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A Implosão da Costa Rica

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Por Rafael Cuevas Molina - Presidente AUNA-Costa Rica em 07 de julho de 2025

A Implosão da Costa Rica

Foto: Presidente Rodrigo Chaves

A Costa Rica que existe hoje tem pouco a ver com o que era na segunda metade do século XX. Quem testemunhou o país que emergiu das reformas iniciadas e apoiadas pelos socialistas cristãos, comunistas e pela Igreja Católica na década de 1940, que foram posteriormente mantidas e complementadas pela socialdemocracia a partir da década de 1950, pode agora testemunhar o colapso desse modelo.

Esse colapso começou na década de 1980 e não cessou até hoje, a ponto de, no local onde antes se situava o estado de bem-estar social que dele resultou, restar apenas prédios precários, correndo o risco de desabar a qualquer momento, e sobre seus destroços há uma luta entre aves de rapina que tentam arrebatar, para seu próprio benefício, o que resta.

Essa situação é resultado de quarenta anos de implementação do modelo neoliberal, originalmente conhecido como Consenso de Washington, que envolveu a reconstrução das bases sobre as quais a economia do país se baseava, com foco na atração de investimentos estrangeiros por meio de um sistema de zonas de livre comércio, na exportação de produtos agrícolas para sobremesas nos países do norte (especialmente abacaxi e banana) e no turismo.

Esse novo modelo teve pelo menos duas consequências bastante óbvias: por um lado, a economia construiu um centro de desenvolvimento muito dinâmico e, por outro, muitas pessoas não conseguiram se integrar a ele e foram marginalizadas, resultando em aumento de riqueza, mas, ao mesmo tempo, concentrada em poucas mãos. Hoje, depois de ter sido um país com uma grande classe média que se orgulhava de aspirar a uma sociedade de “igualitários”, a Costa Rica se transformou em um dos países mais desiguais do continente, onde se concentram as maiores desigualdades do mundo.

Dada essa situação, nada se poderia esperar além de uma crescente agitação social que vem crescendo ao longo dos anos. Politicamente, a população costarriquenha expressou esse descontentamento por meio do voto. Perderam a confiança nos chamados partidos tradicionais, os mesmos que haviam sido o esteio político do Estado de bem-estar social, mas que se tornaram meras máquinas eleitorais e ninhos de aproveitadores que buscavam lucrar com a política. Apostaram em novos projetos políticos emergentes que se apresentavam como uma alternativa, como algo novo em relação a esses partidos, mas se decepcionaram porque, ao contrário do que haviam prometido, o que fizeram foi aprofundar o caminho que estava obscurecendo o que na segunda metade do século XX era chamado de modelo de desenvolvimento costarriquenho.

Nessa busca, os eleitores costarriquenhos tatearam até chegar ao atual governo de Rodrigo Chaves, o ápice do processo de degradação. O Sr. Chaves chegou ao país vindo do Banco Mundial, de onde havia saído em meio a questionamentos sobre sua conduta em relação às mulheres. Ele chegou ao cargo de Ministro da Fazenda no governo anterior e emergiu como um candidato “alternativo” em uma disputa eleitoral na qual seu principal oponente era o filho de um dos caudilhos mais importantes do século XX, José Figueres Ferrer, cuja integridade ética foi seriamente questionada e o manteve afastado do país por vários anos.

O governo de Rodrigo Chaves está prestes a terminar no próximo ano, e cada vez mais costarriquenhos aguardam ansiosamente o fim de seu mandato. O presidente rapidamente se revelou um homem mimado, desrespeitoso e arrogante, que não hesita em insultar aqueles que considera seus inimigos políticos e, ao contrário do pacifismo que os costarriquenhos orgulhosamente demonstram, alude à possibilidade de forçar eventos por meio da violência.

O ano de 2024 expôs as deficiências do governo: o turismo parece estar em declínio pela primeira vez em sua longa história como motor de desenvolvimento, e o investimento estrangeiro também diminuiu no primeiro trimestre, após anos de ascensão social. Estes não são apenas os erros deste governo, mas a mais recente expressão de um modelo que está fracassando em todos os lugares e se tornando cada vez mais complexo, mas as medidas que tomou agravaram a crise.

Este é um sistema podre no qual o crime organizado e o tráfico de drogas contaminaram toda a estrutura estatal. Seus membros culpam uns aos outros pela corrupção, e a situação está mudando à medida que o país afunda com um sistema educacional em crise, um sistema de previdência social cada vez mais precário e uma violência que atinge níveis semelhantes aos vivenciados no Triângulo Norte da América Central.

A Costa Rica implodiu, e quem sabe se já chegou ao fundo do poço. Rodrigo Chaves parece continuar canalizando a raiva da população contra o establishment e pretende canalizar sua popularidade para um governo que emerja das próximas eleições e reconstrua o país. Essa refundação estaria em linha com as correntes do populismo de direita que se espalham pelo mundo.

Uma implosão dolorosa, prolongada e perigosa que obscurece o futuro da Costa Rica.

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