Argentina : denúncias de corrupção contra Karina Milei movimentam a política
Texto: Elaine Tavares
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“O lar é onde o coração está”, todos já ouvimos isso. Mas, o que fazer quando o lar se torna o lugar onde a ansiedade reside? O que fazer quando o lar se torna um labirinto de números que simplesmente não fecham no fim do mês? Tais perguntas são o reflexo da situação da de uma parcela crescente da classe média estadunidense que viu a busca por moradia, um dos pilares do “Sonho Americano”, se transformar em uma espécie de miragem no deserto financeiro: quanto mais se caminha em sua direção, mais distante ela parece. Um oásis, que quando encontrado, mostra ser uma ilusão, e a palavra “acessível” ecoa com uma ironia cruel.
Quando olhamos para os números, o cenário é desolador. Segundo uma reportagem do The New York Times, na cidade de Nova Iorque a renda média de uma família locatária é de cerca de 70 mil dólares anuais, o que faria com que, segundo as diretrizes governamentais, um aluguel considerado acessível estivesse por volta de 1750 dólares. No entanto, o aluguel mediano para novos contratos em muitos bairros da cidade chegam a ultrapassar o dobro desse valor. E qual o resultado disso? Mais de meio milhão de lares na cidade gastam pelo menos metade de sua renda com moradia. E isso não é apenas uma anomalia por tratarmos de uma das maiores cidades do país, é um sintoma que se espalha. Em estados como Arizona, Tennessee e Novo México, os aluguéis subiram mais de 65% em cinco anos.
O paradoxo se aprofunda quando o governo intervém com soluções que, na prática, parecem uma piada de mau gosto feita por um valentão. Os programas de “moradia acessível”, que deveriam ser mitigadores dos problemas aqui em debate, frequentemente se baseiam na métrica de Renda Mediana da Área (AMI) para definir a assistência. O problema reside – com perdão ao trocadilho – no fato de que em diversas cidades, inclusive em Nova Iorque, a AMI é inflada por um ajuste federal de “alto custo de moradia”, sendo calculada não com base na renda real dos habitantes, mas sim baseando-se nos próprios alugueis. Isso cria absurdos como prédios no Queens, onde apartamentos designados como “acessíveis” têm alugueis maiores que 3500 dólares para uma unidade com um único quarto. Para uma família com renda média de US$ 70.000, essa moradia “acessível” consumiria mais da metade do seu sustento. Hoje em dia, infelizmente, a chave do acessível não encaixa mais na fechadura do orçamento familiar.
Uma das “soluções” encontradas por famílias com rendas médias está nas chamadas mobile homes, os famosos trailers. Para o terror destas famílias, nem mesmo assim elas sentem um alívio. Donos de parques de casas móveis, tendo ciência de que os residentes – que, apesar de serem donos de suas casas, não são donas do terreno – são reféns da necessidade de ter algum lugar em que seja legalizado manter a sua casa, elevam os preços de aluguel para níveis muito altos. Quando consideram-se cenários de desastres naturais, percebe-se, ainda, uma camada de perversidade na situação. Após os incêndios florestais que afetaram o Condado de Los Angeles durante o ano de 2024, uma análise do The Washington Post revelou que os aluguéis dispararam por volta de 20%, com aumentos que chegaram a mais de 100% em algumas áreas, mesmo a prática sendo considerada ilegal. No meio da perda e da dor, a especulação imobiliária enxerga uma oportunidade, transformando a tragédia alheia em lucro.
E o que resta para a classe média? Resta a ansiedade, resta pular refeições para pagar um aluguel, resta a precariedade, resta morar em um carro. Resta a desesperança de milhões que veem o sonho de um lar estável se dissolver em planilhas de custos, taxas de juros e um mercado imobiliário implacável. A crise da moradia acessível deixou de ser apenas uma falha econômica ou política já há muito tempo. Ela é uma fratura na própria promessa social: quando ter um emprego e seguir as regras já não te garante um teto sobre a cabeça, algo fundamental se quebra. O lar deixa de ser um porto seguro para se tornar o epicentro de um terremoto financeiro diário, e a classe média se descobre perigosamente perto de um abismo que até agora estava tampado pela promessa de um “sonho americano”.
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*João Victor é aluno bolsista do projeto “Sonho americano”, coordenado pela professora Camila Vidal.
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