Início|Rio de Janeiro|Vereadora do Rio de Janeiro é assassinada

Vereadora do Rio de Janeiro é assassinada

-

Por IELA em 15 de março de 2018

Vereadora do Rio de Janeiro é assassinada

Marielle, braço erguido, sempre em luta.

A onda de ódio aos pobres que começou a se formar no Brasil em 2013 vai chegando a alturas tsunâmicas. E as consequências disso serão graves, não apenas para os pobres e lutadores sociais, mas para todo o país. Porque o estado de terror, quando se consolida, acaba pegando todo mundo. Ninguém escapa. vejam os exemplos da Colômbia e do México.
A lógica do modo capitalista de produção é de explorar ao máximo o trabalhador e garantir um exército de reserva para que cada pessoa que vende sua força de trabalho não seja necessária. Se um se esgota, logo ali tem outro para assumir o lugar. Esperando para ser explorado, querendo ser explorado. Porque nesse sistema quem não encontra comprador para sua força de trabalho está fadado a morrer. 
Quem ousa se levantar contra esse estado de coisas é considerado inimigo. E o braço ideológico do capital, que é a mídia massiva e comercial, trata de impor um consenso sobre as pessoas que lutam contra a exploração e a violência. No geral são mostrados como encrenqueiros, baderneiros, marginais. E boa parte da população, que só tem a informação que lhe chega pela  televisão, acredita nisso, a tal ponto de ver como inimigo aqueles e aquelas que lutam para melhorar suas vidas.
Ontem a vereadora Marielle Franco (PSOL), mulher negra, moradora da comunidade da Maré, no Rio de Janeiro, eleita com mais de 40 mil votos por sua luta incansável pelo povo pobre e negro das favelas – seu povo –  foi morta a tiros dentro de um carro na Rua Joaquim Palhares, Região Central do Rio, por volta das nove e meia da noite. Vinha para casa depois de mais um dia de trabalho e de luta, na denúncia dos desmandos da Polícia Militar no Rio. Duas pessoas numa moto emparelharam no carro no qual ela ia e dispararam. Marielle foi atingida com quatro tiros na cabeça. Execução! O rapaz que dirigia o carro, Anderson Pedro Gomes, também foi baleado e morreu. Uma assessora de Marielle, que estava no banco de trás, também foi atingida, mas está bem.
A última postagem que Marielle fez na sua conta do Twitter, tratava de mais uma denúncia de assassinato do povo preto: “Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando para a conta da PM. Matheus Melo estava saindo da igreja. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”.
Pois ela também tombou, da mesma forma. 
Nas redes sociais os comentários sobre o assassinato são dignos de horror. Não bastou a imolação da vereadora num crime brutal. É preciso que se continue destruindo sua imagem e suas ideias. Não reproduzirei aqui as palavras que estão sendo ditas. Mas elas representam tudo o que há de perverso e cruel no ser humano, que é ensinado, todos os dias, a odiar aqueles que lutam. Os que são ensinados a viver como ovelhas, aceitando a exploração e agradecendo aos seus “senhores”. O Brasil escravocrata que ainda goza de prazer ao ver o negro amarrado no poste sendo açoitado. O Brasil dos feitores que, mesmo sendo nada, igualmente gozam com a desgraça dos seus iguais.
A morte de Marielle inaugura uma nova fase do golpe dado em 2016. As milícias agindo sem medo, atacando pessoas públicas, mandando recados claros para os demais lutadores sociais. A democracia é letra morta, porque ela não significa apenas a possibilidade de votar. A democracia é a possibilidade de participar, de se manifestar, de dizer sua palavra, de denunciar o que não está funcionando, de reivindicar, de lutar. E isso é praticamente impossível no sistema capitalista. Esse é um modo de organização que só permite a massa domesticada. 
Mesmo assim, é preciso seguir lutando. A morte de Marielle não pode ser em vão. Já basta de tolerância com as atitudes fascistas. Porque como diz Ernest Bloch, nós nos tornamos responsáveis por aquilo que toleramos. Momentos há em que é necessário barrar o horror. E isso só é possível de maneira organizada e coletiva. É tempo de levantar. 
Hoje, às 17 horas, em Florianópolis, na Esquina Feminista, próximo ao Mercado Público, acontece um ato de protesto. Na reverência à memória de Marielle, mulheres, homens, trabalhadores, repetirão como Tupac Katari: “voltarei, e serei milhões”. Que assim seja.
Marielle, presente. 
 

Últimas Notícias