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Diante do imperialismo, como árvores

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Por IELA em 01 de abril de 2011

Diante do imperialismo, como árvores
Por Raquel Moysés – jornalista
01.04.2011 – Há  sete anos  o seminário internacional Jornadas Bolivarianas traz para a capital catarinense reconhecidos pensadores do Brasil e de outros países.  O evento, que  se consolida como  espaço relevante na vida intelectual e comunitária da Universidade Federal de Santa Catarina e da cidade, repercutindo no país e no exterior,   começa nesta segunda,  4 de abril, às 18h30min, no Auditório da Reitoria da  UFSC,  se estendendo até o dia 7, quinta-feira . Nesta sétima edição das Jornadas, promovidas pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA/UFSC),  o tema a ser discutido é Imperialismo e Cultura na América Latina, com duas grandes conferências diárias. Na noite desta segunda-feira, o conferencista convidado  o cubano Fernando Rojas, vice-ministro da Cultura da nação caribenha, que vai abordar o tema “Cuba: do experimento neocolonial à liderança  antiimperialista”.   
Debates desafiadores caracterizam as Jornadas Bolivarianas, pois, como lembra Waldir Rampinelli, professor de História e presidente do IELA, elas têm trazido para dentro da universidade brasileira temas  que já não são mais moda no mundo acadêmico e que,  possivelmente,  raramente aparecem nas discussões das  universidades do chamado eixo Rio/São Paulo, embora frequentes em importantes universidades latino-americanas.  Este é um dos motivos de as Jornadas representarem hoje um espaço de discussão teórica com importância nacional e internacional. Elas trouxeram para a cena intelectual e teórica nestes sete anos temas frequentemente desprezados pela academia, como nacionalismo, socialismo, a política imperialista estadunidense, teoria social e eurocentrismo, a crise das ciências sociais, bolivarianismo e poder popular.     
Sobre o tema desta  sétima edição das Jornadas,  Rampinelli lembra que trata de realidades  atinentes desde a chegada dos europeus  à América,   que vieram trazendo a espada, que é a força bruta,  e a cruz, que é ideologia imposta. “O  intuito dos que aqui chegaram sempre foi o  de dominação completa, o que poderíamos chamar de colonialismo imperialista cultural. E quem resume isso muito bem  é Pablo Neruda, ao dizer: ‘A  espada, a cruz e a fome iam dizimando a família selvagem’”. 
Todavia, a luta e a resistência  ao colonialismo imperialista cultural começou já quando Colombo fincou a bota na América. “Tanto é que o primeiro levante indígena contra isso foi comandado por um cacique indígena chamado Enriquillo,  na ilha Hispaniola, hoje Haiti e República Dominicana”, explica Rampinelli. Este levante, em forma de guerrilha nas montanhas, que durou quase duas décadas, já era  expressão da luta contra o colonialismo imperialista cultural. “Só que os lutadores foram atraídos pelos  conquistadores com a promessa de um pacto e foram todos liquidados,” recorda o historiador.
O fato é que os povos originários se insurgiram   contra os colonizadores desde o início da conquista violenta. Escravizados e subjugados, eles se  opunham principalmente de duas maneiras, comenta Rampinelli.  Primeiro,  através da ação educativa das mães e dos velhos, que contavam  às crianças a  história  de seu povo, seus usos, costumes sua  luta e  resistência. A segunda forma de enfrentar os opressores   era a negação ao trabalho, um modo de resistência que levou os invasores a chamarem os “indígenas” das Américas de “vadios e preguiçosos”. 
Rampinelli destaca  ainda a grande resistência cultural  protagonizada pelos negros escravizados, que também se rebelaram e utilizaram a  ação educativa para não permitir que seus meninos e meninas esquecessem a própria história. No Brasil, por exemplo, os povos africanos escravizados se embrenharam em locais de difícil acesso,   criando os   quilombos, onde podiam preservar seus saberes,  sua cultura,   economia, usos e costumes. Esses refúgios remotos nas matas e montanhas formaram  aldeias  em que os  negros, feitos pela própria luta homens e mulheres livres, praticavam uma economia  de subsistência e até o comércio. Entre os que mais prosperaram, o mítico quilombo dos Palmares, em Alagoas,   durou quase um século.
Antiimperialistas na história
Povos e homens foram fundamentais no processo de resistência e luta dos povos latino-americanos. E um desses homens – Simón Bolívar –  inspira  o nome  das Jornadas Bolivarianas.  O Libertador, cognome que imortaliza Bolívar na  história,,  lutava pela concretização da Pátria Grande, a unidade latino-americana para enfrentar o imperialismo inglês e o estadunidense, que ele já previa nos anos das guerras de independência da América espanhola. O sonho de Bolívar,  ao conceber a  Pátria Grande,  era de poder enfrentar em   pé de igualdade a Inglaterra e  não permitir que os Estados Unidos,  que já despontavam como uma potência no início do século XIX,  fincassem garras no continente e tomassem  conta da América Latina. 
Na segunda metade do século 19, Rampinelli destaca a figura de José Martí, possivelmente quem mais teorizou, até então, sobre a questão  luta antiimperialista e que preconizou, como Bolívar, o internacionalismo. “Ele defendia a tese de que a América fosse para a humanidade e não subjugada pelas  potências, dizendo que devíamos ser como árvores, para impedir a passagem do gigante de sete léguas, leia-se Estados Unidos.”
Martí,  advertia, em 1891, no seu emblemático texto “Nuestra América”:  Ya no podemos ser el pueblo de hojas, que vive en el aire, con la copa cargada de flor, restallando o zumbando, según la acaricie el capricho de la luz, o la tundan y talen las tempestades; ¡los árboles se han de poner en fila para que no pase el gigante de las siete legua! Es la hora del recuento, y de la marcha unida, y hemos de andar en cuadro apretado, como la plata en las raíces de los Andes.
Ao falar em anti-imperialismo assoma também a figura do  cubano Julio Antonio Mella, fundador da Liga Antiimperialista das Américas, líder do movimento estudantil e revolucionário nas lutas das organizações operárias e estudantis contra o imperialismo estadunidense. Rampinelli destaca ainda Che  Guevara, que  defendia a tese de que seriam precisos um dois ou três Vietnãs para derrotar o imperialismo.  José Carlos Mariátegui,  socialista antiimperialista, é outro intelectual importante neste cenário de pensadores libertários antiimperialistas. O intelectual peruano afirmava que,   para existirem nações na América Latina,  seria preciso enfrentar o imperialismo, mas também a oligarquia e a burguesia latino-americana, sócias menores do imperialismo.
Na atualidade, diz Rampinelli,  é preciso não esquecer    quem mais enfrentou o imperialismo estadunidense,inclusive vencendo-o militarmente, na invasão da Baía dos Porcos. “E o caminho consistente que Fidel Castro encontrou na luta antiimperialista  foi o socialismo,  com raízes cubanas. É por isso ele se declara marxista- leninista-martiano.”   
Rampineli ressalta  a importância de se discutir o   imperialismo cultural no ambiente universitário, lembrando que este fenômeno   atinge de modo preocupante as crianças, adolescentes e jovens, por meio, principalmente,  da  mídia, de jogos de computador, história em quadrinhos, cinema hollywoodiano,   Disneylandia e seus correlatos.  “E por meio da tecnologia, por exemplo, que se vende um modo de ser estadunidense e europeu, que  se apossa de cabeças e corações. E é dessa forma que a realidade deles, que é caótica, acaba sendo  imposta como a ‘verdadeira civilização’”.
A universidade, predominantemente,  também  é uma repetidora do imperialismo cultural,  diante do qual  se esfuma  a crítica e certos temas passam a ser vistos como fora de moda, quando não uma “heresia”. Mas  enquanto uma certa intelectualidade despreza temas como o nacionalismo,  países como os Estados Unidos atacam os nacionalistas,  inclusive assessorados por intelectuais de direita.  Rampinelli cita o documento de Santa Fé II,  de 1988, que orientou a política externa do Departamento de Estado estadunidense, o qual  afirmava que “o matrimônio do nacionalismo com o comunismo na América Latina representava o maior perigo para a região e para os interesses dos Estados Unidos.”   Isso porque, diz o professor,  “o nacionalismo enfrenta o imperialismo cultural.”  
Esses temas e outros tantos  vão aparecer nessas jornadas de abril do   IELA. Elas  contam  com o apoio do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH), Centro Sócio-Econômico (CSE), Secretaria de Cultura e Arte (Secarte), Departamento e Pós-Graduação em Serviço Social, Departamento e Pós em Ciências Econômicas, Pós-Graduação em História e Sinergia – Sindicato dos Eletricitários de Florianópolis e Região.
Confira a programação:04 a 07 de abril de 2011
Florianópolis – Brasil
 04 de abril de 2011
– Noite – Auditório da Reitoria – UFSC
18h30 –  Abertura oficial das Jornadas Bolivarianas- 7ª edição
19h – Conferência – Cuba: do experimento neocolonial à liderança antiimperialista
Fernando Rojas – Cuba
Coordenação: Beatriz Paiva
05 de abril de 2011
– Manhã – Auditório da Reitoria – UFSC
9h – Conferência: O imperialismo na América Central
Rafael Cuevas Molina – Costa Rica
Coordenação: César Medeiros
– Tarde – Auditório da Reitoria – UFSC
14h30 – Apresentação de trabalhos
Coordenação: Vitor Hugo Tonin
– Noite – Auditório da Reitoria – UFSC
18h30 – Conferência: Imperialismo e cultura andina
Silvia Rivera Cusicanqui  – Bolívia
Coordenação: Fernando Correa Prado
Lançamento do livro “O Mapa da Crise”, organizado por Nildo Ouriques e Elaine Tavares
06 de abril de 2011
– Manhã – Auditório da Reitoria – UFSC
9h – Conferência: O cinema latino-americano e a indústria cultural
Sérgio Santeiro – Brasil
Coordenação: Nildo Ouriques 
– Tarde – Auditório do CCE
14h30 às 18h – Reprodução de filmes de Fernando “Pino” Solanas –
– Noite – Auditório da Reitoria – UFSC
18h30 – Conferência: A mídia e o Imperialismo
Aram Aharonian – Venezuela
Coordenação: Elaine Tavares
07 de abril de 2011
– Manhã – Auditório da Reitoria – UFSC
9h – Mesa redonda: Imperialismo e cultura na América Latina
Aram Aharonian, Fernando Rojas, Rafael Cuevas Molina, Sérgio Santeiro e Nildo Ouriques
Coordenação: Waldir José Rampinelli
– Tarde – Auditório do CSE – UFSC e Hall da Reitoria
14h30 às 18h – Reprodução de filmes de Fernando “Pino” Solanas – 
Noite
20h – Em frente à reitoria
Festa Latino-Americana
 
Outras informações no IELA/UFSC (www.iela.ufsc.br). Telefone 3721-4938
Para entrevista com Waldir Rampinelli: 8823-1373
 

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