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Glauber, Getúlio, Goulart, Darcy, Brizola

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Por Gilberto Felisberto Vasconcellos em 26 de maio de 2023

Glauber, Getúlio, Goulart, Darcy, Brizola
Foto retirada do documentário de Silvio Tendler
O trabalhismo getulista insere-se no campo cultural e artístico de 1954 a 1964, o cinema novo nasce por essa época entre Salvador e Rio de Janeiro. O biógrafo João Carlos Teixeira Gomes: no dia em que Getúlio Vargas suicidou-se, Glauber Rocha aos 15 anos o pranteou na praça da Sé em Salvador.
Dentre todos os cineastas brasileiros Glauber Rocha é o mais getuliano. Declarou: “sou janguista”. Jango, o filho espiritual de Getúlio. Jango Uma Tragédia chama-se a sua peça de teatro. Em Jangarana, alusivo ao Sagarana de João Guimarães Rosa (o paralelo boiadeiro Rosa e Jango) Glauber Rocha ficou injuriado com os ataques vindos de todos os lados. Identificando-se com ele: Jango c’est moi.
Terra em Transe,1967, a queda de João Goulart é o ponto de partida para se pensar as contradições entre a civilização e a natureza no Brasil. A vitalidade da natureza dos trópicos estava em seu primeiro filme Pátio. Irá ressurgir em A Idade da Terra, no qual um samba cantado por Jamelão enaltece a figura do doutor Getúlio. O golpe imperialista em 1964 foi anti-ecológico, a nação afastou-se da natureza, a história separou-se da geografia. Em seu filme Cabeças Cortadas o Brasil é gerado em uma sociedade de senhores e de escravos; mais tarde esses senhores se aliam à cobiça imperialista, defendida pelos lacaios Juarez Távora, Eugenio Gudin, Roberto Campos e Magalhães Pinto.
A briga cinematográfica de Glauber Rocha com o censor Carlos Lacerda antecipará o golpe de 64. A censura de Carlos Lacerda ao filme Deus e o Diabo na Terra do Sol é o reflexo da UDN pró-EUA. Carlos Lacerda inimigo da Petrobras getuliana, ele é o mercenário Antônio das Mortes no filme O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, ainda que para isso não seja relevante estipendiar o quanto o ex-governador da Guanabara levou de propina da Standard Oil.
Glauber Rocha focalizou o desencontro entre getulistas e marxistas em 1954, o povo queria incendiar simultaneamente os jornais Globo de Roberto Marinho e A Classe Operária do partido comunista. Há um nexo entre a comunicação de massa e a história política, não só pela direita (Carlos Lacerda) como pela esquerda com o Samuel Weiner “rooseveltiano”, segundo o cineasta.
Entrevistada em 2005, Denise Goulart, filha do ex-presidente conta que durante o exílio no Uruguay o general Assis Brasil que tinha por insurgência segurar o esquema militar do governo deposto, fez uma visita a João Goulart e acabou sendo esbofeteado por dona Maria Tereza Goulart. Brm feito.
O MDB, depois PMDB do doutor Ulysses, queria que João Goulart e Leonel Brizola tivessem morrido no exílio.
Um aspecto de todos os exilados em 1964 Jango foi o único que não conseguiu voltar. O potiguar Djalma Maranhão também morreu de saudade no exílio de Montevidéu.
Denise evoca o dia da reconciliação, pouco antes de seu pai morrer, com Leonel Brizola. Uruguai, 1976. Eu ouvi em Montevidéu que Jango chegou inesperadamente na casa de Leonel Brizola, convidado por Neusa Goulart. Ao perceber o lance, Brizola trancou-se dentro do quanto, não queria falar com o cunhado.
D. Neusa: – Leonel, Janguinho está aqui.
Depois de alguns minutos ele sai do quarto e abraça e beija Jango. Pareciam dois namoradinhos. Assim é que se reconciliavam os velhos gaúchos.

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