O Ilaese e os trabalhadores
Texto: IELA
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Estudantes em greve em Porto Rico
Por Adital e Cuba Debates
02.06.2010 – A greve dos estudantes da Universidade de Porto Rico (UPR) já passa de quarenta dias e tem chamado a atenção do mundo, despertando a solidariedade internacional para com a causa. Um exemplo disso é que em Cuba, também país caribenho, as faculdades de Filosofia, História e Sociologia, da Universidade de Havana, emitiram um comunicado no qual os seus alunos manifestam solidariedade para com os estudantes grevistas porto-riquenhos.
“Nós, estudantes da Universidade de Havana, sentimos a urgente necessidade de apoiar aos nossos companheiros militantes porto-riquenhos. Entendemos que o direito a educação é universal e como jovens revolucionários é nosso dever desafiar qualquer tentativa que pretenda miná-lo. Levantemo-nos no espírito de Filiberto Ojeda, que foi criminosamente assassinado pelo imperialismo, para fazer constar nosso compromisso irrevogável com a juventude porto-riquenha e a liberdade definitiva desta Pátria irmã”, diz o manifesto.
O chefe da Missão de Porto Rico em Cuba, Edwin Gonzalez, qualificou como muito digna a atitude dos estudantes de seu país, e os felicitou por suas justas demandas para buscar uma solução à redução das dotações orçamentais. Ele lembrou ainda que em Porto Rico, embora a universidade seja pública, é necessário pagá-la.
Rafael Cancel Miranda, lutador independentista porto-riquenho, recordou que o país é uma neocolônia dos Estados Unidos, que sofre com a crise econômica imposta pelo neoliberalismo, que já custou milhares de desempregos. Ele denunciou que as forças militares atropelam aos estudantes e trabalhadores que reclamam seus direitos.
Desde o dia 13 de abril, os alunos protestam contra o aumento de cobrança da matrícula, corte do orçamento na instituição e privatização de prédios do complexo universitário. A greve está acontecendo na sede da UPR, em Rio das Pedras e tem o apoio de professores e empregados.
Os protestos iniciaram por causa da imposição de uma lei promulgada pelo governo como resposta ao estado de crise fiscal. Porém, a nova legislação fez com que dezenas de servidores públicos da ilha caribenha, perdessem seus empregos. A lei pressupõe um recorte de milhões de dólares aos serviços públicos do país, entre os quais está a educação pública.
Os alunos grevistas defendem que a universidade pública tem o dever de democratizar a educação, a fim de garantir que os futuros profissionais sirvam à sociedade. Eles denunciam que tentam negociar com a administração da UPR, porém, a universidade se nega a dialogar.
Os grevistas porto-riquenhos estão ocupando 10 dos 11 campi universitários, resistindo ao abuso injustificado da polícia. Os estudantes insistem em dialogar com a administração e reiteram que não abandonarão a luta até que o governo renuncie a sua política que prejudica, não só o setor educacional, como toda a população do país. Em 18 de maio, foi realizada uma greve nacional, em que diversos setores mostraram seu apoio e solidariedade aos estudantes grevistas.
“A universidade é reflexo da realidade que enfrenta o país. Denunciamos que a degradação das condições de vida e nossas condições de estudo são produtos da má administração, desperdício e corrupção por parte de um governo que favorece os interesses privados e procura reduzir o ambiente educativo a uma mera transação entre cliente e comerciante”, expressaram os manifestantes.
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Cuba Debate – O ódio e vingança do governador colonial Luis Fortuño contra os estudantes em greve da Universidade de Puerto Rico parecem não ter limites.
Desde o início do movimento, há cinco semanas, a polícia atacou os jovens no campus de Rio Piedras, em violação da autonomia universitária e tem-se ouvido freqüentes ameaças do oficial de uso da força contra os grevistas.
A ilha viu com indignação a fúria com que o corpo de elite da polícia tratou os pais, ativistas e artistas que tentaram passar alimentos aos alunos em resistência através dos sitiados portões do campus de Rio Piedras.
Há poucos dias os capangas de Fortuño fizeram cair seus bastões e gás pimenta pulverizada em centenas de estudantes universitários e trabalhadores que manifestaram no Hotel Sheraton de San Juan em rejeição as políticas anti-sindicais e de privatização do governador a poucos metros de onde este desfrutava de um jantar cujo prato custa US $ 1.000, um fato que, por sua natureza, sugere uma emboscada premeditada. Só o forte apego à luta pacífica dos manifestantes impediu que a provocação fizesse aumentar a violência fora de controle.
Fortuño e o bloco de poder chamado Estado Livre Associado não podem calcular, em sua arrogância e mediocridade colonialistao, o enorme impulso que o movimento estudantil atual pode imprimir ás lutas sociais em Porto Rico, porém seu instinto de classe o faz sentir que a mínima concessão aos estudantes seja um precedente perigoso fora do campus. Em troca, os professores, intelectuais e artistas patriotase, é claro, os estudantes, são conscientes do significado histórico do movimento, herdeiro de uma vigorosa tradição insurgente.
Ao rejeitar frontalmente a tentativa de liquidar a universidade pública mediante a exclusão dos estudantes de baixa renda se converteu no símbolo da resistência porto-riquenha contra as medidas ultra-neoliberales do governo de Fortuño.
Na proclamação do primeiro dia de transmissão da da Radio Greve o estudante Ricardo Oliveira declarou: … o movimento está apenas começando e promete ser forçado a levantar um processo de luta social em Puerto Rico … não toleraremos que as políticas sociais e econômicas do governo visem humilhar o povo trabalhador… fazer deste um espaço que ajude a restaurar a esperança perdida … são idéias que permitem entender o que está em jogo na greve de estudantes que não por acaso ganhou a batalha da opinião pública e já conta com o apoio fundamental dos artistas e da coligação Todos Porto Rico Por Porto Rico, que agrupa os sindicatos de trabalhadores e a maioria das expressões do movimento popular. Em um caso insólito, os professores da universidade decidiram aderir à greve se continuarem a repressão contra os jovens e não exisitr vontade de diálogo por parte das autoridades da instituição.
O presidente da Universidade, nomeado pelo governador, e o Conselho de Curadores, nomeados pelo presidente, têm demonstrado grande cinismo e obstinação ao se sentar para negociar com os representantes eleitos dos estudantes, que se viram forçados, dada a enorme força moral e política do movimento e ao apoio quase unânime que conta na ilha.
Esses funcionários são, ademais, pessoas contrárias ao espírito e ás práticas da universidade, como tem sido denunciado por numerosos professores. É fácil explicar por que razão não há progresso nas negociações, e até retrocesso, pois quando os administradores aceitam um ponto em uma reunião, rejeitam-no na seguinte.
Mais de um mês de greve estudantil frente a arrogância e a repressão do poder colonial dos Estados Unidos em Porto Rico já é uma gigantesca proeza que merece o reconhecimento e a solidariedade dos estudantes e dos povos, principalmente os povos da Nossa América.
A Rádio Greve disse que este movimento contém o sonho do “outro mundo possível” e que os alunos não darão “nenhum passo atrás.”