1º de dezembro: Aniversário da Abolição do Exército na Costa Rica
Texto: Rafael Cuevas Molina - Presidente AUNA-Costa Rica
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Por Rafael Cuevas Molina - Presidente AUNA-Costa Rica em 01 de dezembro de 2025
Imagem icônica: José Figueres Ferrer golpeia com um martelo o muro do Quartel Bellavista (atual Museu Nacional), em 1 de dezembro de 1948. Foto: Mario Roa
Este aniversário da abolição do exército na Costa Rica, em 2025, encontra o país em um momento sem precedentes em sua história recente: muitos dos símbolos que definem sua identidade nacional, como a abolição do exército em 1º de dezembro de 1949, que alude à sua vocação pacifista, estão perdendo o significado.
Junto com isso, outros símbolos, como o de ser um país que prioriza e se orgulha de sua educação extensa e de alta qualidade, que lhe rendeu a reputação de nação culta e atraiu investimento estrangeiro direto de empresas que necessitam de mão de obra altamente qualificada, não encontrada em todos os países da região. Ou o símbolo de ser um país seguro, onde “nada jamais aconteceu”, em um contexto regional de violência. Ou o símbolo de ser um país verde, que se posicionou internacionalmente a tal ponto que se tornou um modelo para o ecoturismo.
Poderíamos continuar listando os marcos simbólicos erguidos sobre uma base sólida, fruto de anos de promoção do que se chamava de modelo de desenvolvimento costarriquenho, ou “desenvolvimento à moda costarriquenha”, que permitiu a criação de um estado de bem-estar social. Esses marcos estão agora sendo esvaziados pelo que poderíamos chamar de novo perfil do país.
Esse novo perfil emergiu especialmente nos últimos quatro anos, sob a presidência de Rodrigo Chaves Robles, um político completamente diferente de todos os que ocuparam a presidência até então. Ele é um típico populista de direita, caracterizado por sua retórica escatológica com a qual denigre, usando os insultos mais baixos, qualquer um que identifique como opositor de seu governo.
Ele próprio, com essas características, tornou-se mais um elemento dessa nova paisagem política da Costa Rica contemporânea, na qual os marcos simbólicos tradicionais da identidade costarriquenha estão se transformando, perdendo seu significado, em ritmo acelerado.
Essa situação, que parece ter surgido nos últimos quatro anos, é, no entanto, apenas o culminar de um processo que vem se desenvolvendo desde a década de 1980, quando começou o abandono do Estado de bem-estar social em favor do modelo neoliberal. Desde então, lenta mas seguramente, a Costa Rica vem se transformando gradualmente.
Sem dúvida, a mudança mais significativa foi o surgimento e o aprofundamento da desigualdade social, que colocou o país entre os dez mais desiguais do mundo. Esse processo se acelerou durante o mandato presidencial anterior, o de Carlos Alvarado (2018-2022), e culminou no de Rodrigo Chaves (2022-2026). O país que existe hoje — violento, com um sistema educacional falho em todas as áreas e uma política ambiental pressionada pelos interesses das grandes empresas — é o resultado de uma longa e complexa história.
A frustração e a raiva de amplos setores da população com essa situação são evidentes e encontraram vazão na figura controversa e vulgar do atual presidente. Eles se sentem representados pelos insultos e comentários depreciativos que ele profere a torto e a direito em suas coletivas de imprensa, onde não se furta a usar linguagem vulgar ou ataques pessoais contra seus oponentes políticos.
A rejeição que sua figura gera em certos setores sociais é tão profunda que desvia a atenção das causas centrais de onde surge: trata-se da expressão radical do modelo neoliberal, que busca erradicar tudo o que se opõe ou é percebido como obstáculo à realização do capital nacional ou transnacional.
No caso da próxima comemoração da abolição do exército, ela se encontra, como já mencionamos, em um país muito violento, onde emergem grupos paramilitares que ameaçam usar armas caso seu líder, o presidente Chávez, sofra qualquer revés, real ou imaginário, em seu governo.
É, portanto, uma comemoração que se encontra em um momento em que seu significado é enfatizado e corroído, como produto de um período de transformações aceleradas que abrem um futuro incerto.
Texto: Rafael Cuevas Molina - Presidente AUNA-Costa Rica
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