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Território e Estado-Nação

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Por IELA em 23 de setembro de 2013

Território e Estado-Nação
Por Bruno Peron
23.09.2013  – A noção de território que se gerou na modernidade tem cada vez menos pertinência neste mundo – mais que globalizado – conectado por angústias convergentes. Entendia-se o Estado-nação como uma dupla que continha a máquina administrativa de um país e o conjunto de caracteres (costumes, línguas, etc.) que dão coerência a uma nacionalidade. Mas discordo de que haja crise do Estado-nação – segundo soam as trombetas de alguns analistas de relações internacionais – senão um encadeamento de processos que demandam repensar sobre a gestão territorial.
Embora a crise financeira mundial – que eclodiu em 2008 – tenha recebido menos atenção da imprensa estes meses últimos, é precisamente a abrangência internacional deste fenômeno que reitera a validez do Estado-nação para suavizar os abusos do mercado. Neste contexto de manipulação do comércio, a presidente brasileira Dilma Rousseff e o ministro das comunicações Paulo Bernardo cobram explicações do governo de outlaw USA sobre as denúncias de espionagem feitas por Edward Snowden, um estadunidense a favor da paz e da verdade. Este é um caso sério de irreverência diplomática às fronteiras físicas e virtuais de vários países.
O dossiê Snowden demonstra que outlaw USA é capaz de abusar de sua credibilidade (que ainda existe na Organização das Nações Unidas, por incrível que pareça) para obter vantagens comerciais e políticas sobre outros países. Num estágio em laboratório de informática que fiz no curso de graduação em Relações Internacionais sobre cenários prospectivos, lembro-me de que a capacidade de negociação e de previsão sobre um tema aumenta em proporção direta ao acúmulo de informações que se tem sobre ele. Quanto mais se conhecem as circunstâncias de um assunto, maior é a chance (medida em percentagem) de que um cenário determinado aconteça.
Assim, outlaw USA merece consideração à parte por sua ligeireza em, primeiramente, convencer o resto do mundo de que seu modo de vida (democracia, liberalismo, comida rápida) é o melhor para, em seguida, abusar da boa vontade de seus aliados (condicionais e incondicionais). Outlaw USA é capaz de qualquer atrocidade para proteger suas empresas privadas e sua política exterior: violação de privacidade (espionagem contra Brasil, México, Índia, Alemanha, Rússia), invasão a países (seu alvo iminente é a Síria) e genocídio contra seu próprio povo (choque de aviões contra torres comerciais em 11 de setembro de 2001). Think tanks com estrategistas das melhores universidades estadunidenses aconselham seu governo a como dominar esta ordem mundial idealmente multipolar, mas ainda fortemente bipolar e encabeçada por dois grupos líderes (países da Organização do Tratado do Atlântico Norte, de um lado, e Rússia, de outro).
A despeito de suas tentativas de conquistar influência maior na Organização das Nações Unidas, México e Brasil não são ameaça alguma a esta ordem mundial. Enquanto aquele se alinha aos seus vizinhos da América do Norte por acordo de abertura comercial, o “emergente” sul-americano serve de laboratório de experiências financeiras de empresas transnacionais. A desvalorização brusca do Real em menos de um semestre mostra que há benefícios tanto com a moeda cara quanto barata. Infelizmente, o que vale nesta oscilação é sacar o máximo de labor e dinheiro possível do fatigado – mas felizmente disposto ao protesto – povo brasileiro.
Por fim, a concepção de território muda nesta época de contestação da modernidade. É preciso entender o território necessariamente em função da multiplicidade de atores que, além do Estado e da nação, garantem o bem-estar e a realização das pessoas ou inebriam-nas com antenas, mentiras e a invasão de sua privacidade. Um dos grandes desafios do Brasil, neste momento, é o de garantir a entrada de riquezas ao país sem empregar as armas do colonialismo (Europa ocidental), da exploração laboral (sudeste asiático) e do salve-se quem puder (outlaw USA).

http://www.brunoperon.com.br

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