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De qual Venezuela os venezuelanos sentem falta?

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Por IELA em 05 de março de 2019

De qual Venezuela os venezuelanos sentem falta?

Se há algo com o qual todos os venezuelanos e venezuelanas concordamos é no nosso desconforto com a situação atual. Ninguém está satisfeito com isso e todos acreditamos que merecemos e podemos ter uma vida / situação econômica melhor.
As discordâncias estão nos diagnósticos em torno de como chegamos à situação atual e as responsabilidades derivadas dela. E também, obviamente, sobre os modelos a seguir ou aplicar para transcendê-lo.
Com relação a este último, parte do debate foi consumido na comparação da situação atual com outros períodos. Então, as coisas, a partir da visão do lado da oposição, estavam indo muito bem, com a economia venezuelana caminhando na marcha perfeita … até que chegou o chavismo. E consequentemente, parte de sua narrativa é baseada no retorno da Venezuela aos tempos pré-Chávez, não apenas quando ela era supostamente mais rica e mais produtiva, mas também mais justa, equitativa, com menos pobreza e mais qualidade de vida.
Mas, o problema com essa narrativa é que ela se choca com a realidade dos indicadores. E não são indicadores “inventados” pelo chavismo, mas tomados dos dados oficiais de antes e depois da chegada de Hugo Chávez à presidência em 1999, bem como dados das organizações internacionais e regionais mais importantes, incluindo o FMI.
Naturalmente também é verdade que a realidade pós-2012 impõe cada vez mais reconfigurações na maneira de como avaliar o governo do chavismo. Mas, aqui temos de fazer uma pausa, porque embora haja a continuidade do chavismo no sentido estrito, de modo geral não há – e cada vez menos- na política económica e social que levou aos resultados bem sucedidos de 1999-2012, a era do melhor desempenho econômico e social do país.
Há todo um debate sobre as razões para a falta de continuidade da política econômica e social dentro do chavismo.
Certamente o contexto internacional mudou, os problemas estruturais eclodiram com força e sem dúvida a irresponsabilidade, quando não o comportamento criminoso das ações da oposição, desempenharam papéis estelares.
No entanto, não é menos verdade que entre 1999 e 2012 os problemas estruturais também surgiram com força (a crise financeira global de 2008, por exemplo). E o comportamento da oposição não foi necessariamente menos irresponsável durante a era de Chávez do que o atual, que incluiu dar-lhe um golpe de Estado e liderar uma dispendiosa sabotagem de petróleo.
De qualquer forma, vamos deixar para uma segunda parte o que se refere a esses pontos, ou seja, o que aconteceu depois de 2012, embora seja algo que eu tenho tocado repetidamente em outras partes. O que quero focar agora é responder à pergunta do título deste artigo: hoje, quando a situação econômica venezuelana está tão ruim, qual é a Venezuela que venezuelanos e venezuelanas sentem falta? Não é aquela onde os melhores padrões de vida de nossa história foram alcançados, e não para uma minoria privilegiada como nos anos 70, mas em termos gerais, isto é, para todos?
Sabendo que não se trata apenas de devolver o passado, mas encontrar pistas que nos guiem no presente para a construção do futuro, o trabalho que exponho a seguir é construído com cifras oficiais, tanto nacionais quanto internacionais, para explicar o período 1999-2012. Em virtude disso, nenhum dos gráficos chega até 2018.
Isso por duas razões: a primeira, a ordem metodológica, porque desde 2015 os dados oficiais não são publicados. E o segundo porque eu queria me concentrar no período de 1999-2012.
Mas, como você não pode analisar um período sem contraste com os outros, tomamos como ponto de partida os anos antes da chegada de Chávez à presidência, sobre os quais não apenas existe uma data oficial, mas também são muito produtivos na hora de comparar.
Entre outras coisas, não apenas porque a década que se passa entre 1989 e 1998 diz respeito aos últimos anos dos “puntofijismo”, como também é o período de aplicação das mesmas receitas ortodoxos e neoliberais (incluindo dois acordos com o FMI) que hoje se diz que devemos aplicar para sair da crise atual. Os resultados inúteis quando não desastrosos destas receitas são óbvios.
Em relação à era pós 2012, utilizamos os dados disponíveis até 2015. Acho que a única exceção é o primeiro gráfico referente à inflação, onde para 2016 usamos dados “filtrados” para a imprensa de um documento oficial do governo venezuelano dirigido à OPEP.
Em nenhum caso é sobre esconder o presente. De fato, trabalhamos com dados oficiais recorrentemente, como, por exemplo, os leitores podem consultar aqui.
Enfim, hoje (05.03) se cumprem seis anos do desaparecimento físico do presidente Hugo Chávez e, em sua homenagem, vale a pena revisitar o seu trabalho econômico e social, um legado poderoso que resiste a deturpações, manipulação e mesquinhez de todos os tipos.

 
Este mesmo exercício se pode fazer com outros tantos indicadores: emprego, saúde, educação, moradia, turismo, acesso à cultura, etc. Inclusive com outros mais polêmico como produtividade. Mas, deixemos até aqui para o debate e orientação nessas horas tão cruciais, mas também sobretudo hoje, cinco de março, em memória do presidente Chávez e seu legado.
 

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