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Honduras é cenário de golpe e de resistência popular

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Por IELA em 18 de agosto de 2009

HONDURAS É CENÁRIO DE GOLPE DE ESTADO E DE RESISTÊNCIA POPULAR
Por Amauri Soares  – deputado estadual/SC
 
18.08.2009 – Honduras é mais um país pobre da América Latina, situada mais precisamente na América Central, bem mais perto de nós do que os EUA, a Europa, a Ásia e o Oriente Médio.
Honduras está sendo vítima de um golpe de Estado, como todos sabem. Os motivos é que estão tergiversados para a maioria dos brasileiros. Dizem que deram um golpe porque o governo de Manuel Zelaya queria aprovar a sua reeleição, mas essa informação é falsa. O mandato do presidente Zelaya termina  em janeiro de 2009, e a Assembléia Constituinte que ele estava propondo como alternativa consultiva aos eleitores hondurenhos aconteceria, se aprovada, apenas à partir do ano que vem – já sem Zelaya no governo. Além do mais, o mecanismo da reeleição foi aprovado no Brasil de Fernando Henrique Cardoso, na Argentina de Carlos Menen e no Peru de Alberto Fujimori sem consulta ao povo, como todos de boa memória lembram. Mas não era isso que Zelaya estava propondo, e sim a convocação de uma Assembléia Constituinte, que o próprio povo decidiria pelo “sim” ou pelo “não” no mesmo dia em que elegeria o novo presidente.
Por conta desse golpe, realizado da forma mais criminosa possível, com o presidente legítimo sendo seqüestrado na “casa presidencial” e levado para o aeroporto de San José da Costa Rica no dia 28 de junho, o povo tem se levantado em Honduras, e isso os golpistas não esperavam. Os golpistas não esperavam também que o mundo inteiro condenaria o golpe, como tem acontecido de forma quase unânime.
Nas menos de 60 horas em que estivemos em Tegucigalpa, a capital hondurenha, vimos acontecimentos extraordinários: parte do Congresso Nacional e todas as organizações populares de Honduras têm se levantado contra o golpe. Além do mais, as pessoas sem qualquer identificação política com partidos ou com os movimentos sociais, de forma espontânea, não reconhece o governo golpista, indo para as ruas manifestar sua indignação. Todos os dias ocorrem manifestações na capital e em outras cidades, especialmente em San Pedro Sula, a cidade industrial do país. Já houveram mortes nos confrontos com as forças obedientes ao governo golpista, que tem o general Romeo Vasco Velásquez à frente das forças militares, embora haja descontentamento dentro do próprio oficialato do exército hondurenho. Todos os dias, outras dezenas de pessoas são presas, e muitas têm sido agredidas fisicamente, inclusive parlamentares. Presenciamos a agressão ao deputado Marvin Ponce, do Partido da Unificação Democrática, no dia 12 de agosto. Ele ainda está internado, com braço e costelas quebrados.
A Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe de Estado, formada por parlamentares e por todos os movimentos sociais e sindicais do país, busca coordenar a resistência, mas ela ocorre com muito mais espontaneidade do que o potencial de coordenação da Frente, criando um ambiente de difícil análise e compreensão. No meio das manifestações, agentes do golpe espalham o terror, também para transferir a responsabilidade para a resistência, que busca se manter pacífica.
Não tem saída fácil para a crise política instalada em Honduras, pois o povo nas ruas não tem cedido a qualquer saída que não seja o retorno do presidente legítimo, o único que aceitam que lhes governe. Até mesmo a eleição, prevista para o final do mês de novembro está comprometida, pois todos que resistem ao golpe afirmam que não existe poder legítimo no país para convocar a eleição. Querem Zelaya de volta, para que ele convoque a eleição e a consulta quanto a formação de uma Assembléia Constituinte. Evidente que os golpistas não aceitam tal saída, pois teriam que reconhecer e encarar seus erros e mesmo seus crimes. Nenhuma saída negociada, proposta por organismos internacionais, mesmo a Organização dos Estados Americanos (OEA) foi aceita pelo governo golpista, o que acirra todos os ânimos.
É impossível prever um desfecho para esse conflito, e só mesmo uma ação decisiva e enérgica da OEA poderia devolver a paz social para o povo hondurenho. Se a violência da direita aumenta contra a resistência ao golpe, e se o povo continua indo às ruas, com ou sem lideranças, só mesmo um mar de sangue, um verdadeiro massacre social, poderia garantir aos golpistas a possibilidade de dizer que existe um “governo de fato” em Honduras. Naturalmente, essa é a pior saída possível, e o mundo inteiro precisa voltar seus olhos para impedir que tal massacre aconteça. É dever humanitário de todos os homens e mulheres, em qualquer parte do mundo, manifestar o mais veemente rechaço à violência ilegal e ilegítima contra um povo que só quer viver, trabalhar e poder decidir quem dever ser seu governo e como devem ser suas instituições. 
 
Deputado Sargento Amauri Soares

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