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Um Fórum de gente que caminha

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Por IELA em 07 de fevereiro de 2006

Um Fórum de gente que caminha
07/02/2006
Por elaine tavares – jornalista
07/02/2006 – Pelas ruas da grande Caracas um grito se faz alto e forte. Vozes com todos os sotaques anunciam ao mundo um fato que, naquele momento, parece inexorável: “alerta, alerta, alerta que caminha a espada de Bolívar pela América Latina”. E tudo isso entre risos de pura alegria de todos os que participam da Marcha contra a Guerra e o Imperialismo, que abriu as atividades do Fórum Social Mundial.
Um arrepio de pura emoção percorre o corpo quando um grande grupo de colombianos, que arrasta dezenas de pessoas com sua música empolgante, canta o desejo que pulsa no coração de cada um : “Y si, y si, y si me dá la gana, de ser una potencia latinoamericana. Y el pueblo está en las calles, gritando libertad”.
E assim caminham as gentes pela imensa Avenida de Los Próceres numa espécie de ensaio para a grande festa que virá quando chegue o socialismo em toda a América baixa. Pequenas mulheres peruanas com seus chapéus negros e roupas coloridas, mexicanos e seus chapelões, povos autóctones de todas as etnias, europeus, palestinos, judeus, monges indianos, estadunidenses emocionados, bandeiras de todas as cores que tremulam ou se enrolam em corpos patrióticos. Afirmação de identidade, mas ao mesmo tempo vontade de partilhar e construir a pátria grande sonhada por Bolívar.
A caminhada do Fórum é sempre isso. Um espaço de comunhão, de desejos de liberdade, de solidariedade concreta. Os grupos circulam e trocam abraços, beijos, endereços. Gente que nunca se viu, mas que já se ama, porque se vê irmanada na mesma vontade de construir um tempo de claridão. E, nesses encontros fortuitos no meio da marcha, surgem as perguntas de toda ordem sobre o governo de cada país, sobre como está a questão da terra, os sindicatos. Há uma inesgotável sede de dividir informações e impressões.
Uma nota à parte são os integrantes das missões de trabalho na Venezuela. Gente simples que está descobrindo agora o valor de participar, de propor,
de decidir. Gente dos bairros pobres que nunca havia tido a oportunidade de se fazer sujeito, agora ali está, protagonista de uma história que apenas começa. São abraçados, acarinhados, saudados e sentem-se na responsabilidade de contar a cada um sobre o quanto tiveram suas vidas modificadas pela revolução bolivariana. Querem que os estrangeiros levem a melhor visão do país. São quentes, amorosos, sorridentes. “Para todo, Chávez”, dizem. E não querem dar um passo atrás. “A revolução bolivariana avança”. Pelas calçadas e nas sacadas dos prédios as pessoas acenam. Todos querem participar de alguma forma.
É certo que esse momento quase mágico da marcha não diz tudo o que é a Venezuela. Um caldeirão fervente no qual a luta de classes é tão intensa e concreta que quase se pode tocar. Assim como a gente pobre dos bairros de periferia arranca seu coração por Chávez, os morados dos bairros de classe média e alta o querem bem longe do país. Dois dias antes do início do Fórum realizaram uma grande marcha pedindo eleições limpas, como se nunca tivessem sido limpas as eleições na Venezuela. Ongs estadunidenses e européias financiam a oposição que vai tentando minar o governo de Chávez com a desconfiança e a corrupção. É, enfim, uma batalha de titãs.
A pobreza é grande no país, a economia informal parece ser a que mais viceja. Mas, entre as gentes também cresce a esperança de que até 2012 tudo esteja mudado. “Foram muitos anos de destruição antes de Chávez. As coisas não mudam assim, há que dar tempo. Nós temos uma missão contra a miséria e vamos chegar lá. Como estávamos antes de Chávez, nunca mais vamos ficar”.
Mas além do Fórum, com tantas palestras, encontros, debates e visita aos bairros e projetos bolivarianos, há ainda um mundo para desvendar. Complexo, difícil, tensionado pela luta de classes, cheio de contradições, e que vamos procurar desvelar, através de nossas observações e análises. Também, para contribuir para o livre debate das idéias sobre o que, de fato, está acontecendo no Brasil, o Observatório Latino-Americano (OLA/UFSC) organizou, durante o Fórum, uma oficina com o tema A transição inconclusa – uma análise crítica do governo Lula. Durante a oficina foi distribuído um livreto, em espanhol, com o conteúdo das conferências

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