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Entre o visível e o invisível

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Por IELA em 02 de outubro de 2015

Entre o visível e o invisível

CIEPs – Escolas de tempo integral criadas por Brizola

Difícil hoje é se transformar em militante ou pensador nacionalista marxista sem que antes se tenha passado pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA) em Santa Catarina. O IELA nos oferece anualmente calorosas discussões acerca da política nacional e da unidade da Pátria Grande, sonhada pelos revolucionários latino-americanos.  Este ano não foi diferente. O tema foi literatura e política na América Latina, uma temática complementar nos estudos da realidade econômico-cultural dos países que anos a fio vêm sendo subjulgados pelos colonizadores.
O livro Política britânica no Rio da Prata, do ensaísta argentino Raúl Scalabrini Ortiz, possui um capítulo que me desperta as reminiscências do evento. O título do capítulo é “a política do visível e a política do invisível”. Na exposição sobre Oswald de Andrade, o professor Gilberto Felisberto Vasconcellos levantou questões ligadas à vida e ao percurso do escritor modernista na política nacional. Esclareceu o estereótipo que o persegue, de ser um “escritor piadista”. A história não é o que poderia ter acontecido, mas o professor Gilberto Vasconcellos também nos fez pensar sobre como teria sido o encontro entre Leonel Brizola e Oswald de Andrade, o qual provavelmente teria mudado o pensamento em relação à política nacionalista de Getúlio Vargas na década de 30.
A apresentação ensejou controvérsias. Um senhor jornalista, o qual não me ocorre o nome agora, de origem sul rio-grandense, se dirigiu ao púlpito com propósito de fazer pergunta para o professor. Começou a fala alcunhando de “engraçadinho” aquele que minutos atrás havia explicado a maneira ardilosa com a qual a direita oculta os verdadeiros pensadores latino-americanos. Usou do mesmo artifício personificador para iniciar o questionamento, que por sinal foi anacoluto do início ao fim.
Depois bradou aos participantes jovens que estavam no anfiteatro (entre eles eu) que Gilberto era desonesto por fazer uma defesa apaixonada de Leonel Brizola. Disse que o político gaúcho não deveria ser levado tão a sério, pois padecia de machismo arrogante e era um burguês. Relatou que certa feita almoçou no “latifúndio” de dona Neuza Goulart com o ex-governador. Na ocasião havia comido carne de ovelha.
O jornalista não compreendeu, pois nunca sentou nas cadeiras de uma Brizoleta ou CIEP, que a luta destemida de Leonel de Moura Brizola sempre foi contra o capital internacional que massacra e espolia o nosso povo. Também comeu mosca na questão educacional da política pedetista de 82, a qual visava proporcionar ao povo mais necessitado do Rio de Janeiro educação em tempo integral. E não só educação, mas saúde, alimentação e cultura. Queria eu ter tido o privilégio de comer com Brizola. Ao invés de questionar se a carne era de ovelha ou o frango biônico servido pelo bolsa-família, teria me preocupado com os latino-americanos que a cada dia estão mais depauperados com uma classe dirigente subalterna ao capital internacional.
Se Brizola fosse machista, tal como foi dito, não teria construído para o povo brasileiro a apoteose do samba. Festa dionisíaca com diferentes gêneros e classes, sendo uma das maiores expressões populares do país. Brizola não pensou apenas no carnaval que começa na sexta-feira e termina na quarta. Foi além das construções públicas faraônicas que permeiam as cidades.  Construiu as salas de aula no sambódromo para que as crianças pudessem brincar tanto em fevereiro quanto no resto do ano.
É aqui que recorro a Scalabrini Ortiz: “tudo o que nos rodeia é falso ou irreal”. O jornalista sul rio-grandense não sacou as contradições entre Brizola e o capital monopolista. E mais: ter chamado atenção para a experiência privada que teve com o Leonel Brizola, menosprezando-o com infames referências. Oxalá o jornalista faça revisão crítica da política de seu conterrâneo, constatando que em nada se assemelha às políticas sibilinas que nos governam.
 
 

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