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Crítica à Razão Acadêmica – Reflexão sobre a universidade contemporânea

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Por IELA em 22 de setembro de 2011

Crítica à Razão Acadêmica – Reflexão sobre a universidade contemporânea
  
Por Waldir José Rampinelli e Nildo Ouriques   
22.09.2011 – A UFSC completou cinquenta anos em 2010. É uma universidade extremamente jovem se comparada com os quase 500 anos de existência da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e a Universidade Nacional Maior de São Marcos (UNMSM), de Lima. No entanto, é preciso analisar, nessa curta trajetória da UFSC, suas relações com a sociedade local, regional e sua atuação no cenário nacional. O objetivo principal desse livro é o de debater a função social da universidade pública contemporânea. Para compreender a universidade do presente nada melhor do que entender a do passado, abrindo uma perspectiva para o futuro, como preconizava Marc Bloch.
A realidade brasileira, marcada pelo desenvolvimento de um capitalismo dependente, não tem recebido das universidades públicas grandes aportes teóricos para superar esse atraso histórico. O Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD) – mais conhecido como Banco Mundial – ao adotar a estratégia de estabelecer políticas educacionais no ensino superior, na década de 1980, nada mais fez que passar para os economistas a tarefa de pesquisar a educação e estabelecer o seu enquadramento conceitual e metodológico para concretizar as reformas neoliberais. A universidade, ao invés de se tornar um centro de criação do pensamento crítico e ser a geradora da ciência, do conhecimento e da tecnologia, passou a ser preparadora de mão de obra para as grandes empresas nacionais e estrangeiras. Enfim, foi se tornando cada vez menos pública, principalmente em determinadas áreas que interessam diretamente ao grande capital, em detrimento das necessidades de sua população.
Nos anos 1950, 1960 e 1970 as ciências sociais experimentaram um avanço sem precedentes na América Latina. O resultado foi uma produção de obras significativas no campo da literatura econômica, sociológica e política. Segundo Ruy Mauro Marini, vários fatores motivaram esse auge das ciências sociais, entre eles a instabilidade que caracterizava a vida política regional por conta das ditaduras de segurança nacional; a expansão econômica regional com a destinação de recursos significativos para as universidades e os centros de pesquisa; e o crescimento de ordem quantitativa e qualitativa das ciências sociais, com o predomínio da temática do desenvolvimento e do subdesenvolvimento. Além desses valores citados, levantaram-se os seguintes questionamentos: quais as causas de nosso subdesenvolvimento, que obstáculos superar para nos desenvolver e que tipo de desenvolvimento é viável e desejável para a América Latina? O resultado de todo esse debate foi o surgimento de uma intelectualidade brasileira e latino-americana que discutia intensamente suas ideias, trabalhava em conjunto e travava polêmicas acaloradas. Vários deles ocuparam altos postos na burocracia do Estado, como Darcy Ribeiro e Celso Furtado no governo nacional popular de João Goulart.  Para Marini,
A comparação desse extraordinário florescimento intelectual com a pobreza teórica e o formalismo acadêmico que marcam hoje a reflexão científica sobre a nossa realidade provoca perplexidade. Como perplexos ficamos também quando confrontamos a originalidade e liberdade de criação próprias daquela época com a subordinação atual do nosso pensamento aos padrões norte-americanos e europeus. Essa reversão de tendências, essa anemia da capacidade criadora, essa volta ao colonialismo cultural refletem, de certo modo, em boa medida, a estagnação econômica e a desagregação social que a última década [refere–se aos anos 1980] representou para a América Latina .
A sociedade e a universidade hodiernas também se ressentem de intelectuais que tornem públicos e elucidem de maneira dialética os conflitos impostos pelo sistema capitalista. Para Edward Said é preciso desafiar e derrotar tanto um silêncio imposto quanto uma quietude normalizada do poder invisível. Superar o estado de medo que toma conta das pessoas, principalmente dentro dos campi universitários. “A universidade” – diz Milton Santos – “é talvez a única instituição que pode sobreviver apenas se aceitar críticas, de dentro dela própria, de uma ou outra forma. Se a universidade pede aos seus participantes que se calem, ela está se condenando ao silêncio, isto é, à morte, pois seu destino é falar”.
O livro “Crítica à Razão Acadêmica – Reflexão sobre a Universidade Contemporânea” – com textos de pessoas da UFSC, da USP e de Ohio University State (Columbus- EUA) – analisa e desvenda forças claras e ocultas que atuam na universidade contemporânea, algumas delas na UFSC, ao longo de seus “50 Anos”, como a oligarquia,  a maçonaria e o mercado.  O livro será lançado no dia 20 de outubro, às 19:00 horas no Hall da Biblioteca Universitária (BU).
   

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