Equador: o passado de volta
Texto: Elaine Tavares
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O IELA realizou o primeiro encontro da REB (Rede de Estudos Brasileiros) no último final de semana em Florianópolis. Vieram estudiosos e pesquisadores de várias partes do país e até dos Estados Unidos. Foi um mergulho no debate dos grandes temas que envolvem a realidade brasileira tais como a ação do império, a cultura, a revolução, a história, a necessidade de uma teoria para o Brasil, a economia e a soberania. Por fim, no feriado de primeiro de maio, a rede discutiu aspectos organizativos com o objetivo de inserir o ensino dos estudos brasileiros nas escolas e faculdades bem como o de fomentar o debate junto à população.
A abertura do encontro contou com a presença do reitor Irineui Manoel de Souza e do vice-diretor do CSE, Daniel Castelan, que saudaram mais essa iniciativa do Iela visando promover o pensamento crítico. Depois, começando os trabalhos, foi o tempo de uma discussão bastante profunda sobre a política externa dos EUA para o Brasil, com a professora Camila Vidal. Afinal, é impossível pensar o Brasil sem compreender a conexão com o Império, sempre focado em manter seu domínio sobre o maior país da América Latina. Não são poucos os eventos significativos da vida brasileira que têm os Estados Unidos como protagonista visível ou invisível.
Tivemos também a presença do historiador Mário Maestri que, apesar de estar na Itália, trouxe, via internet, a sua contribuição sobre o tema escravidão que é objeto de seus estudos de uma vida. Uma visão crítica e fora da caixa que levantou acalorado debate.
Por fim, o professor Waldir Rampinelli trouxe a experiência das revoluções já acontecidas no espaço da América Latina e as marcas que provocaram na realidade brasileira.
O segundo dia de discussões teve a presença de um dos mais importantes intelectuais do país, Gilberto Felisberto Vasconcellos. Ele apresentou aspectos da cultura brasileira que considera absolutamente relevantes para se pensar num projeto de Brasil e na construção de uma teoria revolucionária. Fez um diagnóstico da realidade apontando o equívoco que sistematicamente é cometido por parte da esquerda de não levar em consideração a cultura popular e o folclore. A partir daí apresentou sua tese acerca do que chama de “matricídio”. Segundo ele, no país onde a mãe sempre foi considerada a pedra angular, percebe-se uma viragem assustadora: o sistemático assassinato da mãe, que se expressa cotidianamente nos feminicídios, na exploração da natureza, no apoio à propostas fundamentalista etc… Terminou sua fala sugerindo que qualquer teoria revolucionária que se estabeleça deve levar em conta a cultura nacional.
Ainda no segundo dia do encontro da REB voltou-se a debater elementos da história que são chaves para compreender o Brasil. Foi a vez do argentino Alejandro Olmos Gaona, historiador, trazer uma visão bastante crítica sobre a Guerra contra o Paraguai, na qual o Brasil teve um comportamento subimperialista. Para além das causas e consequências do conflito, Alejandro procurou evidenciar a real origem da guerra. Buscando fugir das versões mitificadas tanto à esquerda como à direita, o historiador trouxe fatos concretos, documentados, que na sua complexidade de mosaico, foram formando uma totalidade capaz de ser entendida em todos os seus aspectos. Para Olmos, conhecer a história em sua profundidade é o que permite apontar o futuro.
A segunda conferência da tarde de domingo foi a do professor Nildo Ouriques, que trouxe uma análise bastante diferenciada da realidade brasileira. Sem floreios, ele desnudou o processo de aprofundamento da dependência e subdesenvolvimento pelo qual passa o país. Mostrou o aumento vertiginoso da produção de grãos, a destruição da indústria nacional, o despreparo dos movimentos sindicais e a falta do debate sobre o socialismo. Segundo ele, urge uma teoria revolucionária que aponte caminhos novos para o Brasil assim como é absolutamente necessária a constituição de uma vanguarda capaz de caminhar com o povo.
O último palestrante do encontro da REB foi Gilberto Bercovici que falou, também em via direta através da internet, sobre o tema soberania econômica, centrando sua fala na necessidade da nacionalização dos recursos estratégicos, tais como o petróleo e outros recursos minerais, que seguem escorrendo das mãos do povo brasileiro. Ele discorreu sobre o processo de privatização do patrimônio nacional e discutiu propostas de superação desta condição de dependência. Um debate estratégico para se pensar o país.
Por fim, no terceiro dia, os participantes discutiram como organizar de maneira sistemática os estudos dos autores brasileiros bem como levar esse debate para as escolas, universidades e população. Já ficou também apontado um segundo encontro a acontecer em 2024.
Fotos do encontro: Felipe Maciel Martínez e Elaine Tavares
Texto: Elaine Tavares
Texto: Rafael Cuevas Molina - Presidente AUNA-Costa Rica
Texto: Davi Antunes da Luz
Texto: IELA
Texto: IELA
Texto: Davi Antunes da Luz