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A luta contra o terminal de gás no Chile

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Por IELA em 04 de julho de 2016

A luta contra o terminal de gás no Chile

Foto: http://www.radiovillafrancia.cl/

A região de Concepción, na costa do Chile está em polvorosa. Isso porque o governo decidiu dar autorização para que a empresa Bibíogenera, ex-Australis Power, comece a construção de um Terminal de Gás na baía, mesmo depois de plebiscitos realizados entre os moradores terem decidido pelo “não”. 
Desde 2013, quando o projeto começou a ficar visível na mídia, que as comunidades vêm enfrentando esse drama que mudará de maneira radical a paisagem da baía de Concepción. Centenas de manifestações foram feitas, unindo Tomé, Penco, Bulnes e Talcahuano, com passeatas e protestos contra o projeto.  A construção do terminal na linda baía promete alterar de vez a vida de milhares de pessoas, em nome do lucro de uns poucos. E, ao que parece, as autoridades locais não estão nem aí para o desejo das gentes. Outros interesses devem estar se interpondo entre os que governam e a maioria da população.
No ano passado, em 30 de junho, uma sessão da Comissão Regional de Uso da Costa divulgou documento recomendando a aprovação da concessão marítima ao projeto.  Dos 32 integrantes da comissão, 17 foram a favor e 15 contra, o que mostra que mesmo lá, a disputa foi apertada. Os que votaram contra eram os representantes populares dos municípios costeiros, os pescadores artesanais, os agricultores, a Universidade de Concepción e a Câmara de Turismo. Já os votos a favor vieram justamente das representações governamentais e da Armada. Ou seja: o governo ficou completamente surdo ao clamor da população. 
O professor Hugo Arancibia Farías, do Departamento de Oceanografia da Universidade de Concepción, que é integrante da Comissão Regional de Uso da Costa e foi um dos votos contrários, garante que todo o meio-ambiente será alterado em curto, médio e longo prazo. Ele rechaçou a alegação de que um terminal semelhante existe na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, e que não alterou a vida dos cariocas. Segundo ele não é possível comparar as duas baías: a da Guanabara é enorme e a de Concepción é pequena. Além de influir na paisagem, o terminal afetará a pesca, a agricultura e o turismo local. Sem contar no tremendo risco que é ter um gasoduto passando pela cidade. 
Nenhum argumento aprece fazer eco junto ao governo, muito menos os protestos e desejos da população. Tanto que, há poucos dias, a Comissão de Avaliação Ambiental da região de Biobío, aprovou – a portas fechadas – o polêmico projeto que agora leva o nome pomposo de GNL Penco-Lirquén de Biobiogenera (conhecido como Octopus). Foram 10 votos a favor e duas abstenções num reunião que contou com o firme protesto da população e com a ação violenta dos carabineiros. Com essa decisão, está cada vez mais consolidado o caminho para que comece a construção do terminal marítimo de gás na zona de Penco e Tomé, bem como a circulação de grandes navios para ao transporte. Também deverá integrar o complexo a construção de uma termoelétrica na comunidade de Bulnes, o que provocará também o desalojo de famílias e prejuízos à agricultura. 
A empresa Biogenera, responsável pelo terminal, tem feito uma agressiva campanha na mídia local alegando que o terminal abre um novo tempo de “energia limpa” na região. Já os estudiosos e ambientalistas insistem que ainda que o gás seja um combustível que provoca menos emissão de óxido de nitrogênio do que o petróleo  e o carvão, o seu uso contínuo pode sim se constituir num problema ambiental grave. 
É importante lembrar que o governo chileno também não realizou a consulta aos indígenas  – que igualmente serão prejudicados  – conforme exige o convênio 169 da OIT. O argumento das autoridades para não realizar a consulta tem sido o de que não serão gerados impactos ambientais significativos para os indígenas, coisa que é fortemente rechaçada pelas lideranças locais. “Os prejuízos serão grandes e afetarão a todos”. 
Mas, a decisão da Comissão Ambiental não será aceita pelos moradores, que prometem mais mobilizações e protestos contra o projeto. A luta ainda segue, e com força. 
Com informações de jornais e páginas chilenas

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