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Morre Mário Benedetti

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Por IELA em 15 de janeiro de 2015

Morre Mário Benedetti

 
18.05.2009 – Morreu neste domingo, dia 17, em Montevidéu, o grande escritor e poeta uruguaio, nascido em 14 de setembro de 1920, na cidade de Tacuarembó. Com sua poesia doce e dura, Mário cantou como ninguém a luta das gentes desta “nuestra” América. Num tributo ao poeta, um de seus poemas:
 
 
Mario
“la sangre derramada tiene historia de siervos que murieron bajo el sol lleva en sí misma un corazón insomne que late a veces y otras veces no
la sangre derramada es un lenguaje que ya no se conforma con palabras lleva en sí misma un apretón de adioses y una canción por todos olvidada”
Ele estava chegando aos 90 anos. A saúde vacilava, mas não ele. Sua pena mágica seguia parindo versos que dizem das gentes  do mundo de cá. Falava de amor, da vida cotidiana, das lutas. Dizia do medo, da dor, da morte, da solidão, do amor, da injustiça e da esperança. Jornalista, andava pelas estradas vicinais e dali brotava sua inspiração para escrever seus poemas de amor e guerra. Escrevia e fazia política, homem de ação e de letras. Perseguido pela ditadura que tomou conta de seu país e dos países vizinhos, Mário perambulou por Argentina, Peru, Cuba e Espanha. Só voltou para casa em 1983, vivendo o que chamou de “desexílo”, espaço de tempo que marcou profundamente sua poesia.
usted preguntará por qué cantamos 
cantamos porque el río está sonando
y cuando suena el río / suena el río
cantamos porque el cruel no tiene nombre
y en cambio tiene nombre su destino
 
Mário Benedetti fez poemas, fez contos, ensaios. Virou canção na voz de Pablo Milanés, Silvio Rodriguez, Juan Manoel Serrat, se fez eterno. Mário era pura ternura, que se derramava de seus olhos mansos e que se fazia concreta nas palavras que ia deixando pelo caminho. Mais de 80 obras, recheadas da vida de seu povo. Mário ganhou prêmios, homenagens, mas isso não valia mais do que o caloroso abraço daqueles com quem escolheu caminhar.  
Nos últimos dias, já doente, ele ainda levantava a pena e escrevia poemas. Preparava um livro que chamaria de  “biografia para encontrarme”. Ficou inconcluso, mas o querido poeta certamente não precisava de uma biografia para encontrar-se. Bastaria que olhasse para a janela e visse no olhar dos passantes, aqueles que amava, o espelho de sua grandeza.  Mário, agora, encontrou o grande cosmos, a energia plena, o absoluto. Está aí rodeando o mundo com sua poesia imortal.
Ele puente
Para cruzalo o para no cruzarlo
ahí está el puente
 
en la otra orilla alguien me espera
con un durazno y un país
 
traigo conmigo ofrendas desusadas
entre ellas un paraguas de ombligo de madera
un libro con los pánicos en blanco
y una guitarra que no sé abrazar
 
vengo con las mejillas del insomnio
los pañuelos del mar y de las paces
Ias tímidas pancartas del dolor
las liturgias del beso y de la sombra
 
nunca he traído tantas cosas
nunca he venido con tan poco
 
ahí esta el puente
para cruzarlo o para no cruzarlo
yo lo voy a cruzar
sin prevenciones
 
en la otra orilla alguien me espera
con un durazno y un país
 
Lento mas vem
o futuro se aproxima devagar mas vem
hoje está mais além das nuvens que escolhe e mais além do trovão e da terra firme
demorando-se vem qual flor desconfiada que vigia ao sol sem perguntar-lhe nada
iluminando vem as últimas janelas
lento mas vem o futuro se aproxima devagar mas vem
já se vai aproximando nunca tem pressa vem com projetos e sacos de sementes
com anjos maltratados e fiéis andorinhas
devagar mas vem sem fazer muito ruído cuidando sobretudo os sonhos proibidos
as recordações dormidas e as recém-nascidas
lento mas vem o futuro se aproxima devagar mas vem
já quase está chegando com sua melhor notícia com punhos com olheiras com noites e com dias
com uma estrela pobre sem nome ainda
lento mas vem o futuro real o mesmo que inventamos nós mesmos e o acaso
cada vez mais nós mesmos e menos o acaso
lento mas vem o futuro se aproxima devagar mas vem
lento mas vem lento mas vem lento mas vem

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