História e Pensamento Militar
Texto: IELA
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Carlos Liscano fala sobre Uruguai, que ainda não tem novo presidente
Por Elaine Tavares
27.10.2009 – O vice-ministro da cultura do Uruguai, Carlos Liscano, que também é dramaturgo e escritor, esteve na UFSC para um seminário de debate sobre a obra de Juan Carlos Onetti, um dos mais importantes escritores uruguaios. Nesta oportunidade ele também participou de uma conversa organizada pelo IELA para discutir a conjuntura do Uruguai, poucos dias antes da eleição presidencial. Liscano, que em 2004 apostou na candidatura de Tabaré Vázquez, se mostrou otimista com os rumos que o país está seguindo. Naquele dia ele confirmou a liderança de José “Pepe” Mujica nas pesquisas e garantiu que o Uruguai deveria apostar na continuidade das mudanças.
A eleição, que aconteceu neste domingo (25), deu vitória ao candidato da Frente Amplia, mas não o suficiente para levar no primeiro turno. Agora, ele deve disputar o segundo turno com a direita, o Partido Nacional, que, apesar de ter chegado ao segundo turno, perdeu gente na configuração do parlamento, enquanto a Frente Ampla conseguiu ligeira maioria parlamentar. O Uruguai também votou em plebiscito sobre a anulação da lei de 1986 que impede o julgamento dos crimes cometidos durante o regime militar. Venceu o conservadorismo, a proposta de anulação não conseguiu maioria. A lei segue como está, ou seja, os crimes continuam embaixo do tapete. Outra pergunta feita em plebiscito era sobre a possibilidade de voto dos uruguaios fora do país. Também não passou.
Os partidários de Tabaré Vázquez não cantaram vitória, até porque todos esperavam que a mesma viesse já no primeiro turno, mas segundo analistas uruguaios, vencer na primeira seria um bônus deveras exagerado uma vez que o governo da Frente Ampla ficou bem aquém do que havia prometido. Não foi à toa também que os partidos conservadores tiveram melhoras nas urnas, ainda que tenham se mantido em índices bem inferiores de votação em relação à Frente Ampla. Agora, com a polarização entre essa nova força – que surgiu da união entre os trabalhadores e camponeses – a Frente Ampla, e o Partido Nacional, expressão do conservadorismo, a disputa promete esquentar.
Havia entre os lutadores sociais, e Carlos Liscano estava entre eles, a grande esperança de que o povo uruguaio revertesse a triste história de não levar a julgamento os crimes do regime militar. Mas não houve avanço. Os votos dados para a opção da anulação não passaram dos 48%, praticamente a mesma votação de Mujica. As chagas do regime de Strossner seguirão escondidas.
Conforme análise de Carlos Liscano o governo de Tabaré Vázquez conseguiu alguns avanços, baixou os índices da pobreza, aumentou os salários dos professores, melhorou a educação, apostou na inclusão digital iniciando este trabalho nos municípios menores. Também é ponto favorável ao governo da Frente Ampla a diminuição da corrupção, embora ela ainda subsista de forma estrutural. Liscano lembrou que não é fácil fazer mudanças num país amarrado pelo conservadorismo. “Não basta a boa vontade, a gente se enfrenta com forças poderosas da iniciativa privada”.
O vice-ministro falou igualmente sobre a dificuldade que o governo tem de mexer no passado. Poucos desaparecidos do regime militar foram encontrados e a documentação referente àquela época também segue desaparecida. “A gente sabe, pelo que já se descobriu da Operação Condor, que os militares sempre guardam os documentos. Em algum lugar eles estão”. No campo da política externa, Liscano afirmou que o Uruguai tem interesse no fortalecimento do Mercosul. “Nós somos o menor país da América do Sul, dependemos muito do comércio com o Brasil e a Argentina, precisamos estreitar cada vez mais nossos vínculos”. Questionado sobre o fato de, apesar de sua pequenez, o Uruguai ter mandado tropas para o Haiti, o dramaturgo preferiu não comentar essa questão. E, sobre a relação com os Estados Unidos, foi rápido: “todos os países querem se dar bem com os Estados Unidos, inclusive Cuba”.
Agora, as mudanças no Uruguai ficam em suspenso até que venha o segundo turno das eleições. Entre os partidários da Frente Ampla, o que se viu no domingo foi muita tristeza. Nem mesmo os candidatos conseguiam esconder a frustração de não ter ganhado no primeiro turno, além da derrota no plebiscito. As fotos nos jornais davam destaque para a alegria dos dois partidos mais tradicionais do Uruguai, o Blanco e o Colorado, os partidos mais antigos da América do Sul, conservadores de forma igual. Na verdade, ao observar as fotos, parece até que a vitória foi deles e não da Frente Ampla.
De qualquer forma Pepe Mujica foi à televisão e conclamou o povo do Uruguai a não desanimar. A campanha já começou e agora o país vai tremer. A direita se organiza e se fortalece. Será preciso muita militância para que a Frente Ampla conquiste ampla maioria no segundo turno.
Carlos Liscano com Nildo Ouriques
Texto: IELA
Texto: Davi Antunes da Luz
Texto: Lauro Mattei - Professor/UFSC
Texto: João Gaspar/ IELA