A escala 6 x 1 e os trabalhadores
Texto: Elaine Tavares
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Congresso das FARC começou nesse domingo
No 28 de agosto se instalou o Congresso Fundacional do Novo Partido das FARC-EP. Esta afirmativa soa muito estranha para o público brasileiro, acostumado a ver esta organização como somente um grupo “narcotraficante”, mas com seus 53 anos foi o partido comunista alçado em armas mais antigo do continente e de uma doutrina e história de luta popular muito além do imaginado por nós.
Os significados políticos os mencionarei depois, pois a questão mais importante e de fundo é: 25.000 pessoas deixarão a vida clandestina, dentre os quais eu e muitos dos quais aprendi a amar e admirar nestes dois anos que vivo na Colômbia. Minha vida clandestina foi relativamente curta. Cerca de quatro meses depois de chegar neste país me dou conta que os movimentos sociais aos quais contribuía eram, na verdade, braços civis da FARC-EP.
Acostumado a atuar em movimentos democráticos, isto me deixa um breve tempo em dúvidas e contradições, mas ao conhecer e respeitar o trabalho destes processos sociais decido dar uma oportunidade de ver o que acontecia, quem eram. Em abril de 2016, perto da assinatura do acordo de paz, começa uma aproximação com a organização em si, que é dada como definitiva ao principio de 2017, no qual ingresso ao Partido Comunista Clandestino Colombiano, setor civil das FARC-EP.
Em resumo, a história das FARC-EP inicia com a morte de Jorge Gaitán, uma espécie de João Goulart colombiano, que gera um conflito entre os dois partidos de então e leva ao refúgio de liberais aos montes, formando guerrilhas que também se somam ao Partido Comunista Colombiano. As FARC-EP e o Partido Comunista Colombiano são a mesma coisa até o ano 1993, quando no marco da crise da URSS, o PCC se afasta da luta armada e a guerrilha cria sua própria versão do partido para organizar seus membros não-guerrilheiros. Este partido, somado com os milicianos (pessoas que levavam vida de civis, mas que faziam ações armadas) e guerrilheiros, é o núcleo duro desta nova organização cuja cifra de membros é citada acima.
Hoje, por fim poder dizer que acreditamos em um projeto político, falar sem medo para as milhares de pessoas que gostam de como trabalhamos, mas que nunca souberam onde realmente atuávamos, reunir-nos abertamente, escutar as canções, ler os livros, sem medo de perseguições é verdadeiramente o grande marco deste processo histórico.
Mas, além disto, o Congresso que inicia hoje (28.09) é um marco para o Continente. Por primeira vez, se vai criar um Partido com capacidade real de incidência pela esquerda depois da crise do ciclo progressista. O que significa lutar pela democracia em um contexto mundial no qual ela está descreditada? Por que não plantear a luta armada no marco de uma institucionalidade tão débil? Estas duas perguntas centrais para o contexto de luta das esquerdas latino-americanas, que em muitos países tem uma conotação ainda muito abstrata, temos a urgência de responder até a sexta-feira. Pois, se para muitos, principalmente no contexto brasileiro, um partido comunista é um bem usurário para vincular uma identidade minimamente rebelde, o partido para nós é a garantia e razão de nossas vidas, literalmente. Se nos diluímos, temos mais chances de morrer.
Hoje, muitos dos seus membros dependem economicamente da organização. Não só os, em média, 8.000 guerrilheiros que terão que ser reinseridos na vida civil, mas todos os membros que elegemos conscientemente deixar nossos trabalhos para dedicarmos tempo integral às tarefas organizativas, ou os que sofreram perseguições que não permitiram ter outro tipo de vida profissional.
Os debates se centrarão em quatro grandes pontos:
1. O sujeito da revolução.
2. O caráter do regime social colombiano.
3. O estado atual da implementação do Acordo de Paz.
4. O caráter do Partido e suas estratégias.
Não são debates simples. Há opiniões muito divergentes que recorrem desde a experiência de integração de guerrilhas à vida civil no passado, como a Farabundo Martí de El Salvador e a Frente Sandinista de Nicarágua, até a defesa de copiar ideias e modelos do PODEMOS espanhol.
A memória de todas as experiências de esquerdas do continente e da Europa estão cruzadas em leituras, e inclusive nas próprias Teses de Abril, que são os fundamentos da discussão. Porém, a unidade tem sido uma constante, e os abraços e sorrisos entre os membros de diversas partes do país demonstram um acúmulo emocional e de memória do que significa esta organização que dá esperança que de aí se vai conseguir pontos de unidades mínimas nas respostas destas quatro problemáticas para a tarefa que se apresenta em um cenário tão árido como o da geopolítica contemporânea.
Permitir o resgate da identidade revolucionária das FARC-EP para apresentá-la ao mundo e à Colômbia, dar um exemplo de Paz em um mundo com cada vez mais guerra, provar que ainda há esperança e capacidade de uma proposta de democracia radical no continente. Independentemente do que aconteça são estes os objetivos que se está buscando concretar neste Congresso.
Texto: Elaine Tavares
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