História e Pensamento Militar
Texto: IELA
Aguarde, carregando...
Depois que tudo passa, a vida vai voltando – Foto: Reuters
Quando começa o mês de junho começa também a temporada de furacões na região do Caribe, México e Estados Unidos. É um fenômeno já bastante conhecido e se repete ano após ano. Ainda assim, em praticamente todos os países, o que se vê é gente desalojada e mortes, muitas mortes. Apenas um único país conseguiu desenvolver um sistema de proteção de sua gente que é exemplo no mundo: Cuba. Lá, apesar da violência dos furacões, tufões e tempestades, poucos casos de morte são registrados e quando ocorrem é quase sempre por alguma imprudência individual.
Em Cuba, a Defesa Civil, que foi criada em 1962, é uma grande estrutura que tem seu centro na direção nacional do país, mas se espraia por todos os municípios e em cada comunidade. Cada bairro tem uma equipe qualificada e preparada para enfrentar não apenas os furacões, mas também as chuvas quando são muito volumosas.
Para se ter uma ideia só neste século passaram pela ilha 28 furacões e tormentas tropicais com o registro de apenas 42 mortes, ainda que os danos materiais sejam sempre muito elevados, com os ventos derrubando casas e destruindo plantações.
Mas, para o governo cubano a prioridade são as vidas, a proteção da população. Então, tão logo a previsão anuncia a chegada de um ciclone, ou furacão ou chuvas volumosas, os dirigentes nacionais, provinciais, municipais e comunitários se preparam para o enfrentamento. Eles tiram do armário os seus uniformes de guerra e passam a comandar uma espécie de pequeno exército que vai preparar as comunidades para a chegada do evento climático.
A primeira fase do processo é a informativa, quando todos os meios de comunicação dedicam bastante espaço nas mídias para manter a população a par do caminho dos ventos. Quando a meteorologia já tem claro que o furacão vai passar ou as chuvas vão cair em grande volume, vem a fase de alerta, quando os territórios que serão afetados começam a se preparar. Em seguida, vem a fase de alarme, quando então começa a evacuação das pessoas que vivem nas regiões que serão atingidas. Elas são encaminhadas para lugares seguros que podem ser centros comunitários ou mesmo a casas de vizinhos. Inclusive podem levar alguns de seus bens mais necessários.
Essa fase de alarme pode significar mover entre 600 mil a um milhão e meio de pessoas. Olhando assim pode parecer uma operação quase impossível, mas não é. Em alguns casos, as famílias andam algumas quadras e já são recebidas por vizinhos que ficam fora do caminho do desastre.
Tudo é muito azeitado e funciona com precisão de relógio suíço. Não se trata de resolver as coisas na hora da tormenta, tudo já está preparado desde sempre. Cada família sabe para onde ir e as casas que recebem os que estão no caminho dos furacões se transformam em uma espécie de acampamento. Quando não há casas particulares suficientes para abrigar as famílias elas ocupam escolas, cinemas, casa de cultura, qualquer prédio público que esteja fora da zona de perigo. E quando chegam nestes lugares tudo já está preparado com água, alimento, colchões e atenção médica.
Nesse período o pessoal da defesa civil pode utilizar tudo o que tiver ao alcance no território, ônibus, máquinas, caminhões, e isso não apenas coisas públicas, mas também particulares. É o que permite a retirada imediata das famílias de maneira coletiva, ordenada e rápida. Poucas pessoas se recusam a sair de suas casas nesses momentos e, caso aconteça, as autoridades têm a prerrogativa de retirá-los. Os grupos da Defesa Civil são formados por pessoas comuns, que vivem nas comunidades e são elas que organizam tudo, inclusive a retirada das famílias. Tudo se move num frenesi, mas cada pessoa sabe qual a função que deve cumprir.
Assim como a defesa da vida, a recuperação também é rápida e organizada. Bem antes do furacão passar já são definidas as equipes de reparos e as brigadas que virão de outras regiões para devolver a eletricidade e reparar as casas. Conforme o governo cubano, o êxito dessas jornadas de proteção está no fato de o país não pensar no prejuízo que será parar empresas, transportar milhares de pessoas, garantir alimento e parar economicamente a ilha. “Nosso objetivo é garantir a proteção das pessoas”. Pessoas que trabalham em áreas estratégicas, como a saúde, por exemplo, podem ficar nos hospitais e postos de saúde durante os ventos porque sabem que alguém haverá de estar cuidando de sua família. Não fica uma casa sem ser vistoriada ou uma família sem abrigo.
O exemplo de Cuba é extremamente importante para mostrar ao mundo que os chamados desastres naturais não podem mais ser usados como desculpa para as inúmeras tragédias que vivem as populações. Tivemos aqui no Brasil momentos como em esses em Petrópolis e agora no estado de Pernambuco. Quando dezenas de pessoas perderam a vida justamente porque não há um plano de proteção para as famílias que vivem em áreas de risco. O sistema de previsão do tempo tem sido cada dia mais eficaz, então os governos sabem de antemão quando vai acontecer um fenômeno que pode impactar a vida. Mas, ainda assim, não há qualquer esquema organizado previamente para garantir que ninguém perca sua vida.
É claro que Cuba é um país que, por conta de uma revolução popular vitoriosa em 1959, tem no seu DNA a lógica do bem comum, assim, a eficiência das respostas diante dos desastres têm a ver com isso, com uma articulação comunitária que está amparada no social, no econômico e no ideológico. O que orienta o trabalho é a vida e não o custo que vai ser cuidar das famílias durante os fenômenos climáticos.
A vida nessa ilha do Caribe vai se fazendo sempre no sentido de tornar a existência cada vez mais segura. A cada ano e a cada furacão, novas propostas vão surgindo inclusive a introdução de árvores que sejam mais resistentes aos ventos. Ou seja, o governo pensa sempre na prevenção.
A questão que se coloca é: seria possível um esquema desses, de proteção da vida, no mundo capitalista? Haveria um governo capaz de organizar uma defesa civil comunitária, afeita a solidariedade e a cooperação? Seriam capazes as empresas privadas de disponibilizarem seus recursos para proteger a vida dos moradores dos morros, das encostas, das beiras de rio? Estariam dispostos a parar tudo até que o problema fosse contornado?
Nós que vivemos a pandemia sob o governo Bolsonaro, quando a economia foi usada como bandeira para que as pessoas saíssem de casa, enfrentassem os ônibus lotados, e fossem trabalhar, sabemos muito bem que isso parece ser uma coisa impossível. São mais de 600 mil mortos, fruto do descaso e da preocupação primeira com o andar da economia.
No sul do Brasil têm sido cada vez mais frequentes fenômenos como tufões, ciclones e até furacões, coisa que era desconhecida por aqui. E todos os anos, milhares de pessoas vivem o terror de ver passar os ventos, sem qualquer outra prevenção que não a de ficar em casa, esperando.
É obvio que um esquema como o cubano não acontece de um dia para o outro. Lá são 60 anos de prática e eles são capazes de mover mais de um milhão e meio de pessoas em um dia. Tudo fruto de uma política de vida que se ampara no modo socialista de ser.
Vai daí que no mundo capitalista algo assim parece mesmo ser impossível. Pois aqui a dita economia vem em primeiro lugar. Pensem que empresas e políticos há, que enriquecem quando chegam os desastres. Tudo vira lucro. Inclusive a dor e morte das gentes.
****
Com informações do Granma
Texto: IELA
Texto: Davi Antunes da Luz
Texto: Lauro Mattei - Professor/UFSC
Texto: João Gaspar/ IELA