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A importância da consciência de classe

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Por Elaine Tavares em 20 de março de 2025

A importância da consciência de classe

Guerra da água na Bolívia – o povo unido, venceu – Foto: Aldo Cardoso

A história da humanidade é a história da luta de classes. E isso é uma verdade que não está limitada no capitalismo. Em outros modos de produção, como o escravista ou o feudal, também havia classes: escravos e senhores, servos e nobres. O modo capitalista de produção, sob o qual vivemos hoje, também tem as suas classes, a dos burgueses e a dos trabalhadores. E o cotidiano da vida é essa peleia. Os donos do capital dominam a vida dos trabalhadores que buscam, por várias vias, se libertar. Essa é batalha cotidiana em todas as épocas, pois, afinal, quem é que gosta de ser dominado, subjugado, espezinhado? Ninguém!

Por conta dessa verdade indelével a luta de classes se expressa em todos os espaços, inclusive nas redes sociais. Ali mesmo a parada é dura, porque como são os donos do capital que controlam as plataformas, as postagens que dão conta das luta e das rebeldias dos trabalhadores não circulam tanto. É a chamada “ditadura do algoritmo”. Muito provavelmente vamos ouvir falar muito em “ditadura do Maduro”, mas nunca na dos bilionários que dominam os meios e definem o que aparece na nossa telinha de celular. Assim, vamos ver pouca coisa sobre a resistência heroica do povo palestino nesse processo de genocídio imposto por Israel, e vamos ver muita postagem de pessoas defendendo Israel, mostrando o povo árabe como criminoso.

Também vamos ver muito choro do Bolsonaro e seus filhos pedindo anistia e raramente vamos ver a memória do choro e do desespero de quem viveu o abandono do estado na época da pandemia. Mais de 800 mil pessoas morreram por conta destes que agora choram porque estão na iminência de enfrentar a justiça.

O mesmo podemos dizer das ações do milionário/presidente dos Estados Unidos que, desde que assumiu o governo naquele país, vem cometendo barbaridades. Ameaça invadir países, censura professores, realiza prisões ilegais, usa lei de guerra para enviar imigrantes para prisões em El Salvador, e tudo aparece como simples “notícias”, sem que na figura de Donald Trump seja colado qualquer adjetivo. Imaginem se fosse o Nicolás Maduro a fazer isso, ou algum outro presidente de qualquer país. Seriam classificados como loucos, tiranos, ditadores.

Obviamente que isso não surpreende para nada aos que sabem como caminha o mundo e como se expressa a luta de classes. Mas, como grande parte da população permanece alienada a esse debate, as “notícias” que se digladiam nas redes e nos meios de comunicação são apenas informações desconexas que causam certo furor momentâneo e depois se esboroam no ar, tão logo surja uma novidade mais interessante que a política, tal como alguma intriga moral ou sensacionalismo o envolvendo celebridades.

Na semana passada, por exemplo, a Argentina viveu grandes manifestações com os aposentados daquele país em profunda crise, perdendo seus salários e enfrentando misérias. Uma ou outra postagem sobre a marcha, a ação da polícia e pronto. Quase nenhuma menção ao governo de Javier Milei que vem desmontando o país e a vida dos trabalhadores. Pelo contrário, quando o nome do gajo aparece é para dizer alguma coisa boa sobre ele, mesmo com todas as evidências de que o tal presidente roubou a nação, abusando da confiança das pessoas, indicando investimentos podres.

Assim vamos seguindo, nessa estrada pedregosa da luta sem fim, buscando informar o trabalhador para que ele possa se perceber dentro dessa batalha contra a classe dominante. Afinal, não são poucos os que assumem o discurso dos ricos e dos poderosos como se fosse seu. Não se percebem parte da classe dominada e ainda defendem os que os oprimem. Vejam que há quem, sendo trabalhador, se abrace a uma bandeira de Israel defendendo o genocídio palestino, acreditando piamente que os árabes são bandidos por natureza, ou defenda o tal do Trump como o salvador da pátria, quando na verdade ele está destruindo as possibilidades de vida nos países dependentes. Há quem adore o Bolsonaro, sem compreender que ele é só um gerente da classe que domina, buscando arrebanhar o que pode para seu proveito sem pensar na população. Há quem ame o Elon Musk acreditando que ele é um benfeitor da humanidade.

Tudo isso é a luta de classes se expressando. Daí a importância da consciência de classe, que é justamente saber a que lugar pertencemos no grande jogo do capital. Se somos da classe trabalhadora temos de saber exatamente o que historicamente devemos fazer, quais são os nossos interesses, qual posição tomar, que bandeiras defender. No mundo capitalista, os donos do capital – a classe dominante (burguesia) – são um pequeno número de pessoas (1%) que abocanham quase toda a riqueza do mundo. Os 99% restante dos seres humanos estão na classe dos trabalhadores, aqueles que só têm os seus corpos, a sua força de trabalho para vender. Então por que não se rebelam? Por que defendem seus algozes? Porque não têm consciência de classe. Já os ricos, ah.. esses têm e estão sempre a defender seus interesses.
Esta é nossa árdua tarefa, revelar o que se esconde, desvelar os interesses da classe dominante, que não são os nossos, buscar a raiz dos problemas e dos dramas que acossam os trabalhadores para que, a partir da reflexão crítica da realidade, a consciência de classe possa brotar. Ver-se como trabalhador, como parte de uma classe explorada e oprimida e, desde aí, mover-se para a transformação.

É fato que nos tempos atuais, o volume excessivos de informação – grande parte mentiras ou ideologia da classe dominante – tem dificultado esse processo. Mas, não devemos esmorecer. O mundo muda e se transforma a partir da luta e a mudança chega, mais dia, menos dia. Temos duas opções: ou esperamos o processo sentados, choramingando, ou apressamos essa vitória na batalha da vida. Os desafios são grandes, mas quando não foram? Pensem nos servos das glebas feudais enfrentando os nobres, ou os escravos enfrentando os ladrões de corpos e vidas… Não havia tempo para chorar, como não há agora. Quando se tem consciência de classe a gente avança, espada na mão, esgrimindo os vilões.

Então, como diria Artigas: a la carga!

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