Guerra cognitiva contra Cuba
Texto: Fernando Buen Abad Abad - Filósofo mexicano
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As forças armadas na América Latina
Por elaine  tavares – jornalista
06/03/2008 – A  agressão do governo da Colômbia, através do títere estadunidense Álvaro Uribe, à  soberania do Equador, coloca mais uma vez em questão o papel das forças armadas  nos países latino-americanos. A que tipo de política se prestam, afinal? Bom,  para se ter essa resposta há que voltar no tempo e recorrer à história.
Conforme conta o  coronel argentino Horácio Ballester, em artigo no livro “La Integración Militar  del Bloque regional de Poder, de Heinz Dieterich, a relação mais visceral com os  Estados Unidos começa em 1942, pouco depois do ataque japonês contra Pearl  Harbor, durante a segunda guerra, coisa que faz o país do norte entrar no  conflito de maneira mais orgânica. Naquele ano acontece no Rio de Janeiro, uma  reunião de chanceleres (representantes diplomáticos do Estado) que decidiu  enviar para Washington técnicos militares e navais para discutir medidas de  defesa do continente. A partir daí surgiu a Junta Interamericana de Defesa, que  deveria preparar planos militares de defesa comum, envolvendo todos os países do  continente.
Em 1947, tendo já  terminado a guerra, foi firmado, também no Rio de Janeiro e sob a batuta dos  EUA, o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), que estabelecia  ser a agressão de uma nação americana contra outra do continente, um ataque  contra todas. No ano seguinte, na Colômbia, em plena vigência de uma revolta  popular contra o assassinato de Jorge Gaitán, uma nova reunião de chanceleres  aprovou a carta da Organização dos Estados Americanos, que tinha entre seus  artigos a criação de um Comitê Consultivo de Defesa, que afinal, nunca  funcionou. Quem deu as cartas nesse campo sempre foi a Junta Interamericana de  Defesa (JID) e o Colégio Interamericano de Defesa (CID), responsáveis pela  formação de oficiais superiores e governantes da América Latina e do  Caribe.
A proposta do JID  respondia aos interesses do Departamento de Estado e do Pentágono estadunidense  e fixava as hipóteses de guerra que surgiriam, os inimigos a combater, a  doutrina para fazê-lo, as armas que deveriam utilizar, etc… Então, a América  Latina passou a encarar como inimigo, aqueles que eram inimigos dos Estados  Unidos. Foi assim que nesta parte da América, naqueles dias, se discriminou  alemães, japoneses, russos, cubanos, nicaragüenses, salvadorenhos. Quem ousava  desafiar os EUA era inimigo de todos, conforme rezava a assistência  recíproca.
Foi aí que surgiu a  famigerada Doutrina de Segurança Nacional, cujas práticas estão em vigência até  hoje. Esta doutrina estabelecia que o único enfrentamento que havia no mundo era  o Leste/Oeste, envolvendo os Estados Unidos e a União Soviética. E o único  inimigo a combater era o comunismo. Assim, nas nações latino-americanas, o que  norteava as ações do exército era o combate à infiltração marxista e a desordem  social que isso provocava. O inimigo, então, deixava de ser externo e passava a  ser o próprio povo de cada país. Foi essa idéia estrangeira que provocou toda a  sorte de tragédias nesta “nuestra” América a partir dos anos 50, acompanhada de  sangrentas ditaduras apoiadas pelos EUA.
No ano de 1951, o  Congresso dos EUA aprovou a lei de Segurança Mútua e firmou pactos bilaterais  com os países da América Latina para aplicar os Programas de Ajuda Militar. Isso  significou, na prática, a presença cotidiana de tropas estadunidenses nos países  latino-americanos trabalhando na “educação” e instrução das tropas nacionais.  Ainda no final dos anos 50, aparece a Doutrina de Guerra Contra-revolucionária  ou anti-subversiva, que tinha como objetivo aprofundar a luta contra os  comunistas. Cuba era um terrível mau-exemplo e havia que combater essa “maçã  podre” na América Latina. Então, ao longo dos anos 60, milhares de oficiais de  praticamente todos os países latino-americanos faziam romaria até o Panamá, para  serem adestrados conforme os ditames do Forte Amador. A nefasta Escola das  Américas forneceu, assim, os manuais do terror que infestou a América Latina por  30 anos.
Nos manuais,  escritos originalmente em espanhol, eram consideradas necessárias as técnicas de  execução, tortura e extorsão para combater os “subversivos” internos que  quisessem se meter com o comunismo. Com a doutrina de segurança nacional escrita  pelos técnicos da guerra estadunidense, praticamente em todos os países da  América Latina e do Caribe, as forças armadas foram destituídas de sua missão  específica que seria a de combater um inimigo exterior. Ainda segundo o coronel  argentino, Horácio Ballester, as forças armadas passaram a ser verdadeiras  tropas de ocupação em seus próprios países, transformando-os em Estados  terroristas que aniquilavam o inimigo interior, sua própria gente. Diz  Ballester: “As forças armadas se colocaram incondicionalmente, consciente sou  não, a serviço do establishment internacional e das minorias dominantes locais”.  Isso significou que qualquer pessoa que fizesse algo que afetasse os interesses  superiores, fosse luta salarial, por moradia ou terra, era logo qualificado como  “comunista” e imediatamente perseguido, preso, torturado, desaparecido ou  morto.
Naqueles dias um  “comunista” comprovado perdia os direitos, não tinha julgamento justo, podia ser  seqüestrado, torturado, preso ilegalmente, seus bens eram confiscados e suas  casas queimadas. Ou seja, nada muito diferente do que acontece hoje em dia.  Apenas o adjetivo mudou. Não são mais comunistas os que se opõe ao poder dos EUA  e das elites cortesãs. Agora estão na moda os “terroristas”.
Entendendo a  atualidade
Depois deste breve  apanhado histórico, fica mais fácil compreender a situação da América Latina  hoje e o sujo papel desempenhado por Uribe, na Colômbia. Desde aqueles dias dos  anos 40 que os governos colombianos vêm enfrentando o “inimigo interno”, tal  qual ordenam as doutrinas e técnicas estadunidenses. Não apenas as FARC, agora  chamadas cotidianamente de “terroristas” nos meios massivos de comunicação, são  perseguidas. Mas qualquer liderança social, popular, qualquer cidadão que comece  a questionar o governo ou o sistema, é perseguido, preso, torturado, eliminado.  Isso é recorrente na Colômbia. São os “terroristas”.
Igualmente  “terrorista” são considerados os países que não se ajoelham diante da lógica  estadunidense. Não é à toa que Bush quer empurrar goela abaixo, junto com o  Congresso de seu país, a resolução que torna “terrorista” o governo da  Venezuela, chefiado por Hugo Chávez. E é bom que se diga, Chávez segue  exportando o petróleo para os EUA e fazendo negócios com empresas gringas. Ou  seja, não é tão inimigo assim. Mas, como na política externa o discurso de  Chávez é totalmente anti-estadunidense, o governo daquele país não descansará  enquanto não colocar a Venezuela no lugar onde deve ficar: subserviente e  cortesã, como foi ao longo de décadas.
Por outro lado, não  são apenas Chávez, Correa, Morales, Fidel e Ortega que passam a ser considerados  inimigos. Também as gentes em luta passam a receber a alcunha de “terroristas”.  Tem sido assim em praticamente todos os países da América Latina. As lutas  sociais tiveram um recrudescimento na repressão e quem é apanhado, logo é  enquadrado nesta categoria. Foi assim com Patrícia Troncoso, a jovem mapuche que  precisou ficar mais de 100 dias em greve de fome para ter direito aos benefícios  da lei. Está presa como terrorista. São terroristas os que lutam por terra, por  moradia, por transporte coletivo, por salário. Bastou algum grupo marginalizado  se levantar para ser considerado um perigo nacional. Isso significa que nada  mudou. O “inimigo” está dentro dos portões dos países e os exércitos devem  baixar sobre eles.
A lei de segurança  nacional escrita em Washington segue vigendo. A mesma lei que deu corpo à  criminosa Operação Condor, responsável pela destruição da vida de milhares de  jovens e lideranças latino-americanas durante as ditaduras, a mesma que torna  inimigo do Estado aqueles e aquelas que lutam por um mundo melhor.
Então, antes de  acreditar nos Bonners (Globo) e Nascimentos (SBT) da vida que tratam todos os  lutadores sociais como inimigos, terroristas, é bom que as gentes conheçam a  história e saibam de onde vem a caracterização dos “nossos” inimigos. Eles não  são nossos, são adversários do decadente império estadunidense, opressor e  criminoso, que ceifa vidas por todo o continente, todos os dias, inclusive as  nossas.
  
Texto: Fernando Buen Abad Abad - Filósofo mexicano
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