Operação Águia – Assassinato de Dom Oscar Romero/1980 ( E 15)
Texto: Camila Feix Vidal - IELA
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Foto: Paul Plaza / Senado República de Chile
A vitória de Jeannette Jara reorganiza o cenário político dentro do partido governista. Pela primeira vez em muitos anos, uma figura com histórico de sindicalismo, discurso classista e resultados concretos está na vanguarda do espaço progressista.
Nas primárias presidenciais do partido governista chileno, realizadas neste domingo, Jeannette Jara, ex-ministra do Trabalho e líder com raízes sindicais, venceu com mais de 60% dos votos válidos. Atrás dela estavam Carolina Tohá (28%), membro do partido socialista democrático ligado ao antigo partido Concertación; Gonzalo Winter, da Frente Ampla (9%); e Jaime Mulet, representante do regionalismo (2,7%). Embora tenha sido uma eleição voluntária com baixa participação, o resultado tem claro peso político: uma agenda classista, centrada em trabalho, salários e seguridade social, venceu.
Jeannette Jara não é uma outsider nem uma figura de marketing. Ela foi Ministra do Trabalho por três anos e, a partir daí, promoveu três das políticas mais valorizadas do governo Gabriel Boric: a redução da jornada de trabalho para 40 horas, aumentos sustentados do salário mínimo (com a participação da CUT, principal central sindical do Chile) e a reforma da previdência que busca acabar com as aposentadorias miseráveis do sistema de capitalização individual herdado de Pinochet.
O irônico — e revelador — é que essa agenda nunca foi prioridade para a Frente Ampla, a coalizão do próprio Boric. Desde que chegou ao poder, o presidente se apoiou em alianças com a antiga Concertación e em acordos com a direita parlamentar, negligenciando os movimentos sociais e sindicatos que o acompanharam até La Moneda. O resultado: desilusão entre as bases e um governo que evitou abordar a contradição entre capital e trabalho.
Uma pesquisa nacional de março deste ano revelou claramente esse sintoma. A desaprovação ao governo permanece em torno de 60%. No entanto, a política mais positivamente reconhecida pela população foi a agenda trabalhista e, em particular, a lei das 40 horas, promovida por Jara. Enquanto o governo buscava reformas institucionais que nunca se concretizaram, foi o mundo do trabalho que repercutiu na população.
A vitória de Jara reorganiza o cenário político dentro do partido governista. Pela primeira vez em muitos anos, uma figura com histórico de sindicalismo, discurso classista e resultados concretos está na vanguarda do espaço progressista. Não se trata de uma candidatura simbólica: trata-se de uma nomeação com foco majoritário, que resgata o conflito distributivo como foco do debate.
É tudo uma ladeira acima? Claro. O político de extrema direita José Antonio Kast lidera as pesquisas com cerca de 24% e conta com o apoio explícito dos poderes econômicos, da grande mídia e dos setores mais reacionários da sociedade chilena. Mas o fato importante é que, pela primeira vez, um candidato que desafia essa ordem o faz não por impotência ou nostalgia, mas sim pela experiência de governo e com legitimidade social.
Se Jara vencer, será um divisor de águas para o progressismo regional. Mas mesmo que não vença, sua liderança pode se tornar o ponto de partida para uma oposição forte e popular, enraizada no mundo do trabalho, algo que falta no Chile há décadas. Em qualquer cenário, o que essas primárias abriram é uma possibilidade: repensar um projeto político que não se limite a gerir o que existe, mas que desafie o modelo de baixo para cima, com uma agenda de direitos concretos e com o trabalho no centro do palco.
Em um momento em que a extrema direita cresce em muitos países, apelar ao medo e ao ódio, colocando dignidade, salários e expectativa de vida na mesa, não é apenas uma resposta: é um ato profundamente político.
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Leonel Poblete Codutti é um profissional de comunicação e assessor sindical. Ele mora no Chile e escreve sobre política latino-americana a partir de uma perspectiva de classe.
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