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A Senhora do Café e a luta pela liberdade

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Por IELA em 28 de outubro de 2017

A Senhora do Café e a luta pela liberdade

Em época de pensamentos alienados, em que leis escravistas voltam a pauta, surge o livro do escritor e historiador Diego Amaro de Almeida, no qual mostra as mudanças no cenário da escravidão no Vale do Paraíba, e o quanto demorou para que os escravos conseguissem a liberdade. 
O vale do Paraíba, no início do séc. XIX, passou por um processo de transformação, no qual toda a terra que  era antes habitada exclusivamente pelos índios, começou a ser invadida pelos brancos, que as receberam através de doações de sesmarias. Como conta a história, esses senhores não conseguiram escravizar totalmente os índios e então chegaram os negros, que vieram trazidos da África e eram comercializados livremente no Brasil. 
Com isso, o Vale do Paraíba transformou-se ricamente, vivendo a era do café, o “ouro-negro” que trouxe um papel de destaque para a região. Com isso a modernidade adentrou e mudou todo o cenário previamente imaginado pelos colonizadores, culminando com o processo de libertação dos negros.
No livro do escritor valeparaibano Diego Amaro de Almeida, apesar de o tema de estudo não ser a abolição da escravatura, aparece todo esse processo, fortemente ligado à figura de Maria Joaquina de Almeida: A Senhora do Café. Ela, após a morte do marido, torna-se herdeira de seus bens, sendo uma das maiores donas de escravos da região, e a personalidade mais importante da cidade de Bananal, interior do estado de São Paulo. Até hoje ela é lembrada como a  “Matriarca de Bananal”, devido a sua generosidade e responsabilidades com os habitantes do município e certamente, pela riqueza acumulada através de sua destreza com os negócios da família. O que demonstra a conquista feminina, adquirida em medidas excepcionais e mantida a muito custo pelas mulheres do século XIX.
Proprietária de uma das mais belas fazendas, a Boa Vista, ela usufruiu do trabalho de seus escravos para conseguir todos os êxitos, como é historicamente relatado e cabido aos senhores e senhoras da época. Porém, mesmo com muitos negros em sua propriedade, ela teve que se preparar com as mudanças dos novos tempos que estavam chegando, com o surgimento da Lei Eusébio de Queiroz (1850) que proibia o tráfico internacional de negros, visto que a desobediência levava os senhores a receberem punições judiciais.
Depois também foi proibido o tráfico nacional, o que fez com o que os negros fossem paulatinamente substituídos pelos crioulos, oriundos do nordeste, mudando esquematicamente o quadro da época. 
Durante a leitura vamos acompanhando como os donos das fazendas tinham medo da rebelião dos negros e o que faziam para se protegerem, como o recurso de manterem um padre e um hospital nas fazendas, para que os negros não precisassem se deslocar até a cidade, e tentarem fugir. Ou o incentivo de casamento entre os negros da fazenda como segurança contra essas tentativas de fuga. E o mais drástico, o temor de reunirem os negros de outras fazendas, para ajudarem na colheita do café.
Todo o processo de libertação dos escravos foi longo e penoso apesar de existirem leis. Os negros, além de trabalharem exaustivamente e com míseros recursos, ainda eram tratados como objetos de troca e dotes de casamento. 
Se muitas das pessoas ignoram historicamente esses fatos, nada melhor do que a literatura lidar com essa situação, e mostrar a realidade através da narrativa de uma época em que os negros foram os principais responsáveis pelo desenvolvimento de uma região, como no caso a do Vale do Paraíba, custando-lhes muito sofrimento. E que essa luta que teve início a mais de um século ainda não terminou, visto que hoje os senhores poderosos, querem revogar medidas e regredir na história. 
A leitura do livro “A Senhora do Café” nos leva a reflexão do custo da liberdade e de como tanta gente lutou para que viesse a liberdade, e chegássemos até aqui, livre de amarras. Entretanto, o desconhecimento e falta de interesse por nossa história faz com que essa regressão, agora imposta pelo Congresso, seja aceita sem lutas. 
 
 

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