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A concentração de capital e a pobreza na América Latina: o crescimento dos pueblos jóvenes na região

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Por IELA em 20 de abril de 2007

A concentração de capital e a pobreza na América Latina: o crescimento dos pueblos jóvenes na região
20/04/2007
Por Fiorella Macchiavello F. – mestranda em Geografia na UFSC
* Sempre que se mencionem as devidas fontes, o conteúdo deste texto pode (deve) ser xerocado, discutido, (re)utilizado em outros trabalhos, uma vez que o que nos move é a difusão do conhecimento crítico e libertador latino-americano, comprometido com a transformação do mundo
O movimento do capital resulta de maneira categórica na situação cada vez mais precária do trabalhador como conseqüência e ao mesmo tempo, pressuposto do desenvolvimento das forças produtivas. Nesse sentido, a miserabilidade e a incapacidade de os homens se reproduzirem no capitalismo são levadas às últimas conseqüências ao mesmo tempo em que se intensifica a concentração dos meios de produção em poucas mãos.
Na América Latina esta realidade se verifica pela intensificação da precariedade na situação social dos habitantes dessa região. Ao longo da década de 90 e no limiar do século XXI, o impacto das medidas neoliberais (que apressam o ritmo de acumulação e degeneração do capital em geral) se espalhou na região.
O número de pobres se elevou de 220.2 milhões para 221.4 milhões entre 1990 e 2002. Esse 221.4 milhões de pobres correspondem à 44% da população total da América Latina em 2002, enquanto que 97 milhões de pessoas, ou seja, 19.4% dos habitantes latino-americanos se encontram em condições de extrema pobreza ou indigência. O desemprego também se elevou na maioria dos países da América Latina (65% em uma amostra de 17 países), acompanhado pela precarização laboral que se expressa no aumento da informalização da economia assim como na diminuição de pessoas que contribuem para a seguridade social. Desde 1990, 66% dos novos empregados na América Latina são absorvidos pelo setor informal e somente 44% dos novos ocupados têm acesso à seguridade social no setor formal (MACCHIAVELLO, 2005).
Em matéria distributiva, a América Latina é considerada a região mais desigual do mundo, mesmo quando comparada com regiões de menor desenvolvimento social e maiores níveis de pobreza. Segundo a CEPAL (2004), em média, os 40% mais pobres da população total recebe 13.6% do total da renda enquanto que o 10% mais rico capta em média 36.1% da renda total das famílias latino-americanas.
Sabe-se que tanto o aumento do desemprego quanto a intensificação da concentração e centralização de capital se explicam a partir do próprio funcionamento do modo de produção capitalista. Na atualidade os grandes agentes deste processo são as empresas multinacionais, que constituem grandes conglomerados e realizam fusões e aquisições transnacionais que terminam por configurar, em última instância, um oligopólio mundial.
Em 2003 um exame sobre a concentração industrial e Produtividade no Brasil, realizado por economistas do IBGE (Feijo, 2003), revelou um crescimento acentuado da concentração quando se analisando os anos 1985 em comparação com os anos de 1994 e 1998 .
Em relação à organização das grandes empresas na América Latina observa-se também uma grande concentração através dos conglomerados latino-americanos e estrangeiros que atuam em diferentes setores. A partir do processo de ajuste pelo qual passaram as economias latino-americanas, e de maneira específica a partir do processo de privatização, as empresas estatais quase desaparecem em favor da entrada de empresas oligopólicas em nível mundial.
As fusões e aquisições se encontram em estreita ligação com o movimento de concentração de capital internacional, tanto na esfera produtiva quanto na financeira. Neste última, houve aprofundamento da concentração no Brasil, Argentina, México, Chile, assim como no Caribe na década de 90 e no começo do século XXI. As crises Tequila e asiática, mostraram a fraqueza do sistema financeiro latino-americano e levaram à falência de muitas instituições bancárias, seguradoras, fundos de pensão e de investimento, porém a tendência à concentração é inerente à estrutura capitalista e se intensifica em períodos de crise. A concentração neste setor também apresenta tendências à internacionalização do capital.
À modo de conclusão
Ao mesmo tempo em que o modo de produção capitalista poderia levar a afirmar a constituição do homem plenamente humanizado, no momento imediato o nega e, desumaniza um elevado número de excluídos. Essa contradição se expressa fenomenologicamente na forma de urbanização da América Latina e nos problemas urbanos, como na intensificação do crime e do tráfico.
A América Latina e o Caribe constituem a região mais urbanizada do mundo subdesenvolvido. Da população total, o 75% mora em áreas urbanas, e embora o ritmo de crescimento urbano tenha decrescido (da media anual de 4% em 1970 para 2% na atualidade), a população urbana aumentou em termos absolutos nos últimos cinqüenta anos, passando de 69 milhões em 1950 para 391 milhões no ano 2000. (CEPAL, 2004)
Um relatório do Banco Mundial apresenta que dos 75 % de habitantes de áreas urbanas, um terço se encontra abaixo da linha da pobreza. Segundo este relatório, 90 milhões de pessoas vive em favelas ou assentamentos marginalizados. Já o programa de las Naciones Unidas para el Medio Ambiente- Oficina Regional para América Latina y el Caribe (2003) afirma que a região latino-americana tem a maior taxa de pobreza urbana do mundo, uma vez que cerca do 40% da população urbana da região vive em condições de pobreza. Segundo este relatório, em termos absolutos 70% dos pobres da região reside em áreas urbanas e, dos 22 milhões de pessoas que passaram a conformar a camada de extrema pobreza entre os anos 1986 e 1998, 66% são habitantes urbanos.
Se estima que cerca de 125 milhões de latino-americanos não tem acesso à água potável, 200 milhões não conta com adequadas condições sanitárias e um de cada 7 habitantes carece de aceso a instalações modernas de energia. Estas são as condições de vida de uma camada da população que, excluída da racionalidade do modo de produção capitalista, vive desumanamente no continente latino-americano.
Cabe a pergunta: é dentro destes espaços contraditórios e que nada mais são do que a outra cara do desenvolvimento e acumulação do capital, onde se estão forjando novos tipos de relações para além do capital, uma vez que esta forma de reprodução da vida – capital – se encontra esgotada para a maioria dos seres humanos?
Nesses espaços de pobreza e miserabilidade que se contrapõem, mas que também são o próprio resultado e pressuposto do modo de produção capitalista estão (re)surgindo na atualidade organizações que resgatam as formas comuns de organizações indígenas (aymara e quechua). E, embora olhem para trás no tempo para resgatar uma organização mais digna para a raça humana, também estão olhando para frente, apostando em mudar o mundo, começando pelas lutas diárias de sua própria existência.
 

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