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Quatro anos sem Chávez

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Por IELA em 05 de março de 2017

Quatro anos sem Chávez

Ele poderia ser tudo de ruim nessa América baixa: milico, nacionalista, populista. Exemplos já vivenciados, com grotescos resultados. O corpo grandalhão, a voz tonitruante, o enfrentamento sem papas na língua com o império. Típico de um bravateiro. Mais um dos tantos que já passaram por “Nuestra América”. Assim, melhor era colocar as barbas de molho. Mas, o tempo foi passando e o milico, outrora golpista, foi se constituindo um dirigente capaz. O exército, que poderia existir para massacrar o povo, começou a atuar no trabalho comunitário. Criaram-se as missões, para as quais as pessoas foram chamadas a participar. E a Venezuela, que desde a derrota de Bolívar vinha sendo governada por predadores das riquezas do povo, começou a se levantar.  Aos poucos, aqueles que sempre tinham vivido como párias, foram se enchendo de dignidade. Dirigiam o que começou a ser chamada de “revolução bolivariana”, porque Chávez chamara para si o discurso do velho libertador, Simón. A Pátria Grande começava a andar através da Venezuela, outra vez soberana.
Foram 14 anos com Chávez. Um tempo bom. Chamado de ditador, ele foi talvez o dirigente que mais passou pelo crivo do voto popular. Nenhum outro no mundo. Eleito presidente, ele prometeu uma nova Constituição. Chamou o povo para escrevê-la, depois a colocou em plebiscito. Venceu. Com a nova Constituição colocou-se então à disposição de outra eleição, já submetido à nova carta. Venceu. E assim foi. A oposição tentou um golpe. O povo foi às ruas e o resgatou. Depois, a oposição chegou a conseguir as assinaturas pedindo a revocatória, a destituição do presidente. E isso é possível num país que agora tem como poder máximo o poder popular. Chávez submeteu-se outra vez à eleição. Venceu. Eleito três vezes presidente pelo voto da maioria das gentes. E ainda assim, os inimigos insistindo em chamá-lo de “totalitário”. 
Pois o “totalitário” governou com transparência, com liberdade, respeitando as leis burguesas. Não fez uma revolução armada, não aplastou os inimigos. Pelo contrário. Eles lá estão, na Venezuela, tramando dia e noite, na claridão do dia. Nunca foram molestados. Contra eles apenas a lei, a mesma lei que eles próprios fizeram. Só que para a direita que sempre comandou a Venezuela, a lei só valia quando fosse para seu bem. Quando uma empresa de comunicação perdeu a outorga por não cumprir a lei, andou por aí a denunciar: “censura, censura”. Mais uma vez a má-fé. Mas, o povo atravessou tudo com força e participação. E o milico serviu às gentes, o nacionalismo caminhou para a soberania e o populismo foi hegemonizado pelos trabalhadores. 
A Venezuela nova, popular, nacional, soberana ensinou sobre generosidade e integração. Derrotou a Alca, proposta estadunidense de nova colonização, criou a Petro Caribe, com a qual começou a distribuir equitativamente o petróleo, ajudando as pequenas nações da América Central e do Caribe, criou a Telesur, uma televisão latino-americana, o Banco do Sul, outra proposta de crédito às nações que ainda amargam a dependência. O país era como uma locomotiva novidadeira, derrotando o império, abrindo novos caminhos, espalhando a solidariedade de classe. E, devagar, porque afinal foram séculos de exploração e miséria, foi reconduzindo as gentes para a vida digna, na qual a participação era a pedra de toque.
Na Venezuela de agora são as pessoas que decidem as coisas. Na luta de classes diária. No enfrentamento cotidiano com a oposição. Vencendo dia-a-dia um leão. Chávez era o condutor. nem herói, nem pai, nem mito, nem nada. Um homem, nada mais, um companheiro. Um homem que caminhava com sua gente em busca de um esperado “meio-dia”.
Pois agora já se vão quatro anos da morte daquele que foi o condutor de um novo “trem” latino-americano. E há quem ainda o chore. Mas, chorar por ele não é, como dizem alguns, mitificá-lo de forma personalista. Chorar por Chávez é chorar pela ausência desse homem que, com tanta valentia, empreendeu a virada latino-americana. Um momento único na história desse continente. Nunca jamais vivido, a não ser nos sonhos de Martí, Sandino ou Bolívar. Por isso ele merece essa reverência, com todas as suas contradições.
A morte de Chávez agora já não importa. Foi-se o homem, frágil, sua casca corporal. Ficam as ideias, os sonhos, as esperanças e, sobretudo, as concretudes, as coisas feitas, definidas, assentadas. O comandante tinha suas contradições, seus arroubos, mas, ninguém pode negar, fez pela América Latina o que ninguém jamais fez ao recuperar esse sentido de união, de integração, de fortaleza e soberania. Só isso já valeria sua passagem breve por esse mundo. Mas, ele fez mais. Educador, amigo, dirigente seguro, articulador, generoso, ardente, apaixonado. Tudo isso fazia dele uma figura de destaque no processo dessa nova América Latina que se conforma lentamente.
Passe o tempo que passar, a lembrança do comandante não se apaga. Chávez vive!
 

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