética depende de relações sociais e do regime de propriedade, enfim, da luta de classes. Um partido de esquerda que se atém às lindes do supermercado ou das Casas Bahia decerto cometerá um grave equívoco na era do ocaso do petróleo se identificar a cana de açúcar como gramínea do latifúndio.
Omissão ou inciência alienada é a teoria da revolução brasileira (ou o PSOL é um partido socialista conivente com o imperialismo?) descuidar-se do agronegócio multinacional. As plantations latifundiárias desempregam a população rural. Insista-se que partido político desprovido de compreensão energética não compreende o que está acontecendo no mundo, e nós somos uma parte determinada pelo todo. 
As potencias imperialistas, situadas em zonas frias e temperadas do planeta, terão necessariamente de buscar o combustível substituto do petróleo fora de seu território. Por que o Pentágono não desgruda sua atenção desse condicionante geográfico? A teoria da revolução brasileira, afastada do mundo físico e concreto, não o leva em consideração. Como romper com o fetichismo da moeda na teoria da revolução brasileira? Por que os deserdados da terra (é o que Bautista Vidal e Marcello Guimarães perguntavam para Stédile sem obter resposta) não são informados acerca do metabolismo entre o trabalho e a natureza? Por que os partidos de esquerda sabotam a ecologia revolucionária para os campesinos e o proletariado urbano?
A história do capitalismo industrial é a combinação da mina de carvão mineral com a máquina a vapor na Inglaterra, e o motor a explosão movido pelo petróleo nos Estados Unidos. Marx e Engels, os dois intelectuais eruditos europeus, pensaram o capitalismo na época do carvão mineral. Lenin formulou o conceito de imperialismo no limiar da era petroleira. Trotsky morreu em 1940 no México, não viu os sinais de esgotamento do petróleo que ocorrerá em meados da década de 70. Objeto de reflexão nos Estados Unidos dos autores marxistas Paul Sweezy e Paul Baran, no Brasil percebido por Bautista Vidal e Marcello Guimarães, os cientistas da Escola Brasileira da Biomassa que dirigiram o Pró-Álcool, a primeira e único alternativa mundial ao petróleo.
O que ficou claro com o embargo do petróleo em 1974 é que os Estados Unidos não possuem em seu território as condições geográficas para produzirem energia vegetal pós-petróleo. O que se delineia é a estratégia, ainda que não explicitada, do imperialismo se apropriar a curto ou médio prazo das regiões intertropicais, sem que se perca de vista que o Oriente Médio tem sido palco de guerras por deter 70% das reservas de petróleo do planeta. Os partidos políticos ignoram que as regiões tropicais (América Latina, África e Ásia) estarão no epicentro do século XXI.
Teoria revolucionaria socialista nenhuma poderá desdenhar que a cobiça do imperialismo está voltada (não obstante a feição fóssil do governo Trump) para a apropriação energética do trópico por causa da incidência de sol e abundante água doce. Atente-se ao detalhe que tem a ver com a questão agrária: localiza-se no Brasil o maior território tropical do planeta. Impõe-se a necessidade de reforma agrária com dispositivo energético baseado em micro-destilarias a álcool.
O geólogo Marcelo Guimarães sintetizou a diferença entre o petróleo e a biomassa quanto à criação de empregos: “Para construir uma refinaria da ordem de 100 mil barris por dia, é necessário um investimento de um bilhão e meio de dólares, mas a refinaria só transforma o petróleo, ela não descobre – ainda que descobri-lo não basta. É preciso primeiro ter a jazida, depois plataformas de 500 ou 600 milhões de dólares e, finalmente, a refinaria, a qual cria no máximo sete mil empregos diretos. Ora, com um bilhão e meio de dólares, podemos construir 100 mil microdestilarias e criar um milhão de empregos diretos, sendo 500 mil na área agrícola e outros 500 mil pequenas oficinas de serralharia. Enquanto a refinaria é montada em áreas urbanas congestionadas, as microdestilarias poderiam ser espalhadas pela área rural. Essa é a diferença fundamental. O detalhe é que uma microdestilaria pesa 600kg, podendo ser colocada em uma caminhonete, portanto transportada para qualquer lugar, com o objetivo de produzir álcool a 94 graus”. 
Marcelo Guimarães sabia que o trópico não é a região do petróleo, nem mesmo a Venezuela onde o poeta Ludovico Silva chamou o petróleo de “excremento do diabo”. Músico tal qual Mallarmé, com ódio da mercadoria dinheiro tal qual Charles Baudelaire coetâneo de Karl Marx, Ludovico Silva não era chegado na verticalidade fóssil da sombria e ruidosa industria cultural. Ludovico Silva, o Ludo louco dialético de Caracas, que escreveu centenas de paginas sobre o conceito de alienação em Karl Marx, certamente iria exaltar o caráter revolucionário da escola da biomassa. A importância da geografia. O trópico não apenas como objeto de conhecimento do marxismo, mas o trópico na política do proletariado, tanto na pratica energética quanto ecológica. Se bem que a energia não seja o motor da história, ela conforma o poder e condiciona as relações entre capital e trabalho. 
Ainda que estejamos na fase de acumulação financeira do capital, em suas vertentes rentistas e especulativas, é o real concreto energético que move o capitalismo. Não se trata de colocar a luta de classes no sol, e sim de ver o sol na luta de classes, ainda que sem deslembrar a sentença proferida por Glauber Rocha: “O sol é do povo”. Quando nos referimos ao marxismo solar, estamos pensando na expansão planetária do capitalismo. Economia política cósmica.
O marxismo solar é indissociável da geografia dos trópicos neste século pós-petróleo. Nos últimos decênios a ofensiva do imperialismo no Brasil terá de ser analisado sob o prisma do fim do petróleo e da emergência do álcool e dos óleos vegetais. O desmonte privatizador internacionalizante do Estado na era FHC sintoniza-se com a venda do território para as corporações estrangeiras sob o governo Lula.
A função da colônia sempre foi a de abastecer o mercado externo e enricar as metrópoles, como dizia Darcy Ribeiro. Sim, continua a mesma coisa; mas com uma diferença crucial: o colonialismo do passado – digamos até o declínio dos combustíveis fósseis – era o colonialismo de sobremesa, açúcar, café, cacau, produtos de matérias primas que ensejaram a acumulação forânea de capital; todavia hoje o colonialismo energético é de sobrevivência, porquanto da energia extraída do território dos trópicos é que dependerá o funcionamento industrial das metrópoles. É vital para nós e para eles a energia vegetal. É um dado da natureza que está aí de maneira objetiva e implacável: não haverá nenhum milagre que faça o sol do Ceará ser transferido para Chicago. Aquilo que parecia retórica – o sol do novo mundo –diferencia a configuração energética do hemisfério norte e do hemisfério sul.
A contradição nação versus imperialismo reveste-se de um componente energético: plantations latifundiárias multinacionais versus microdestilarias a álcool. Esse é o caminho energético do socialismo no Brasil. Bautista Vidal tinha razão: com o poço de petróleo não é possível a pequena produção energética. O petróleo, não a biomassa, engendra o gangster Rockefeller.
O capital monopolista estrangeiro está comprando pedaços enormes de terra no Brasil.
O que se descortina no horizonte é o genocídio do povo brasileiro. A internet anglosaxônica já divulgou a sinistra palavra de ordem: “mate um brasileiro e salve a floresta”.
É inevitável o ocaso do petróleo, embora a parvoíce colonizada insista em negar isso apontando para o Pré-sal no fundo mar. O Pré-sal é o imediatismo monetarista que desvia nossa atenção do hidrato de carbono e da fotossíntese. Pouco antes de morrer em Brasília, Bautista Vidal abriu o jogo: “o Pré-sal é um desastre”.
 

Últimas Notícias