Pensadores da Pátria Grande – Gregorio Selser
Texto: IELA
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Clóvis Steiger de Assis Moura nasceu em 10 de junho de 1925, em Amarante (Piauí) e foi um dos mais consistentes e profícuos intelectuais críticos do Brasil.
Moura nos deixou um legado muito significativo e, apesar da sua ausência física desde 2003, é notável como suas interpretações sobre a realidade brasileira o tornam cada vez mais presente, sobretudo entre militantes e intelectuais críticos. Sua obra mostra-se mais salutar e incontornável diante dos dilemas do nosso tempo, no qual a superexploração e o racismo – indissociáveis — reatualizam e complexificam suas formas como contradições inerentes ao capitalismo dependente.
O piauiense foi um intelectual não acadêmico, que manteve a autenticidade e a autonomia intelectual e os seus esforços para entender e explicar o Brasil enriqueceram o marxismo e o pensamento social brasileiro. Moura nos conecta com o que há de mais potente na história, com mais perigoso para o status quo: as raízes do protesto negro; as revoltas da classe trabalhadora; o reconhecimento do conflito como mola propulsora das mudanças; com a certeza de que não faz parte do humano ser escravo, ser explorado, ser coisificado. Moura nos chama a dar importância aquilo que as classes dominantes, reconhecendo seu poder, sempre buscou ocultar: a presente e permanente luta e organização dos explorados, as diversas formas de protesto e resistências, a “práxis que nega o estatuto que desumaniza”. Poucos intelectuais brasileiros trazem essa radicalidade de análise ou se conecta tanto com a realidade e a necessidade de uma revolução social que, na concepção de Moura só pode ser feita desde abajo.
A atualidade do pensamento moureano, sobretudo as suas formulações sobre a dinâmica do capitalismo dependente, do imperialismo, do colonialismo e do racismo, sobre a questão agrária e a centralidade da luta pela terra, expressam a dramática reatualização dos dramas sociais que resultam das particularidades da luta de classes no Brasil e em toda a América Latina diante da crise estrutural do capital.
Durante toda a sua vida intelectual e militante, Moura teve uma capacidade de apreensão da realidade muito vasta e suas elaborações perpassam vários campos do conhecimento: história econômica, sociologia, artes e literatura. Teve ainda uma profícua atividade jornalística. Tudo isso sem renunciar à crítica dialética, nem cair em essencialismos ou superficialidades.
Com uma produção de mais de meio século, sua obra também abarca diferentes gêneros textuais, como a crônica, a poesia e a ficção. Dentre suas produções teóricas mais relevantes podemos citar: Rebeliões da Senzala (1959), Negro: Bom Escravo, Mau Cidadão?(1977), A Sociologia Posta em Questão (1978) e As Injustiças de Clio: O Negro na Historiografia Brasileira (1990), A Dialética Radical do Brasil Negro (1994) e A Sociologia Política da Guerra Camponesa de Canudos – Do Desaparecimento de Belo Monte ao MST (2000).
No seu centenário de nascimento, lembrar de Clóvis Moura é celebrar a vida e o legado de um intelectual orgânico da classe trabalhadora. É reivindicar também a potência e a vivacidade de quem defendeu — e nos inspira a seguir nessa trilha — que a emancipação humana e a plena superação dos nossos dilemas como sociedade passam pela destruição do racismo e do capitalismo que o sustenta.
Texto: IELA
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Texto: Resumen Latinoamericano/ Prensa Comunitária
Texto: IELA
Texto: IELA