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Jornalistas alertam sobre a concentração dos meios de comunicação como uma arma golpista

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Por IELA em 06 de junho de 2011

Jornalistas alertam sobre a concentração dos meios de comunicação como uma arma golpista
Por Stela Pastores  – de Porto Alegre
06.06.2011 – A concentração dos meios de comunicação de massa, o tratamento preconceituoso e negativo de assuntos relativos a Cuba, e exemplos da manipulação midiática concentraram o debate do painel de encerramento da VI Convenção de Solidariedade a Cuba na tarde de sábado (046) no Plenarinho da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O encontro é preparativo ao Encontro Nacional que ocorre em São Paulo nos dias 24 e 25.
O coordenador do painel “o bloqueio midiático a Cuba e as alternativas para enfrentá-lo” e vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas, Milton Simas, abriu a atividade informando que a entidade está gestionando junto à bancada gaúcha no Congresso Nacional o encaminhamento de um  Projeto de Lei determinando que os canais a cabo tenham na sua grade de programação a oferta de canais de tevê latino-americanos, não disponíveis atualmente. Canais norte-americanos são majoritários nos menus.
Da Guerra Fria aos dias de hoje
Editor dos sites RS Urgente e Carta Maior, Marco Weissheimer, recuperou na história onde nasce a manipulação política dos meios. Ele também deu a conhecer um manifesto de intelectuais argentinos denunciando a postura dos grupos de  comunicação, atentando contra governos progressistas. O bloqueio midiático insere-se no cenário da Guerra Fria. Os EUA iniciaram a propaganda de formação e desinformação que ecoa até os dias de hoje. Apesar do fim da Guerra Fria, o discurso se acentuou na última década, delineou Weissheimer. Ele observa o anacronismo do
comportamento reacionário e conservador da maioria dos empresários dos meios de comunicação.
Perigo para a democracia
O editor leu partes do documento dos argentinos, divulgado em 2008, quando grupos de comunicação, como  o El Clarín, somaram-se a um movimento golpista protagonizado por setores conservadores do agronegócio e aliados urbanos, articulando uma atmosfera política perigosa para a democracia. “O comportamento político da mídia nas últimas décadas fere de morte a democracia, emprestando entusiasmo às ditaduras militares”, diz o  texto. “Os meios definem a verdade sobre os atores políticos, excedem a mera busca pela audiência, difundem preconceito e racismo, sem informar ou refletir adequadamente. Praticam a barbárie política diária, gestando permanente de mensagens, privatizam as consciências e alimentam a opinião pública de perfil anti-político”, refere outro trecho Os meios não estão à altura da sua época, de práticas político-emancipatórias, destaca o documento .
Weissheimer refletiu que o Brasil conhece bem essa história, reprisada no crime na esfera econômica, no mais recente colapso do sistema financeiro internacional. Ele recorda que a mídia comportou-se nas últimas décadas fazendo a ladainha da privatização, propaganda fraudulenta do neoliberalismo como o grande regulador do mercado, da flexibilização dos direitos sociais e da desproteção ambiental. “Os prejuízos foram socializados e a mídia fez de conta que não disse o que disse durante décadas. Nenhum dos veículos veio a público dizer que tinha se equivocado”, constata o editor. A grande fraude financeira praticada pelos operadores econômicos
americanos, encobertos pelo governo, foi tema do documentário, ganhador do Oscar deste ano,  Inside Job,  Trabalho Interno, em português.
Compra de veículos como estratégia de negócio
Para Weissheimer, uma democracia séria precisa de diversidade  e pluralidade informativa. Alertou para uma prática alarmante da compra por grupos econômicos de veículos tradicionais de vários países como estratégia para seus negócios. Ilustrou casos ocorridos na Itália, Polônia, Estados Unidos, entre outros. Estudos apontam que os meios informativos estão cada vez mais concentrados. Os grandes grupos econômicos dominam os meios de produção e publicidade, numa prática autoritária,  inimiga da liberdade de imprensa.  Citou Crispin Muller que adverte que o grande perigo para a democracia não é a morte dos diários mas a concentração dos meios, numa crise cívica, onde a informação é mercadoria do mundo do lucro.
Batalha diária
Para ele, a tarefa é a recuperação da palavra crítica em todas as práticas, hoje dominadas pela retórica dos meios e do mercado. Ele observa que as políticas públicas não têm considerado a complexidade das manifestações culturais e de comunicação. Ele alertou para a ilusão de que os meios conservadores estejam silenciosos e inoperantes frente à  guinada à esquerda da América Latina. “Pode ser tema de discurso mas desvia a atenção. A direita não engolirá as derrotas recentes, no plano eleitoral. O setor econômico, político e midiático segue nas mãos destes setores. Não estão mortos.
Há uma batalha subterrânea travada diariamente na sociedade e é preciso estar atentos”, conclui.
Cobertura negativa para encobrir avanços socialistas
Para a jornalista e integrante do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal de Santa Catarina, Elaine Tavares, não há bloqueio midiático a Cuba porque as pautas negativas são divulgadas à exaustão. “O que há é um tratamento desigual quanto às noticias ruins”. Para ela, as conquistas cubanas são escondidas e negadas para ofuscar os avanços da prática socialista. “Bloqueia-se o
que Cuba tem de bom porque é um dos únicos países socialistas na beira do grande império, resultado de uma revolução armada e popular”. Alertou que não haja ingenuidade em querer pautas positivas progressistas nos meios de comunicação de massa. “Não deve-se  esperar migalhas dos grandes veículos. A comunicação deve ser feita por cada um, em cada conversa, em cada local onde se esteja. Somos um continente oral, engravidamos pelo ouvido. Vivemos em países com altíssimas taxas de analfabetismo funcional, de incapacidade de interpretar o mundo e dialogar é nosso principal meio”.
A jornalista observa que os avanços de Cuba desde a revolução de 1959, apesar do bloqueio econômico americano desde 1962,  como acesso universal a saúde, ensino público em todos os níveis, destaque mundial na medicina, ciências, esportes, informática, sistema eleitoral democrático não são mostrados devido à luta de classes. “Isto não se vê. Há grandes destaques na imprensa sobre os que fogem para Miami. Não aparece  os milhares de fugitivos do capitalismo  de inúmeros outros países que emigram porque vivem mal em suas pátrias”, destaca.
Mudança das práticas pessoais
Ela desafiou os presentes a iniciar com as próprias práticas a mudança de modelo. “Não existe possibilidade de solidariedade concreta a Cuba se não estivermos dispostos a mudar nossa vida no Brasil. A luta antiimperialista e contra capitalismo é aqui”, reflete.  “Não há possibilidade nenhuma de furar o bloqueio midiático a Cuba a não ser derrubando o capitalismo. Nunca vamos chegar a fazer luta antiimperialista se seguirmos como vamos, com sindicalistas de horário comercial, burocratas mandando email para fazer movimento social, que deve ser feito na rua.  Há segmentos velhos, cansados que tem de sair do poder”, apontou a jornalista e editora da revista Pobres & Nojentas.
Ela também alertou para a necessidade de união de forças progressistas, muitas vezes fragmentadas por sectarismos.
A verdade como arma
A jornalista cubana Norelys Morales Aguilera demonstrou com um exemplo  como se dão as distorções midiáticas sobre seu país. Relatou que no mês de maio um dissidente cubano morreu de pancreatite, mas os meios conservadores, a partir de versões dos mercenários cubanos divulgaram que havia sido assassinado pela polícia cubana. Estas versões foram desmentidas por Norelys e outros blogueiros cubanos rapidamente nas redes sociais.
 As entrevistas com a equipe médica e todos os exames realizados, junto a um rápido desmentido do governo cubano em menos de 24 horas cessou a onda mentirosa que havia se deflagrado pelas agências de noticias internacionais e já motivava iniciativas solicitando explicações ao governo da ilha. “Temos uma bomba atômica, que é a verdade”, declarou a jornalista da televisão cubana e que mantém blogues informativos sobre a realidade cubana.
O embaixador de Cuba no Brasil, Carlos Zamora, afirmou que o que foi dito por Morales Aguilera é correto, e que a a verdade se impõe mais cedo ou mais tarde. Para isso, disse que usar a “rádio bomba” é o meio mais eficaz, que é conversar com as pessoas e estar bem informados.

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