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Eleições gerais no Paraguai dia 30 de abril

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Por Elaine Tavares em 14 de abril de 2023

Eleições gerais no Paraguai dia 30 de abril

Efraín Alegre e Santi Peña disputam o primeiro lugar

No final deste mês, dia 30, o vizinho Paraguai realiza eleições gerais com a escolha de presidente, 45 senadores, 80 deputados, 17 governadores e 17 juntas departamentais. Para a presidência são 13 candidatos, mas os que realmente estão em disputa cerrada são os da aliança Honor Colorado, Santiago Peña, representando a direita e o da Aliança Concertación, Efraín Alegre, que representa os liberais.

Peña representa o projeto histórico do Partido Colorado que mantém o país cativo há 70 anos, sofrendo uma única interrupção que foi durante o governo de Fernando Lugo, o qual acabou deposto num golpe parlamentar liderado justamente pelo Partido Colorado. Como bem explica a senadora Esperanza Martínez, em uma entrevista a Nodal (Notícias de América Latina y Caribe), o modelo colorado segue a lógica da concentração de riqueza, de assalto ao estado, de lavagem de dinheiro, do narcotráfico, da violência, elementos que se mantiveram intocáveis no atual governo de Horacio Cartes. Segundo Martínez, Peña não apenas representa a direita paraguaia, mas também o movimento de ultradireita liderado por Trump e seguido por Bolsonaro, de corte fascista e de destruição de direitos sociais.

Na oposição e com melhores resultados nas primeiras pesquisas está Efraín Alegre, atual presidente do Partido Liberal Radical Auténtico, que está candidato representando uma aliança que junta partidos e organizações de esquerda, progressistas, social-democratas, alguns setores de centro e até de direita que buscam romper com o domínio colorado. É uma composição bastante elástica que pode até vencer as eleições, mas certamente terá problemas no futuro quando chegar a hora de governar de verdade. Com uma aliança tão ampla, o que poderá ser unidade? Difícil prever.
Na verdade, o discurso que permeia essa aliança é o mesmo que vivemos no Brasil: o de segurar a onda neofascista, o crime organizado, defender a democracia e garantir que o Estado possa atuar em benefício da maioria e não só de alguns. Além disso, a batalha tem sido para que os três poderes do tal tripé democrático possam voltar a funcional com legitimidade, afinal o debate que se trava no país é de que estão tomados por uma máfia.

Conforme conta a senadora Esperanza Martínez, o Partido Colorado, ainda que esteja em segundo lugar nas pesquisas tem muito poder no país e controla com o chamado “voto duro” cerca de 30% do eleitorado. Isso porque, de fato, não é o Estado, mas o partido que aparece como benfeitor quando se trata de visualizar algum direito ou serviço público. Isso leva a população empobrecida a se manter fiel a partir dos laços de favor que acredita dever aos políticos.
Assim como aconteceu com o Brasil, o governo dos Estados Unidos tem sinalizado favoravelmente a uma mudança no Paraguai, é claro, desde que não mexam com seus interesses. Ocorre que os desmandos e a corrupção no governo de Cartes já estão se tornando um entrave e, como é sabido, os EUA não têm qualquer pejo em trair seus velhos aliados se for para manter seus interesses seguros. Assim que o nome de Efraín Alegre passa a ser uma possibilidade, principalmente pelo fato de estar disputando a partir de uma aliança bastante ampla.

A senadora Martínez, que foi ministra da Saúde no governo Lugo, acredita que Efraín, hoje, consegue aglutinar os mais variados interesses, inclusive dos jovens que querem viver num país capaz de garantir direitos sociais e vida digna, livre da máfia e da corrupção. Ou seja, a lógica do “menos ruim” é a que parece dirigir os anseios dos paraguaios, que parecem estar dispostos a derrotar o Partido Colorado. Ainda assim, não há que subestimar todo o poder da capilaridade colorada que se expressa no clientelismo junto aos empobrecidos, dentro do funcionalismo público e na velha política do toma-lá-dá-cá.

O Paraguai é um país pequeno, tem sete milhões de habitantes e pouco mais do que quatro milhões estão aptos a votar. As duas chapas presidenciais tem se igualado nas pesquisas que vem sendo divulgadas até chegarem a um empate técnico. A campanha segue e a expectativa avança. Vencendo Santi, tudo segue igual, vencendo Efraín os desafios serão grandes dentro de uma aliança demasiado ampla. Assim que o valente Paraguai, que já foi um país absurdamente autônomo e soberano – tendo sido destruído pela guerra da tríplice aliança, desgraçadamente liderada pelo Brasil – terá uma decisão importante para fazer neste dia 30: ou avança para o ultraconservadorismo ou aposta na socialdemocracia que segue sendo insuficiente.

 

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