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Fraude no Equador?

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Por Elaine Tavares em 15 de abril de 2025

Fraude no Equador?

Imagem: Agência Press South/Getty Images

Dois dias depois da divulgação do resultado das eleições no Equador poucos mandatários da américa baixa deram ouvidos às denúncias de Luisa González sobre a possibilidade de fraude. Gabriel Boric, do Chile, e Luis Inácio, do Brasil, que na eleição de Nicolás Maduro duvidaram das urnas e pediram recontagem dos votos, já parabenizaram Noboa desejando sorte no próximo mandato. Nenhum questionamento sobre o fato de que um dia antes da votação Noboa tenha decretado estado de exceção no país, como se isso fosse uma coisa à toa e não tivesse qualquer repercussão no resultado da eleição.

Cláudia Sheinbaum, do México, destacou as denúncias de Luisa nas suas redes sociais e declarou que vai esperar mais um pouco para ver. De resto, os demais países do mundo sequer tomaram conhecimento da fala de Luisa e segue o baile da extrema-direita no Equador. O partido Pachakutik, que teve 5% dos votos no primeiro turno e era considerado um fiel na balança do segundo turno, também já reconheceu a vitória de Noboa, o que pode significar que os indígenas, que eram tidos como “o diferencial”, podem mesmo não ter atendido ao chamado dos seus representantes partidários. Um elemento a considerar na dança dos números, afinal, o correísmo tratou muito mal os indígenas e isso nunca foi esquecido.
No Equador, desde há muito tempo as comunidades indígenas mais empobrecidas deixaram de acreditar no sistema político tal como se apresenta. Observam que ganhe quem ganhe eles sempre saem perdendo. Já outras comunidades, mais integradas ao sistema capitalista e ao extrativismo, fazem cálculos e apoiam quem não mexa nos seus ganhos. É uma realidade bastante complexa. Pode ser que os indígenas não tenham votado em Noboa, mas é bem possível que também não tenham votado em Luisa, o que aumentaria a porcentagem de Noboa no processo. É algo que precisa ser melhor avaliado no correr dos dias.

De qualquer sorte, quem acompanhou a apuração dos votos no Equador observou que desde o início da contagem o presidente Daniel Noboa aparecia já com mais de 50% dos votos, sem muita alteração. Numa contenda em que a disputa estava cabeça/cabeça parece no mínimo, estranho. Importante lembrar que durante a campanha Noboa pontuou com bastante insistência a questão da segurança no país, contando com a participação de Erik Prince, um seal da marinha estadunidense, fundador da polêmica empresa militar privada Blackwater, que tem larga ficha de horrores cometidos por seus mercenários no Iraque, Líbia e outros países. Ele foi visto, bem à vontade, entre policiais equatorianos agora no começo de abril, em Guayaquil, na chamada Operação Anti-Crime Apolo 13, que prendeu dezenas de pessoas, sem acusação aparente. Segundo a mídia local, Price estava no Equador prestando “ajuda técnica com ferramentas e táticas para combater o narcotráfico”. Suspeito.

O governo equatoriano já havia desencadeado um operativo armado em nove de janeiro de 2024, na cidade de Guayaquil, envolvendo o exército equatoriano e vários grupos do crime organizado que segundo Noboa, acobertavam a fuga de um dos líderes do grupo Los Choneros, José Adolfo Macías Villamar. Foram efetuadas inúmeras prisões, inclusive de gente que nada tinha a ver com o narco, e Noboa ainda decidiu decretar estado de emergência e depois, estado de guerra interna. Muitas notícias circularam dando a versão de que o ataque aos grupos criminosos também acobertava a participação de gente conhecida da política – e graúda – nos cartéis da droga.

É sabido que o narcotráfico cresceu demasiado no Equador e esse é um tema que preocupa o cidadão comum. Mas, a “providencial” ajuda dos Estados Unidos sempre precisa ser vista com muita desconfiança, pois como já dizia o cantautor venezuelano Ali Primera: “Não se pode chamar de Tio Sam aos Estados Unidos, por que irmão de nossas pátrias ele não é!”
Já faz tempo que o Equador quer legalizar a presença de militares estadunidenses na Base de Manta sob o pretexto de combater o narco. Mas, se olharmos bem, a Colômbia tem seis bases militares dos EUA no seu território e ainda assim é a maior exportadora de cocaína do mundo. Também é mais do que sabida a relação simbiótica entre o narco e os militares dos EUA bem como das elites locais. Assim que a presença dos famosos “marines” em nada diminui a criminalidade, pelo contrário, aumenta.

Toda essa trama e a ideologia da segurança teve e tem muita influência sobre os equatorianos que passam a acreditar na lógica da “mão-dura” – e sem limites – tal como acontece em El Salvador. Um prato cheio para a ultra direita.

Diante desta realidade e conhecendo bem como age o império e as elites narcopolíticas, como garantir que as eleições transcorreram de maneira limpa e tranquila?
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