Operação Águia – Aliança para o Progresso (E 10)
Texto: Camila Feix Vidal - IELA
Aguarde, carregando...
CRÍTICA À RAZÃO ACADÊMICA E A FUNÇÃO DE UMA REITORIA
Por Waldir Rampinelli – professor da UFSC
04.10.2011 – A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) completou, em 2010, 50 anos de existência. Muita festa, muita medalha, muito coquetel e a publicação de um livro oficial marcaram o evento ao longo dos dois semestres. Lógico que é bom comemorar. No entanto, uma instituição pública tem por obrigação avaliar a sua história dentro de uma perspectiva crítica para poder avançar mais e melhor servir a sua população.
A UFSC poderia, neste seu aniversário, analisar a sua democracia interna e reestruturar os seus colegiados criando uma paridade maior entre docentes, estudantes e técnico-administrativos; debater os rumos da pós-graduação quer na produção da ciência e do conhecimento e sua conseqüência social quer na ingerência externa da Capes e CNPq que mais se preocupam com prazos rígidos que com qualidade reconhecida; estabelecer metas claras e objetivas para as suas fundações de apoio para que elas cooperem com todas as áreas da universidade e não apenas com aquelas que lhe são afins; discutir a função dos movimentos estudantil, docente e dos técnico-administrativos e seu trabalho no aprimoramento da universidade pública, gratuita e de qualidade; enfim, jamais permitir o sacrifício da liberdade dentro de uma instituição que deve ser crítica, acadêmica, política e intelectual.
A função do Reitor – o cargo maior – deveria ser repensada em profundidade. Na verdade, o Reitor precisaria se dar conta de que a universidade faz parte da realidade de um país de Terceiro Mundo ou de capitalismo periférico e, portanto, necessitaria conhecer muito bem a política internacional e a inserção da sua região no conjunto das nações para estabelecer diretrizes básicas no ensino, propor objetivos estratégicos na pesquisa e encaminhar soluções na extensão.
Em segundo lugar, o reitor deveria saber das carências de sua região e estar inteiramente voltado para o seu desenvolvimento, tendo a clara visão de que os recursos públicos devem reverter em favor de suas populações que sustentam, com seus impostos, a própria universidade. José Narro Robles, reitor da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), afirmou categoricamente que para a universidade pública “já não é suficiente gerar e transmitir conhecimento para cumprir com sua função com responsabilidade social. É necessário assumir um papel mais ativo na proposição e execução de soluções”. E foi mais longe ao dizer que “sem ciência e educação simplesmente não existe desenvolvimento; sem arte e cultura perde-se o sentido humano”. Por fim, questionou o modelo econômico que prevalece na América Latina, cuja principal meta é a de “acumular bens”. Ao fazer isso “sem limites e sem decoro, sem freios no método e sem medir as consequências para obtê-lo, [o modelo] condenou-se ao fracasso mais estrepitoso, causando simultaneamente numerosas crises”.
Em terceiro lugar, o reitor deveria ser um grande conhecedor da realidade universitária, preferencialmente um professor ou professora que se exponha diariamente a seus alunos realizando o debate teórico-científico; que realize pesquisa e entenda que ela não é neutra, mas tem objetivos políticos; que faça extensão e participe da construção de uma nova relação social na sociedade; que publique suas conclusões para serem discutidas e avaliadas pela comunidade; enfim, um reitor ou uma reitora com vivência e experiência no quotidiano acadêmico-técnico-científico-intelectual e que defenda a universidade como um instrumento de emancipação das classes subalternas. Neste último item reside a grande função de um reitor e, por certo, a mais difícil de ser realizada.
Um reitor não pode assistir pacificamente à luta dos estudantes pelo passe livre no transporte urbano, como se isso fosse um problema que não lhe toca; tampouco cruzar os braços quando as forças policiais espancam violentamente os jovens que reivindicam o direito de se locomover gratuitamente para estudar, como se isso fosse um privilégio; menos ainda fazer ouvido de mercador, quando a sociedade reclama melhorias no seu bem- estar social, como se a universidade não tivesse nada a oferecer a estes movimentos; e não pode jamais deixar de levantar sua voz, fundamentada na ética e na autoridade científica, para se contrapor à destruição do tecido social humano promovida pelo capitalismo neoliberal.
O livro Crítica à Razão Acadêmica – Reflexão sobre a Universidade Contemporânea levanta e debate estes temas. O lançamento acontecerá no dia 20 de outubro, às 19:00 horas, no Hall da Biblioteca Universitária (BU).
Texto: Camila Feix Vidal - IELA
Texto: João Gaspar/ IELA
Texto: IELA
Texto: Davi Antunes da Luz