História e Pensamento Militar
Texto: IELA
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Está circulando, a partir da Organização Juquira Candiru Satyagraha, a Cartilha dos Agrotóxicos, escrita por Sebastião Pinheiro, engenheiro agrônomo e pesquisador na área de toxicologia e meio ambiente. Ele tem marcado sua vida pela denúncia dos malefícios dos agrotóxicos e o incentivo a agroecologia.
A cartilha teve sua primeira edição há mais de 25 anos justamente na tentativa de informar os agricultores sobre os perigos dos agrotóxicos, chamados então singelamente de “defensivos agrícolas”. A leitura nos coloca dentro de uma história de terror, na qual estamos metidos até as entranhas, e revela como o capitalismo é de fato destruidor, pouco se importando com os seres humanos.
Sebastião Pinheiro historiciza o processo de dominação da agricultura pelo agrotóxico lembrando que tudo tem a sua raiz na guerra. Segundo ele, é impossível falar em agrotóxico sem ligar à guerra, fome e peste, afinal, grande parte dos venenos que hoje fazem parte da nossa mesa foi criada para matar gente e não pragas agrícolas.
Nas páginas do livro vão se desenrolando as histórias e os exemplos, mostrando o quanto de dano estes agrotóxicos vão causando à vida do agricultor que os utiliza e às pessoas que consomem os alimentos envenenados. Tudo sob as bênçãos do “deus” dinheiro. Ele conta, por exemplo, como lá pelos anos 1960, 1970 foram surgindo Bancos de Fomento para a agricultura que colocavam na cláusula do empréstimo a obrigatoriedade do agricultor adquirir 20% em agrotóxico. Uma jogada de mestre das indústrias químicas para jogar para os países subdesenvolvidos os venenos que estavam sendo fabricados nos países centrais.
Nos governos dos países empobrecidos a agricultura deixa de usar fertilizantes naturais para entrar na onda da “modernidade” química. Essa “modernidade” vai aos poucos destruindo a vida, os predadores naturais das pragas e exigindo, obviamente, mais químicos para enfrentar as pragas que se multiplicam. Assim, a indústria do veneno se fortalece e domina enquanto o agricultor esquece o saber-fazer que perdurou por várias gerações virando refém do agrotóxico.
Sebastião também desvela como os países – inclusive o Brasil – vão mudando as leis a partir da pressão das empresas químicas, ajudados por cientistas, que atestam, em estudos financiados pelas próprias empresas químicas, que os agrotóxicos não causam danos se usados na medida certa. O pesquisador dá o exemplo da cenoura, em cujo plantio se usa o Aldrin. As empresas dizem poder existir até 2mg do veneno em cada quilo de cenoura, e consideram que se uma pessoa come menos de 25 gramas de cenoura por semana, o veneno não causa danos. Mas e se consome mais, o que pode passar? Silêncio! E as mamães que usam cenoura nas papinhas e sopas dos bebês todos os dias, não estariam então envenenando seus filhos? E as pessoas conhecem essas informações? Obviamente não!
Produtos como tomate, morango, alho e hortaliças, que usam grande quantidade de agrotóxico não carregam informações sobre quanto se pode consumir. Não importa. O que vale é o produto parecer vermelhinho, bonito, sem manchas. Nem o agricultor, nem o consumidor conhecem os efeitos do veneno, nem como deve ser combatido.
Mas, se existem cientistas cooptados pelas empresas para incensar os agrotóxicos, existem também os que buscam informar e lutam contra o uso dos venenos na comida. Estes são expulsos das universidades, ridicularizados, destruídos, afinal, a indústria é dominante. Ainda assim, muitos rompem as barreiras e conseguem trazer informações, como é o caso do Sebastião Pinheiro, um incansável lutador, que defende a agroecologia como saída para barrar a indústria da morte.
Os malefícios dos agrotóxicos são inúmeros, alguns deles podem até danificar o DNA e causar mutações genéticas, tal como o glifosato, um dos mais usados no Brasil. Há estudos que comprovam que vários tipos de cânceres são causados pelos agrotóxicos, tais como leucemia, câncer de mama, de próstata, de útero, pulmão, testículos, linfomas, além de alterações neurológicas como o mal de Parkinson e Alzheimer.
Na verdade, o que há é uma simbiose entre a indústria do veneno e a indústria farmacêutica. Uma causa a doença e a outra oferece o tratamento, assim, as duas vão engordando as contas bancárias enquanto as pessoas morrem em dose homeopáticas, passando por indizíveis sofrimentos.
Não precisa ser muito esperto para observar que os países centrais vêm, já desde há anos, tirando os agrotóxicos de seus plantios, deixando o veneno para os empobrecidos. Lá, a agroecologia, que defende a retirada dos químicos e venenos da agricultura é priorizada. Aqui no Brasil já existem iniciativas nesse caminho embora os produtos livres de agrotóxicos ainda sejam muito caros para a maioria da população. De qualquer forma, esse é o caminho para evitar mais sofrimento humano.
O Movimento Sem Terra tem feito esse percurso, de incentivar a agroecologia nos seus assentamentos, eliminando os venenos e reavivando o saber-fazer milenar dos agricultores. Atualmente é um dos maiores produtores de arroz orgânico da América Latina, plantado em larga escala, sem fertilizantes químicos, o que prova que é possível.
A cartilha dos agrotóxicos é um trabalho que precisa ser mais conhecido, afinal, quando a gente sabe fica mais fácil mudar.
Colheita do Arroz orgânico do MST – Foto: Gabriela Felin
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Acompanhem no instagram o trabalho da Organização Juquira Candiru e a luta de Sebastião Pinheiro pelo biopoder campesino.
@juquiracandirusatyagraha
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