Pensadores da Pátria Grande – Gregorio Selser
Texto: IELA
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México, exemplo do fracasso do projeto neoliberal e imperialista
Por Brasil de Fato
01.09.2010 – Encontrados, em um rancho no Estado de Tamaulipas, nordeste do México, sem sequer serem enterrados, 72 corpos de jovens latino-americanos. Dois deles brasileiros de Minas Gerais. Essas vítimas – imigrantes ilegais em busca de emprego e renda para melhorar sua condição de vida fora do seu território de origem – são um bom retrato do mito da era global.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), estima-se que em 2010 existam 214 milhões de imigrantes internacionais – 50% são mulheres. Deste total, 20% são de imigrantes ilegais, que nos EUA computam em 11 milhões, basicamente latinos.
Os imigrantes são responsáveis pela movimentação de um expressivo volume de dinheiro no continente. No caso do México, só em 2006, enviaram ao país 26 bilhões de dólares. Na América Central, os imigrantes são a principal fonte de ingresso de dólares para as economias nacionais. Segundo o Banco Mundial as remessas do exterior advindas do envio de dinheiros dos imigrantes representam 0,3% do PIB brasileiro; 3% do PIB mexicano; 7% dos PIB equatoriano e guatemalteco; 15% do PIB de El Salvador; 11,5% do PIB de Honduras e expressivos 30% do PIB nicaraguense.
O México deve ser analisado por duas óticas. As fronteiras ao Sul com a América Central e ao Norte com os EUA. Isto porque com os latinos ainda mais pobres, o vizinho rico é a única esperança de poder melhorar de vida. Assim, saem à procura de trabalho, já que em seus próprios países as condições de sobrevivência estão no limite, com uma renda insuficiente.
Na fronteira com o México ocorrem 2 milhões de tentativas de cruzar o território por ano, dos quais 400 mil são centro-americanos em seu afã de chegar aos EUA, segundo o Instituto Nacional de Migrações Mexicanas. Destes, cerca de 700 morrem por ano em território americano. São sujeitos que ou são assassinados por forças paramilitares estadunidense ou morrem nas difíceis condições de trânsito pelo deserto.
Na fronteira ao norte, os latinos do Sul que conseguem atravessar a fronteira da terra em trânsito mexicana, juntam-se a um expressivo número de chicanos (termo empregado principalmente nos Estados Unidos para referir-se aos méxico-estadunidenses) pobres com as mesmas aspirações.
O México foi um dos países mais afetados com a crise mundial de 2008. De um total de 107 milhões de mexicanos, estima-se que 51% esteja em situação de pobreza, segundo o Banco Mundial. Curioso este fato, uma vez que o junto com o Chile, o México é caracterizado pelos ideólogos neoliberais como um bom exemplo a ser seguido no plano das políticas de abertura, privatizações e queda das tarifas comerciais entre as nações, conduzidas desde Washington.
Em 1994 o México aderiu à política americana de constituição da Área de Livre Comércio para América (Alca), cujos princípios centrais rezavam a mesma cartilha de abertura comercial e de ajustes na política econômica para a livre circulação de bens e serviços e flexibilização das leis trabalhistas produzida nos documentos do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta).
Dezesseis anos após dita incorporação, o México segue seus rumos de nação periférica para dentro e para fora de seu território.
Periférica para dentro, na medida em que o pacto neoliberal de 1994 em diante intensificou a situação de pobreza de parte expressiva da população e acentuou os níveis de vulnerabilidade econômica advinda de sua vinculação umbilical com as políticas econômicas estadunidenses. Periférica para fora, na medida em que sua soberania como nação está em xeque, uma vez que os processos produtivos, laborais e de distribuição-circulação de mercadorias são definidos e acumulados desde os EUA.
O maior paradoxo vem desta política de abertura e de fronteiras em segurança nacional desde os EUA. Se por uma lado, se visualiza a abertura econômica do país aos ditames políticos das corporações e do Estado americano, por outro, o território vê suas fronteiras ao norte cada vez mais tomadas por um aparato de guerra, fiscalização, controle e matança sem precedentes na história. O mito do global revela sua faceta de guerra. Os muros são erguidos. O capital circula, as mercadorias movimenta e amplia seus ganhos livremente entre estes dois territórios aparentemente sem fronteiras. Entretanto, os trabalhadores, legais ou ilegais, são freados por visíveis e invisíveis muros erguidos contra os povos latinos.
Nesse sentido, os tratados de livre comércio mostram suas reais facetas após quase duas décadas de implantação dos acordos:
1. O México virou um país economicamente mais vulnerável que antes:
2. A produção, a circulação e a distribuição dos bens são majoritariamente transacionadas por um grupo cada vez mais concentrado e centralizado de empresas transnacionais, que enviam os resultados da riqueza fora do território mexicano, dadas as privatizações das empresas mexicanas ao grande capital multinacional;
3. A população se divide em imigrantes (i)legais e trabalhadores cada vez mais precarizados no interior da nação, sem direitos e com deveres de consumidores universais;
4. A ampliação dos grupos e gangues de narcotraficantes que utilizam a miséria humana, consequência deste modelo destrutivo, como único processo de inclusão possível para uma parte expressiva da população.
Traficantes de povos, de armas, de drogas e de órgãos, são um comando organizado no território e ganham um volume expressivo de dinheiro, fruto dos perversos resultados desta política de livre circulação do capital e diversas amarras do trabalho.
O fato é que o que está em jogo na disputa pelo poder na América Latina é a expressão de três projetos políticos. O primeiro de inserção subordinada ao projeto imperialista dos Estados Unidos, dos quais o México, Chile, Colômbia e Peru são os exemplos mais claros, em termos de governos e de economia. O segundo projeto de integração econômica capitalista, alimentada por algumas empresas que têm flexibilizado suas atividades e procurando repartir a taxa de lucro com o capital do Norte. O terceiro projeto de integração anti-neoliberal, anti-imperialista, modelo de produção e articulação econômica e popular da América Latina, expresso no projeto da Alba.
Então, daqui para frente, cada disputa eleitoral nacional representará a disputa destes três projetos. Esperamos que, aqui no Brasil, avancemos no terceiro modelo e impeçamos a retomada neoliberal manifesta nos outros projetos.
Texto: IELA
Texto: Consuelo Ahumada - Colômbia
Texto: Rafael Cuevas Molina - Presidente AUNA-Costa Rica
Texto: Resumen Latinoamericano/ Prensa Comunitária
Texto: IELA
Texto: IELA