História e Pensamento Militar
Texto: IELA
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Quando os espanhóis chegaram às terras de Abya Yala, então desconhecidas por eles, em 1492, pensaram estar nas Índias. E os que aqui viviam os receberam sem medo. Mas, o processo de violência desencadeado pelos homens brancos imediatamente provocou a luta e a resistência. O primeiro a perceber que entre os homens de Cristóvão Colombo não havia qualquer possibilidade de diálogo foi um membro da etnia Taíno, Hatuey. Ele remou de Dominica até Cuba para avisar as demais comunidades sobre a tragédia que se avizinhava com as caravelas. Foi capturado depois pelos espanhóis e martirizado. Mas seu exemplo permaneceu na memória do seu povo.
Por conta disso, tempos depois, outro cacique taíno se rebelou contra os espanhóis, que imprimiam a dura experiência da “encomienda”, obrigando os indígenas a trabalhar como escravos nas fazendas. A revolta foi liderada por Guarocuya, chamado também de Enriquillo, visto que fora educado pelos jesuítas. Os confrontes duraram de 1519 a 1533 e foi a mais longa resistência no período pós-invasão.
Quem registrou a luta de Guarocuya foi o frei Bartolomé de las Casas, que chegou a ser um de seus mentores no mosteiro onde o garoto indígena se criou. Conta a história que o pai de Guarocuya foi assassinado num massacre realizado pelos espanhóis durante uma conversação. Com ele pereceram outros oitenta chefes regionais. A casa onde eles estavam reunidos, que pertencia a tia de Guarocuya, foi incendiada e não sobrou ninguém. O garoto foi criado pelos padres na cidade de Santo Domingo, por isso ganhou o nome cristão, Enrique.
Tratado como filho por um espanhol, teve a mulher violentada pelo filho legítimo desse nobre, que queria mostrar aos taínos que Enrique nada mais era do que um escravo, apesar da educação espanhola. Buscando justiça nos tribunais e não encontrando, Enrique decidiu subir a serra e começar uma revolta.
Na época ele era chamado de Enriquillo, alguns dizem que por sua baixa estatura, e começou a juntar gente na serra de Bahoruco, atuando com táticas de guerrilha. Por conta do conhecimento profundo sobre a região, os indígenas conseguiram estender a luta por vários anos obrigando os espanhóis a negociar. A longa duração da luta, os incêndios e os ataques constantes dos indígenas apareciam como um grande risco, visto que já havia na ilha muitos negros escravizados. Os espanhóis não apenas gastaram uma fortuna combatendo o cacique taíno, como temiam que o exemplo dos indígenas se espalhasse. Naqueles dias, depois de 14 anos de batalhas, eles conseguiram um acordo para encerrar os conflitos.
Enriquillo exigiu a liberdade para todo o povo taíno que seguia vivendo como escravo, a eliminação da “encomienda”, o não pagamento de impostos à coroa e um território liberado onde o seu povo pudesse viver. Foi uma vitória extraordinária naqueles dias em que os espanhóis subjugavam toda a gente.
Enrique viveu até os 40 anos de idade, morrendo poucos anos depois do acordo, vítima de doença dos brancos, a tuberculose. Depois de sua morte, os espanhóis, para evitar que seu túmulo virasse um lugar de peregrinação e memória, construiram sobre o lugar uma igreja.
Hoje, Enriquillo é lembrado como um herói na República Dominicana e tem até um dia consagrado a ele, o 27 de setembro, chamado de Dia do Herói de Bahoruco. Seu nome é cantado por todo o Caribe como o grande cacique que dobrou os espanhóis e seu exemplo é sendero de muitas batalhas. Afinal, a luta dos povos originários segue em todo o continente, visto que a garantia de liberdade e território ainda não se cumpriu.
Texto: IELA
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Texto: João Gaspar/ IELA