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A guerra no Irã

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Por IELA em 22 de junho de 2009

Por Paul Craig Roberts – ex-secretário-assistente do Tesouro dos Estados Unidos
Tradução: Coletivo Política Para Todos 

22.06.2009 –  Que atenção merecem, da mídia nos Eua, eleições no Japão, na Índia, na Argentina, onde for? Quantos norte-americanos e jornalistas norte-americanos ouviram falar de que há vida eleitoral em outros países além de França, Inglaterrae Alemanha? Quem sabe dizer o nome de algum político importante da Suíça, da Holanda, Brasil, do Japão, ou mesmo da China? Pois é. Mas milhões de norte-americanos conhecem o presidente do Irã, Ahmadinejad. E a razão é óbvia. O presidente do irã é diariamente demonizado pela mídia dos Eua.
 
A demonização de Ahmadinejad pela mídia dos EUA é, ela própria, prova da ignorância da imprensa e dos cidadãos norte-americanos. O presidente do irã manda muito pouco. Não é comandante-em-chefe das forças armadas. Não em poder para definir políticas próprias. É simples executor de políticas definidas pelos aiatolás. Os aiatolás, esses sim, estão decididos a impedir que a revolução popular democrática seja arrendada pelo dinheiro dos EUA e convertida em algum tidpo de sub-revolução codificada pela CIA em tons degradé de vermelho.
 
Os iranianos têm experiência muito amarga com os governos dos EUA. A primeira eleição democrática iraniana, depois de o país ter sobrevivido à ocupação e à colonização, nos anos 50, foi desqualificada, ou melhor, destruída pelo governo dos EUA. Em lugar do candidato legítima e democraticamente eleito, os EUA impuseram um ditador que torturou e assassinou dissidentes cujo único crime foi lutar por um Irã independente, que não fosse mais um fantoche norte-americano na região.
 
O super poder que governa os EUA jamais perdoou os aiatolás islâmicos pelo sucesso da revolução democrática iraniana dos anos 70, que derrubou o governo fantoche lá instalado e tomou como reféns o pessoal diplomático na embaixada dos EUA, definida como “covil de espiões”, enquanto estudantes iranianos desenterravam, dos cofres daquele embaixada, todos os documentos necessários para provar que os EUA trabalhavam dia e noite para destruir a democracia iraniana.
 
A mídia corporativa controlada pelo governo estadunidense é um perfeito Ministério da Propaganda e respondeu à reeleição de Ahmadinejad com uma tempestade de notícias sobre os “violentos protestos” contra a eleição que teria sido fraudada. A fraude eleitoral que não houve foi apresnetada como fato, mesmo sem haver uma única evidência. Durante o governo de George W. Bush a única resposta da mídia dos EUA às eleições comprovadamente fraudadas no seu país foi ignorar as evidências de fraude real em eleições roubadas.
 
Líderes fantoches na Inglaterra e na Alemanha alinharam-se imediatamente à operação de guerra psicológica liderada pelos EUA. O muito desacreditado secretário de relações Exteriores da Inglaterra, David Miliband, resfolegava, de tanta pressa para manifestar “sérias dúvidas” sobre a vitória de Ahmadinejad, num encontro de ministros da União Européia em Luxembrugo. Miliband, é claro, não recebe informações de fontes independentes. Sempre, e só, repete instruções de Washington e confia no que diz o candidato derrotado nas urnas, no Irã, mas preferidos pelo governo dos EUA. Angela Merkel, chanceler alemã, também foi dominada, dobraram-lhe o braço. Mandou chamar o embaixador iraniano e disse que exigia “mais transparência” nas eleições.
 
Até a esquerda estadunidense endossou o golpe de propaganda do governo dos EUA. Em seu blog Robert Dreyfus reproduziu as frases histéricas de um dissidente iraniano, como se ali falasse a voz da verdade sobre as “eleições ilegítimas” que levariam a um “golpe de estado”. Qual é, afinal, a fonte de informações que a mídia dos EUA e em todos os Estados fantoches repete sobre as eleições iranianas? Fonte? Não há fonte. Todos só fazem repetir discursos do candidato derrotado, que os EUA preferiam ver eleito.
 
Houve pelo menos uma  pesquisa séria, independente, conduzida no Irã, antes das eleições. Ken Ballen do Center Public Opinion, organização sem fins lucrativos, e Patrick Doherty, da New America Foundation, comentaram os resultados de suas pesquisas no dia 15/06, no Washington Post. A pesquisa foi financiada pelo Rockefeller Brothers Fund e conduzida em Farsi “por empresa de pesquisa que opera na região para as redes ABC News e BBC e já premiada com um prêmio Emmy.
 
Os resultados desta pesquisa, a única fonte de informação confiável que há hoje, indicam que o resultado eleitoral manifesta o desejo dos eleitores iranianos. Dentre outras informações interessantíssimas que a pesquisa revela, lê-se: “Muitos especialistas tem repetido que a vitória de Ahmadinejad teria sido resultado de fraude ou manipulação, mas a pesquisa de opinião pública que fizemos em todo o Irã, três semanas antes da eleição já mostrava que Ahmadinejad podia esperar ser eleito no primeiro turno, com maioria significativa e, de fato, pelos nossos resultados, com diferença ainda maior do que a que se constatou na apuração final dos votos”.
 
Ao mesmo tempo em que todos os noticiários ocidentais  com notícias de Teerã repetiam que haveria crescimento nas expectativas eleitorais a favor de  Mir Hossein Moussavi, todos os resultados de pesquisa, com dados recolhidos em todas as 30 províncias do  Irã, já mostravam enorme diferença a favor de Ahmadinejad nas intenções de voto.
 
A acentuada preferência dos eleitores pelo candidato Ahmadinejad já era evidente desde as primeiras pesquisas. Durante a campanha, por exemplo, Moussavi esforçou-se para identificar-se como “Azeri” ( o maior grupo étnico na composição populacional do Irã, depois dos persas), com vistas a atrair votos dos Azeri. Mas a pesquisa mostrou claramente que também entre os Azeri, Ahmadinejad venceria Moussavi, com mais do que o dobros dos votos.
 
Também se falou da juventude iraniana e da internet como fatores decisivos nas eleições. A pesquisa mostrou que menos e 1/3 dos iranianos têm acesso a internet, o que é insuficiente para que este instrumento seja considerado fator decisivo; e que o grupo dos jovens (18-24anos) é, dentre todos os grupos etários, o que manifesta a mais acentuada diferença a favor de Ahmadinejad.
 
 Os únicos grupos sociodemográficos nos quais a pesquisa identificou preferência significativa pró Moussavi (embora nem aí ele apareça em primeiro lugar em todos os subgrupos) são os identificados como “estudantes universitário e profissionais liberais” e os “de mais alta renda nacional”.
 
Quando a pesquisa foi realizada, quase 1/3 dos iranianos declararam-se indecisos. Mesmo assim, todas as tendências que foram traçadas por procedimentos estatísticos, regulares e conhecidos, espelham os resultados finais apresentados pelas autoridades iranianas (todos os procedimentos podem ser auditados e confirmados a partir dos relatórios das pesquisas), o que confirma que os resultados eleitorais sejam autênticos, sem que se justifique qualquer suspeita de fraude.
 
Vários jornais e jornalistas tem insistido em noticiar que ahaveria em andamento um plano para desestabilizar o Irã. Há quem fale de que os EUA estão a financiar ataques terroristas, bombas e assassinatos no Irã. Parte da mídia nos EUA usa esses informes como ilustração de autopromoção do poder dos EUA para controlar e manter com “rédea curta” os países dissidentes. Essa parte da mídia favorece o terror como política admissível contra os “dissidentes”. Outra parte, a maioria estrangeira, vê esse tipo de notícia como evidência da inerente imoralidade do governo estadunidense.
 
O ex-comandante paquistanês, general Mirza Aslam Beig, disse á radio Pashtum, no dia 15/06, que o serviço secreto paquistanês tem provas irrefutáveis de que os EUA trabalharam para tentar alterar o resultado das eleições no Irã. “Há provas de que a CIA gastou 400 milhões de dólares em território iraniano para fazer eclodir uma revolução “pacífica”, “colorida”, contra o governo dos aiatolás, imediatamente depois das eleições”.  
 
O sucesso dos EUA ao financiar outras revoluções “coloridas” na Georgia e Ucrânia, assim como em outras partes do ex-império soviético, tem sido tema repetido na mídia. Para a mídia estadunidense, todos estes “feitos” seriam manifestações da onipotência “natural” do direito “natural” dos Estados Unidos, como principal potência do mundo ocidental. Para parte da mídia estrangeira, seriam evidências de que os EUA jamais deixaram de intervir nos assuntos internos de outros países.
 
No campo objetivo das probabilidades estatísticas é mais provável de Moussavi seja um fantoche alugado para servir aos interesses inconfessáveis dos EUA, do que vítima de alguma fraude eleitoral. Sabe-se que o governo dos Estados Unidos sempre usou instrumentos de guerra psicológica tanto contra os próprios estadunidenses como contra estrangeiros, dentro ou fora dom país. Em todas essas operações de guerra psicológica a mídia sempre foi instrumento privilegiado. Há inúmeros estudos sobre isso.   
 
Consideremos a eleição iraniana do ponto de vista do bom senso do cidadão comum. Nem eu nem a enorme maioria dos leitores de jornal ou dos públicos telespectadores somos especialistas em Irã. Alguém supõe que, se meu país vivesse sob constante ameaça de  ser atacado ( sob ameaça também de ataque nuclear e, isso sem falar nas sanções econômicas); e se a ameaça viesse de dois dos países mais fortemente armados do que o meu (como é o caso do Irã) … alguém supõe que eu ou você desistiríamos de tentar defender nosso país… para eleger um candidato que interessasse aos EUA, ou a Israel, ou a ambos?  
 
Passa pela cabeça de alguém que a maioria do povo iraniano votaria para eleger um candidato que a maioria vê como um fantoche dos EUA e de Israel.. e que a maioria vê como um interessado em converter o Irã em mais um Estado fantoche dos EUA e de Israel?
 
A sociedade iraniana é antiga e sofisticada. Os intelectuais são, na maioria, seculares. Uma pequena fração da juventude foi fisgada pelos “ideais” ocidentais de culto obcecado de satisfação pessoal, do interesse individual, da autodedicação aos interesses pessoais. Essas pessoas podem muito facilmente ser organizadas para esse tipo de “operação especial”, para fazer oposição ao governo eleito e ao pensamento social islâmico que, sim, impõe limitações ao comportamento individual. Os EUA estão usando estes iranianos ocidentalizados  como base de manobra para, a partir deles, desacreditar as eleições iranianas e o governo legitimamente eleito pela maioria dos iranianos.
 
Dia 14/06 o McClatchy Washington Bureau, que até tenta investigar a fundo as notícias, cedeu também à guerra de propaganda de Washington e publicou: “O resultado das eleições no Irã dificulta ainda mais a já dificílima tarefa de Obama”. O que se vê aí são os primeiros movimentos do que, adiante, será a feia cara de um “fracasso da diplomacia” que abrirá caminho para uma “inevitável” intervenção militar. Já aconteceu antes. (…) O grande poder do super-macho está decidido a recuperar a hegemonia que teve sobre o Irã e os iranianos, será a revanche que os EUA sonha contra os aiatolás que derrotaram os Estados Unidos em 1978.
 
O script é esse. Para assistir os capítulos, basta acompanhar, minuto a minuto, a televisão nos EUA. Não faltarão especialistas para explicar o script. Por exemplo, um, colhido ao acaso. Lá estava Gary Sick, ex-funcionário do Conselho de Segurança Nacional, atualmente professor na Universidade de Columbia. “Se tivessem sido mais modestos e anunciado a vitória de Ahmadinejad com 51% dos votos, os iranianos desconfiariam, mas aceitariam. Mas o governo dizer que venceu com 62%? Não, não é crível! Parece-me que estamos realmente num ponto de virada decisivo na revolução iraniana, de uma posição em que se dizia que a legitimidade da revolução estava no apoio popular, para uma posição que depende cada vez mais da repressão. A voz do povo está sendo ignorada”.
 
Bobagem, Opinionismo sem fundamento. A única referência confiável, de pesquisa séria sobre as eleições é a citada acima, publicada no Washington Post. Nela, é demonstrado que Ahmadinejad era o favorito de mais da metade do universo de eleitores. Mas, nenhuma pesquisa séria interessa. Reinam as regras da propaganda e da mentira. Nada tem a ver com os fatos. Consumidos por esse vício de aspirar cada vez mais ao poder hegemônico os EUA atropelam qualquer equilíbrio, qualquer moralidade. A democracia que se dane! E assim prosseguirão os scripts e as ameaças contra todo mundo, até que os EUA afundem-se, eles mesmos, no fundo do poço: falidos, quebrados, no plano interno e isolados no plano internacional, universalmente desprezados.
 
 
 

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