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A Última Etapa do Imperialismo é o Rechaço ao Seio da Mãe Gentil

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Por IELA em 20 de maio de 2022

A Última Etapa do Imperialismo é o Rechaço ao Seio da Mãe Gentil

Cena do filme Amacord, de Fellini

Ousadia de Nildo Domingos Ouriques ter escrito “Reflexão sobre a Ameaça Fascista: O Segredo de Bolsonaro”. É que o senso comum acadêmico, sem entender o conceito de fascismo, acaba usando-o a torto e a direito. O fascismo é o acontecimento, a par do stalinismo, de maior complexidade social e política do século XX. Embora não sejam simétricos, fascismo e stalinismo mantêm entre si determinadas correspondências, conforme mostrou Leon Trotsky. 
Ironizamos que não é toda segunda-feira que temos fascismo. Cuidado com as palavras que fazem os conceitos. Grossura, arbitrariedade, atentado à liberdade, censura, violência – isso não basta para caracterizar o que seja fascismo. 
A boçalidade de massa no capitalismo videofinanceiro é sem dúvida fascistóide; todavia, do ponto de vista político, para existir fascismo é preciso que haja ofensiva da classe operária organizada, tendo no horizonte a perspectiva da revolução socialista. Trotsky dizia que o fascismo tinha por objetivo destruir as organizações operárias, e que a vitória de Hitler na Alemanha foi preparada pela política stalinista do Kremlin, ainda que não se deva confundir fascismo com stalinismo. 
O contrário do fascismo não é o socialismo, e sim a democracia liberal, ou seja, o fascismo é a supressão das liberdades burguesas. Para o povo a palavra liberal denota um sujeito franco e generoso. O fascismo é um dispositivo que a burguesia lança mão para erradicar as conquistas da democracia liberal. Isso é o fascismo que medrou na Alemanha e na Itália durante a década de 30. Esses países, reparou Trotsky, eram sequiosos de colônias no Terceiro Mundo; daí o seu expansionismo, ao contrário do imperialismo democrático da Inglaterra e França que tinham colônias. 
A reflexão de Trotsky foi retomada na década de 40 por Ernest Mandel na Bélgica e Jorge Abelardo Ramos na Argentina e, recentemente, por Samir Amin e John Bellamy Foster. Não deslembrar do livro Fascismo ou Socialismo de Theotônio dos Santos na década de 70, quando o continente latino-americano estava sob uma ditadura milico-civil-multinacional. 
A análise de Trotsky foi feita em Prinkipo, Turquia, quando de seu exílio, distante do palco dos acontecimentos na Europa. Para existir fascismo é preciso que haja pequena burguesia enlouquecida. É célebre a frase: nem todo pequeno burguês se transforma em Hitler, mas há um Hitler em todo pequeno burguês enlouquecido. O temor do pequeno burguês em época de crise econômica se traduz no pânico de se ver rebaixado à condição operária ou sub-proletária. 
O fascismo atende aos interesses da burguesia financeira e não aos da pequena burguesia. Não resolve apelar à palavra “autoritarismo”, que foi usada de maneira astuciosa pelos sociólogos petucanos para ocultarem os interesses de classe. A Lava Jato de Harvard colocou Lula no xilindró para ser morto politicamente com o auxílio da TV Globo. O problema é que nessa orquestração surgiu Jair Bolsonaro que não estava nos cálculos e previsões do tucanato. Isso não quer dizer que haja incompatibilidade entre este e aquele. Na verdade em cada tucano há um Bolsonaro latente,  adormecido, enrustido. Surgiu súbito e inesperado, quase como um raio em um céu azul, e está sendo agora um candidato da classe dominante, referendado pela burguesia bandeirante, o latifúndio, os setores financeiros internacionais e os proprietários dos meios de comunicação de massa, sem deixar de mencionar o patriciado jurídico e os altos escalões da igreja. 
O economista de Jair Bolsonaro é Paulo Guedes, um Chicago boy que fez a cabeça genocida no Chile contra Salvador Allende, uma reduplicação intelectualmente piorada do entreguista Roberto Campos.
Recordo-me do cineasta Pier Paolo Pasolini que desde 1942 refletiu sobre o fascismo na Itália de Mussolini, que é a mistura da maldade com estupidez para salvar o capitalismo. Pasolini distinguiu o fascismo psicológico do fascismo histórico. É a opressão dos ricos e a reserva mental da burguesia. Valeu-se da expressão clérico-fascista, a aliança do Estado com a Igreja. 
Haja capitalismo inevitavelmente haverá o germe do fascismo. Da relação contraditória entre democracia liberal e fascismo não se deduza que este será suprimido definitivamente pelos democratas liberais. Somente o socialismo pode eliminar de vez o perigo do fascismo. 
A cor local do fascismo varia conforme sua latitude. Na Itália deu força para o legislativo em detrimento do judiciário, mas em outros contextos pode suceder o contrário, por exemplo, entre nós poderá acontecer uma hipertrofia do judiciário.
Infortúnio histórico seria o PT chegar de novo ao poder e passar a mão na cabeça dos inimigos do povo. O PT fofinho. O PT comovido com a Avenida Faria Lima. O PT que acredita ter superado a contradição entre capitalista e trabalhador assalariado. 
Trotsky comparou o líder fascista ao gangster Al Capone. Tal qual Bolsonaro, Mussolini e Hitler ganharam fama sem terem feito nada de extraordinário. Hitler exibia traços de monomania com sua “ideologia epiléptica”, enquanto Mussolini era uma fanfarronada cínica.
Em seu livro Empirismo Herético Pasolini sublinhou que a sociedade interclassista de massa permite juntar o manager com o proleta. Não se admire que Jair Bolsonaro seja curtido como herói em Wall Street e na Ilha da Maré. Nem chorar nem rir aconselhava Karl Marx citando Baruch Espinoza, mas compreender. A ofensiva reacionária é mundial. Já foi dito que o ocaso do capitalismo vai ser mais doloroso do que foi o seu início. 
O pai do Trump frequentava a Ku Klux Klan. O guri foi mimado vendo linchamento de negros. O seu guru é o Henry Kissinger que bombardeou o Camboja e sabotou o Pró-Álcool de Bautista Vidal. 
Da superestrutura videofinanceira surgiu o caubói Bolsonaro, o Mazzaropi da Barra da Tijuca. Visto pela psicanálise de Wilhelm Reich e da personalidade autoritária estudada por Theodor Adorno, Jair Bolsonaro é um badameco sádico-anal. Sua misoginia coloca em primeiro plano a conjunção do pênis com o ânus e a ojeriza ao órgão sexual feminino. O temor masculino de ser triturado pela vagina dentata, comido pelo útero vampiro, converte-se em programática política: “só para homens”, como dizia Oswald de Andrade.
Releva dizer que Jair Bolsonaro expressa um sentimento que parece estar generalizado na sociedade: o repúdio ao seio da mãe. A raiva contra a mãe reverbera na raiva contra a mulher em geral. Sem dúvida é um escândalo porque a mãe segura a sobrevivência da família pobre, e não apenas dando de mamar. É preciso fazer uma análise do caráter neurótico do homem brasileiro. A recusa do seio da mãe está conectada ao hábito da Coca-Cola, à macdonização do paladar ao adubo cancerígeno da Monsanto. 
Jair Bolsonaro é o protótipo da aberração gástrica de massa. Não estou a fim de psicologizara anomalia da crueldade: o problema não está em Bolsonaro, e sim nas coisas que o geraram. A sociedade brasileira está doente, assolada por um rentismo que corrói o corpo e a alma. Bolsonaro tem apoio da alta burguesia paulista e dos estamentos multinacionais. 
O rentismo está consubstanciado na Bíblia de Edir Macedo, o pastor dólar, o compadre atua afinado com o empresário Medina, o homem do Rock in Rio. Medina é comensal da TV Globo. Inexiste antítese entre Edir Macedo, o proprietário da Record, e a Marinho family. O ultra-imperialismo midiático é a fusão de rentistas na classe dominante.
Quanto mais miséria, mais igrejas. A expansão evangélica corresponde ao caráter rentista e especulativo do capitalismo monopolista. Todo fundador de Igreja, seja qual for, revive o São Paulo gestor, burocrata e empreendedor.
**Este artigo foi escrito antes de Jair Bolsonaro ter sido eleito presidente da República.   
 

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