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MAS vence na Bolívia

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Por IELA em 19 de outubro de 2020

MAS vence na Bolívia

O golpe de estado instituído na Bolívia em novembro do ano passado não resistiu à organização popular. Depois de diversas tentativas de se perpetuar no poder, forçada pelos movimentos de protesto que se levantaram em todo o país, a presidente golpista foi obrigada a encaminhar as eleições e, nas urnas, a população boliviana deixou bem claro quem ela quer ver governando: o Movimento Al Socialismo. Apesar de todo o teatro realizado com tanques e soldados armados nas ruas e nos locais de votação, a paciência atávica da gente boliviana não se deixou intimidar. Acorreu às urnas de maneira massiva e deu sua resposta ao golpe. Todas as pesquisas apontam Luis Arce e David Choquehuanca com mais de 50% dos votos – o jornal La Época dá 54% – o que lhe garante a vitória em primeiro turno. Resta agora saber como vão agir as forças golpistas. A presidente Jeanine Áñez já reconheceu a vitória.
Luis Arce acompanhou o resultado das pesquisas rodeado de dirigentes sociais e acredita que não há qualquer possibilidade de os golpistas mudarem o resultado sem que isso apareça como uma fraude retumbante. ““Vamos governar para todos os bolivianos, vamos construir um governo de unidade nacional, vamos construir a unidadE em nosso país, em toda esta jornada estamos recuperando as certezas. Vamos reconduzir nosso processo de mudança, sem ódio, defendendo os acertos e superando nossos erros”.
As palavras de Arce apontam para a tentativa de uma superação pacífica do curto mas violento episódio do golpe, mas nada garante que as coisas vão seguir tranquilas na Bolívia. Carlos Mesa, que representa uma boa parte da oligarquia, fez cerca de 31% dos votos, uma expressão importante da população e Luis Camacho, o golpista fundamentalista aparece com 14% que não devem ser desprezados, porque contam com o apoio das Forças Armadas e dos Estados Unidos. 
O golpe na Bolívia se deu a partir de mentiras acerca das últimas eleições quando a OEA acusou Evo Morales de ter fraudado o processo. A pressão foi grande porque Evo insistira em concorrer apesar de um plebiscito ter apontado que os bolivianos queriam mudanças. Ainda assim, a Justiça entendeu que a dupla Evo-Linera poderia se candidatar e tudo isso acabou gerando o caldo para que a direita agisse. O golpe veio com todos os ingredientes de uma quartelada: exército nas ruas, invasão do palácio por fanáticos armados de Bíblias e a escolha de uma desconhecida do baixo clero para governar. A velha Bolívia racista e oligárquica retomava os fios do comando. Com a fuga de Evo Morales e García Linera, a população ficou por algum tempo desorientada, mas, como tem sido histórico na Bolívia, em pouco tempos os movimentos sociais, sindicatos e organizações mineiras foram tomando a frente da resistência. Os protestos começaram tímidos, porque as forças do golpe também estavam fortes, realizando sequestros, assassinatos, intimidações, provocando humilhações públicas de integrantes do governo masista. 
Com o passar do tempo, a presidente golpista foi adiando as prometidas eleições, o que foi também esquentado a chapa. Veio a pandemia e nada de eleições. De novo, os trabalhadores e lutadores sociais de todas as cores foram se organizando, realizando protestos e exigindo as eleições. Conforme a presidente titubeava, os protestos cresciam até que ganharam quase todas as regiões do país com marchas e fechamento de estradas. Estava pavimentado o caminho para a virada. Sem saída, Jeanine teve de garantir as eleições e o movimento pela candidatura de Luis e David só cresceu enquanto as figuras bizarras do golpe, como Camacho, iam perdendo força. Seguiu firme Carlos Mesa porque afinal há uma elite bem articulada no país.
Mas, a votação de ontem já mostrou que o azul e branco – cores da campanha do MAS – era maioria. Tranquilamente as gentes foram saindo de casa, apesar do número de militares nas ruas e da intimidação nos lugares de votação, e, silenciosamente, foram enfrentando as filas para votar. O governo do MAS, apesar de alguns equívocos, naturais de quem não consegue romper com a dependência, deu nova vida aos bolivianos mais empobrecidos. Deu dignidade aos povos originários, garantiu crescimento econômico e tirou a Bolívia do mapa da fome. Os trabalhadores não esqueceram. Por fim, se depois do plebiscito Evo e Linera tivessem atuado no sentido de uma sucessão talvez não tivessem vivido o golpe. Mas, isso agora é especulação. Para além dos erros internos, o golpe tem tudo a ver com as riquezas do país, que o imperialismo estadunidense não quer ver na mão dos trabalhadores. Não bastasse o Lítio, que é estratégico para a produção das novas tecnologias, a Bolívia ainda tem o gás e a prata. É um celeiro de riquezas. 
Agora é esperar o resultado oficial, que deve demorar uns cinco dias. 
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