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“Cuba pôs tudo à disposição deste processo de paz”

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Por IELA em 08 de dezembro de 2015

“Cuba pôs tudo à disposição deste processo de paz”

 

Rodrigo Granda – líder das FARC

As conversações de paz que decorrem em Havana entre as FARC e o governo colombiano já duram há mais de três anos. Todos os encargos com o apoio às delegações e a logística têm sido, no fundamental, assumidos pelo governo cubano. A generosidade internacionalista continua a ser um traço fundamental do povo cubano.
Entrevista a Rodrigo Granda, um dos membros do Estado-maior das FARC que encabeçam a delegação da organização guerrilheira que empreende um processo de diálogo com o governo da Colômbia. Granda fala sobre o papel de Cuba nestes diálogos.
– ¿Qual tem sido o papel de Cuba nestas negociações, que formalmente se iniciaram a 18 de Outubro de 2012?
– Tem sido extremamente importante, e também bastante desconhecido. Porque Cuba tem sempre estado presente desde que iniciámos os primeiros contactos com o governo colombiano. E, para além disso e desde há muito, Cuba tem participado na procura da paz para a Colômbia. No «Encontro exploratório», que demorou seis meses em Havana, antes de se oficializar nesse Outubro de 2012, Cuba proporcionou todas as facilidades de segurança, alojamento, transporte, comunicações, etecetera, em pleno plano de igualdade para ambas comissões negociadoras.
Por outro lado, quando se verificou alguma crise que pudesse pôr em perigo o processo, Cuba, juntamente com a Noruega, conseguiu com os seus bons ofícios ajudar a que se pudesse sair dela.É que Cuba pode assumir esse papel pelo grande peso moral e de respeitabilidade que tem no mundoNós, cada um dos guerrilheiros das FARC, temos uma grande gratidão para com Fidel, Raúl, o Partido e para com este povo que nos abriu todas as portas e nos faz sentir em casa.
– ¿Porque se envolveu Cuba neste processo que se pressentia difícil, tal como tem vindo a verificar-se?
– Cuba sempre tem sido uma defensora da paz no mundo. Cuba sabe que dentro do contexto latino-americano o conflito mais perigoso é o colombiano. Que, acabado este, se acaba outro pretexto ao império estado-unidense para intervenções e para desencadear guerras neste hemisfério. Não existem interesses mesquinhos. Cuba tem sido um país solidário com as causas do Terceiro mundo, e agora coube-nos a nós a honra de se ter interessado muito directamente na solução do conflito.
– ¿De onde vem essa grande quantidade de dinheiro que deve custar todo este processo, que já leva mais de três anos?
– Cuba paga tudo. Colocou tudo à disposição deste processo. E isto tem um valor incalculável sabendo que o povo cubano tem certas dificuldades económicas. Mas as refeições, o transporte, os locais de reunião, e inclusivamente muito mais do que era esperado: Tudo é pago pelo governo e o povo cubano, cuja generosidade para com este processo de paz não tem limites.
– ¿Os colombianos sabem deste tremendo esforço que Cuba faz para que num dia não distante a paz comece a caminhar?
– Não cremos que o povo colombiano na sua totalidade esteja informado, porque além do mais há uma manipulação mesquinha da informação, e fizeram-no acreditar que é o governo colombiano quem paga. Muitos continuam a pensar que a guerrilha está aqui a gastar o dinheiro deles aqui. Mas já lhe disse, e repito, que é Cuba quem suporta o encargo fundamental. Não se pode esquecer o papel destacadíssimo da Venezuela, que o presidente Chávez iniciou, um legado que o presidente Maduro retomou. Um apoio que tem sido de uma grande transparência e decisivo. Claro, também há coisas muito importantes em que a Noruega apoia, bem como a Cruz Vermelha Internacional. Desejaríamos que o governo francês se envolvesse no apoio a este processo, tanto mais que quando tivemos necessidades pontuais pudemos contar com ele.
– Pode pensar-se que este apoio tão crucial de Cuba ao processo de diálogo pode dar-lhe direito de se imiscuir dando opiniões ou pressionando a tomada de decisões.
– Cuba jamais se imiscuiu na mínima coisa. Pode estar completamente seguro disso. Tem sido extremamente respeitosa. Por vezes perguntamos-lhes a sua opinião sobre um tema, e eles dizem-nos que não opinam uma vez são um país garante, e querem que ambas as delegações se sintam sem pressões nem interesses particulares. Além disso as pessoas que nos acompanham neste processo são muito competentes, com muita experiencia. Existem muitos quadros destacados da revolução dedicados a tempo inteiro para ajudar a fazer avançar este processo.
*Rodrigo Granda, membro do Estado-maior das FARC na delegação de Paz da organização guerrilheira
 
 

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