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Sobre o aprofundamento da crise capitalista mundial.

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Por IELA em 04 de maio de 2016

Sobre o aprofundamento da crise capitalista mundial.

TESE: Está colocado, para o próximo período, um novo colapso capitalista mundial que inevitavelmente colocará em movimento novamente à classe operária.
ANÁLISE:
1. Os mecanismos de contenção do colapso capitalista mundial de 2008 começaram a apresentar rachaduras, em 2012, e sérias rachaduras no ano passado. A economia entrou em recessão nos principais países. A economia real está paralisa por causa da queda do consumo. Se trata de uma típica crise de superprodução capitalista.
2. Após terem gastado trilhões com objetivo de garantir os lucros dos monopólios, os estados burgueses se encontram em situação semi falimentar e com enormes dificuldades para garantir a contenção de um novo colapso.
3. De acordo com uma comissão do Congresso dos Estados Unidos, somente entre 2007 e 2010, o governo gastou mais de US$ 16 trilhões para salvar os monopólios da crise. Considerando todos os repasses, o valor é várias vezes maior. Não por acaso, a dívida pública norte-americana supera os US$ 19 trilhões, três vezes mais do que era em 2007. E situações similares se repete na Europa, no Japão e nos principais países.Até a especulação financeira, que representa o grosso da economia capitalista, enfrenta crescentes dificuldades para garantir os lucros. As bolhas financeiras continuam crescendo, ameaçando com implosões que farão o colapso de 2008 como um jogo de crianças. A situação se tornou tão dramática que vários países de primeira ordem, como o Japão e a Alemanha, estão aplicando taxas negativas, ou seja, os monopólios são pagos para obterem empréstimos, que, no grosso, são aplicados na especulação financeira. Os simples mortais são cobrados por deixar a poupança nos bancos com o objetivo de obriga-los a ir às compras.
4. A queda dos preços das matérias primas colocou em xeque a economia dos países atrasados. A América Latina se encontra na linha de frente da crise capitalista, em primeiro lugar, em países importantes da região, como a Venezuela, a Argentina e o Brasil. O México, a Colômbia e o Chile tem visto as suas respectivas economias piorarem de maneira acelerada. Os demais países também foram atingidos pelos mesmos problemas, o que pode ser visto muito claramente na Bolívia, no Equador, no Peru e no Uruguai. 
5. No Brasil, o superávit da balança comercial brasileira, no ano passado, de quase US$ 20 bilhões, teve na base, em primeiro lugar, a queda das importações, das quais a economia ficou dependente de maneira umbilical devido à desaceleração industrial provocada pelo direcionamento do país para a produção e exportação especulativa de meia dúzia de matérias primas. Uma verdadeira “vitória de Pirro”: superávit porque a economia ficou paralisada e ainda com um destino claro, o pagamento dos serviços da ultra parasitária dívida pública.
6. Após o mês de setembro de 2008, o governo da Frente Popular, encabeçado pelo PT, direcionou um grande volume de recursos públicos, para as grandes empresas, por meio de fartos créditos ao consumo e os repasse do Bndes (Banco Nacional de Desenvolvimento), o aumento da especulação com a dívida pública e o aumento da camada parasitária de impostos e juros. Esses recursos públicos e a exportação de matérias primas foram os dois pilares de sustentação da economia nacional que criaram a ilusão de que o Brasil passaria incólume pela crise que atingia em cheio os centros. Como Lula disse, “a crise chegou ao Brasil como uma marolinha”, enquanto o país era devastado pela exploração hiper depredadora em prol das matérias primas. Uma espécie de volta à época colonial, que levou o Brasil a tornar-se o campeão mundial no uso de agrotóxicos, o vice campeão mundial no uso de transgênicos, que trouxe acidentes escandalosos como o recente caso da Samarco em Minas Gerais, que ameaça acabar com o Amazonas e o Pantanal devido à construção desenfreada e especulativa de hidroelétricas, que abriu o país à produção hiper depredadora do xisto etc.
7. Em 2013, o governo Dilma, durante a gestão do então ministro da Fazenda Guido Mantega, abriu um novo período no repasse de recursos públicos, por meio da concessão de diversas isenções aos fabricantes da “linha branca”, e outros, com o objetivo de evitar a bancarrota generalizada devido ao aumento do contágio da crise capitalista mundial.
8. Todas as medidas de contenção da crise têm entrado em colapso. O colapso capitalista tem levado o Brasil à linha de frente da crise. E trata-se apenas do “aperitivo”. O “prato forte” está para vir com o estouro de uma nova crise capitalista mundial, que está colocada para o próximo período nos grandes centros e que deverá ser muito pior que todos os anteriores devido ao brutal parasitismo e ao super endividamento dos estados burgueses. De acordo com os índices oficiais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), o PIB caiu 1,7% no terceiro trimestre de 2015, em relação ao trimestre anterior, quando a queda tinha sido a maior das últimas décadas. No ano passado, a contração (oficial) da economia foi de aproximadamente -4% e, para este ano, a expectativa é de nova contração de -6%. As pressões inflacionárias crescem sem parar. De acordo com as estatísticas oficiais, a inflação fechou, no ano passado, acima dos 10%, e a expectativa para este ano é ainda pior. A principal meta imposta sobre o Brasil, pelo imperialismo, o chamado superávit primário (recursos destinado ao pagamento dos juros da dívida pública), está implodida por um déficit primário de R$ 104,4 bilhões, com a subida, em um ano, de 0,48% do PIB para 10,82%.
9. Devido às políticas aplicadas pelo governo com o objetivo de sustentar os lucros dos capitalistas, principalmente o dos monopólios, a dívida pública (oficial) disparou para 67% do PIB e continua aumentando de maneira muito acelerada, enquanto os grandes bancos, principalmente os internacionais, os chamados “primary dealers” (ou “negociadores primários”) continuam extraindo suculentos lucros com taxas de juros muito superiores à oficial. Não por acaso, os juros brasileiros são os mais altos do mundo. As três principais agências qualificadoras de riscos, que são controladas pelos monopólios, colocaram o Brasil no status lixo, o que implica na disparada das dificuldades para o governo captar recursos e fechar as contas.
10. A dívida pública interna supera os R$ 4 trilhões, apesar das maquiagens oficiais. A dívida externa acumulou mais de US$ 335 bilhões somente entre 2010 e 2015, justamente, por causa dos gigantescos déficits das chamadas contas correntes, provocados pelo aumento da espoliação imposta pelos monopólios e pelo crescente processo de desindustrialização ocasionado no direcionamento do Brasil à produção e exportação especulativa de meia dúzia de matérias primas. O volume total da dívida externa soma US$ 545,4 bilhões (dezembro de 2015).Os chamados IEDS (investimentos estrangeiros diretos), que já bastante especulativos (especulam, principalmente, nas bolsa, e na compra de títulos das empresas) somam mais de US$ 1 trilhão. Os investimentos estrangeiros mais “voláteis” (os chamados “capitais andorinhas”) somam mais de US$ 700 bilhões. O passivo externo bruto é de mais de US$ 2,2 trilhões, representando o dobro da dívida pública interna, que é controlada pelos grandes especuladores internacionais. As chamadas reservas soberanas, que somam mais de US$ 356 bilhões, além dos investimentos brasileiros no exterior, que somam US$ 400 bilhões, tendem a desagregar-se conforme a pressão dos monopólios aumenta sobre o Brasil e essa moeda podre, chamada dólar, tende a implodir.
11. A máquina de “imprimir” dólares está funcionando a todo vapor, sustentando o crescente déficit público norte-americano e os repasses de dinheiro público aos monopólios. Mas a crise do esquema não está longe. Os petrodólares (venda de petróleo em dólares) estão combalidos, principalmente, a partir da crise dos preços do petróleo e do aumento das contradições entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita. O aprofundamento da crise econômica tem levado os grandes capitalistas a fortalecerem a extrema direita em escala mundial. Mas esta carta ainda não tem sido usada de maneira intensa e prioritária. Ainda há um certo espaço para as frentes populares, ao estilo do governo do PT. As frentes únicas, ao estilo do governo de Maurício Macri, na Argentina, representam a política atual colocada para a América Latina imposta pela Administração Obama, e “seus amigos, mas tratam-se de governos de crise, muito mais fracos que os governos que impuseram as políticas neoliberais nas décadas de 1980 e 1990.No ano passado, o déficit nas contas correntes (a diferença entre tudo o que entra e tudo o que sai do Brasil) foi de US$ 92 bilhões, dos quais apenas US$ 66 bilhões foi fechado com os chamados IEDs (Investimentos Estrangeiros Diretos), que já são muito especulativos. O restante foi fechado com capitais ainda mais especulativos, os chamados “capitais andorinha”.O Brasil continua, neste momento, na linha de frente da crise capitalista internacional e essa situação irá se agravar com o aprofundamento da crise capitalista mundial.
12. O pagamento dos serviços da ultra corrupta dívida pública brasileira, por exemplo, mostra que é insustentável manter a política ultra entreguista atual, que já consome mais de 44% do Orçamento Público Federal, de acordo com a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentária) enviada para aprovação ao Congresso.As altas taxas de juros brasileiras representam um caso único no mundo, ou o único lugar onde ainda há “perú com farofa”, como a direita brasileira gosta de dizer parafraseando o ex ministro da Fazenda da ditadura militar, Delfim Neto. Um fardo tão grande, que junto com os impostos, inviabilizam qualquer possibilidade de desenvolvimento do Brasil. Nos principais países, foram adotadas taxas de juros negativas, ou seja os monopólios são remunerados por obterem empréstimos, que são aplicados fundamentalmente na especulação financeira, tal o alto grau de parasitismo. O endividamento se generalizou alcançando níveis estratosféricos em escala mundial, enquanto a economia produtiva entrou em recessão.
13. Hoje, somente os ultra nefastos derivativos financeiros movimentam, segundo a imprensa especializada, nada menos que US$ 700 trilhões, ou dez vezes o PIB mundial, mas, muito provavelmente, o volume seja ainda muito maior.Conforme têm aumentado os sinais de esgotamento do governo Dilma, os especuladores financeiros têm manobrado e provocado a valorização do real e das bolsas. O problema é que os monopólios pressionam para que o ajuste contra os trabalhadores seja aplicado da maneira mais integral possível, com a reforma trabalhista (reduzindo sensivelmente as condições de vida dos trabalhadores), a reforma da Previdência (com ataques mais profundos contra os aposentados), os cortes nos gastos públicos (com o objetivo de garantir os repasses para os banqueiros), maiores entrega dos recursos naturais etc. A direita tem muito maior poder de fogo para aplicar essas medidas, que o governo do PT, mas essa direita precisa do apoio, direto ou indireto, da cúpula do PT para poder aplicar o ajuste. Não por acaso, está sendo avaliado o parlamentarismo no Senado, além de outras negociações com a direita, que têm como premissa a contenção das bases do PT e da extrema direita.O programa econômico apresentado por Lula há duas semanas, sobre uma suposta retomada do desenvolvimento, não passa de pura demagogia.
14. O que está colocado em cima dos acordos que estão em andamento não é mais investimentos produtivos, mas um maior aperto contra a população para manter o parasitismo financeiro. É preciso não esquecer que a última tentativa relativamente “séria”, e recente, de aplicar uma certa “política desenvolvimentista” foi feita por François Hollande, na França. Essa política fracassou estrepitosamente e o próprio Hollande se transformou num dos paladinos dos ajuste, dos chamados “planos de austeridade”, contra os trabalhadores.Em dois ou três anos, esses mecanismos especulativos deverão implodir no Brasil e, de manter-se as amarrações impostas pelo imperialismo, restarão duas opções, a moratória ou a hiperinflação. De acordo com o líder da Revolução Russa, Vladimir I. Lenin, não há nada mais revolucionário que a inflação. Por esse motivo, o imperialismo tenta aplicar um brutal ajuste contra a população, para controlar a crise, sobre o sangue dos trabalhadores. O inevitável efeito colateral são os também inevitáveis protestos sociais.Para o próximo período, está colocado o inevitável aprofundamento da crise capitalista e, em cima desta base, a entrada em movimento, novamente, da classe operária, no Brasil e no mundo. Será a retomada, numa escala ainda superior, do movimento grevista da década de 1980, que, no Brasil, atingiu o pico com a formação da CUT, em 1983, e as 15 mil greves de 1985, mas que foi sufocado com as políticas neoliberais.
15. O novo período de ascensão operária colocará, também de maneira inevitável, à ordem do dia, a criação de um partido operário, revolucionário e de massas, independente de todos os setores da burguesia e de todos os partidos integrados ao regime burguês. Isso não tem nada a ver com a “eleição de deputados”, que é a principal pauta, na prática, de boa parte da esquerda pequeno burguesa, e muito menos com a eleição de Lula em 2018 ou a defesa das capitulações do PT. Esses agrupamentos deverão ser varridos do mapa pela nova ascensão das massas e uma nova esquerda revolucionária deverá ser formada. Rachas no PT, e até nos demais partidos, deverão ser colocados à ordem do dia, separando as alas direita dos elementos revolucionários que deverão se fortalecer conforme a ascensão dos trabalhadores acontecer. A história mundial está cheia de exemplos neste sentido. A análise profunda da história e das revoluções tornou-se uma tarefa fundamental para compreender a realidade atual.
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