Por Cuba – A Educação e o Meio Ambiente (E 18)
Texto: Davi Antunes da Luz
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Iela na Itália
30.04.2012 – O professor Nildo Ouriques, do Iela, está na Itália, onde ministra curso de uma semana sobre o pensamento social brasileiro. O convite partiu da Universidade de Padova e significa mais um passo do Instituto de Estudos Latino-Americanos no sentido de levar à Europa o melhor do pensamento crítico produzido no Brasil.
Os autores a serem trabalhados pelo professor Nildo Ouriques são clássicos do pensamento social brasileiro e latino-americano que, no mais das vezes, não são reconhecidos acerca de suas importantes contribuições à interpretação da realidade brasileira e latino-americana, tais como Manoel Bomfim, Guerreiro Ramos e Ruy Mauro Marini. Muitas vezes chegam a ser considerados “hereges” ou ainda “malditos”. Nildo apresentará uma revisão crítica desses pensadores frisando a notável contribuição dos mesmos, intelectuais que conseguem a característica de manter elevado prestígio sem gozar de grande popularidade nos programas de pós-graduação ou na grade de formação básica do mundo universitário brasileiro.
Para o professor é impossível entender os impasses da sociedade brasileira – na economia, na política e na cultura – sem recorrer aos autores que serão apresentados no curso aos estudantes italianos. “Em grande medida, parte considerável da pobreza intelectual do mundo acadêmico brasileiro deve-se ao fato de que eles insistem em ocultar a contribuição seminal e decisiva dos autores por nós selecionados. Neste contexto, estamos convencidos de que ninguém poderá analisar o colonialismo cultural sem recorrer à contribuição teórica e a evolução política do sergipano Manoel Bomfim; da mesma forma, ninguém poderá entender a evolução do pensamento social brasileiro e o início da sociologia crítica sem estudar com cuidado a ampla obra do baiano Alberto Guerreiro Ramos. Finalmente, é impossível entender o subdesenvolvimento e a dependência sem refletir a partir da concisa e profunda contribuição teórica do mineiro Ruy Mauro Marini”.
O professor, que é membro do Iela, insiste que as ciências sociais no Brasil ainda estão muito vinculadas a programas de pesquisa que só repetem um saber universitário, como se o pensamento social brasileiro tivesse se iniciado com a fundação da Universidade de São Paulo (USP) em 1934 – após derrota da contrarrevolução paulista de 1932 – considerada a principal iniciativa de domínio cultural da elite paulista e, em consequência, da elite brasileira. “A consolidação do saber acadêmico sepultou de maneira conveniente e relativamente fácil a contribuição teórica de importantes autores que pensaram de maneira crítica a realidade brasileira. Não se trata de mera coincidência o fato de que todos os autores que serão apresentados sejam simplesmente ignorados ou subalternizados pelas ciências sociais universitárias”.
Para Nildo, o reconhecimento desses autores, de que o Brasil é um país latino-americano, contrasta com autores festejados como Caio Prado Junior, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Florestan Fernandes e, Celso Furtado, para os quais a América Latina é apenas uma referência distante e não um elemento determinante do ser nacional brasileiro. “É óbvio que a experiência acadêmica paulista, por mais importante que possa parecer, é notoriamente insuficiente para entender, explicar e principalmente transformar o país. Contudo, esta óbvia constatação não comove o academicismo dominante no território nacional que se mantém fiel ao cânone paulista”.
Ele entende que a análise dos autores propostos para o curso é decisiva para a elaboração de um marco-referência histórico-teórico que o ensino acadêmico brasileiro se especializou em evitar, tornando os estudos sobre a realidade brasileira mera repetição sobre a “cordialidade”, o elogio da “mestiçagem” ou a defesa liberal do “pluralismo”.
Nildo fala sobre os autores a serem estudados em Padova. “Eles representam a origem crítica do pensamento social brasileiro. Com exceção de Manoel Bomfim – para o qual existe a biografia de Ronaldo Conde Aguiar, “O rebelde esquecido” (Topbooks, 2000) – os demais ainda permanecem desconhecidos do grande público brasileiro. Manoel Bomfim (Sergipe, 1868-Rio de Janeiro, 1932), a sua maneira, introduziu a primeira crítica anti-colonial nos estudos sobre a realidade brasileira. Seu conhecido livro nasce precisamente depois de uma temporada em Paris que, antes de torná-lo um mero reprodutor das ideias europeias, o transformou num militante intelectual da descolonização do pensamento e, mais importante ainda, o impulsionou em certa práxis política que marcou decisivamente sua trajetória intelectual. Mais tarde, escreveu outras obras que podem ser considerada o primeiro esforço sistemático para elucidar uma teoria da nação sem a qual qualquer esforço intelectual está fadado a inutilidade na periferia capitalista latino-americana. É possível afirmar que Manoel Bomfim abre, em 1930, em seu último livro, a temática da “revolução brasileira” que seria mais tarde captada por Caio Prado Junior.
Alberto Guerreiro Ramos (Santo Amaro, 1915 – Los Angeles-EUA, 1982) pode ser considerado o fundador da sociologia crítica brasileira. O clássico livro, A redução sociológica, é uma linha divisória na sociologia brasileira da mesma forma que seu Introdução crítica a sociologia brasileira é, sem dúvida, como escreveu Darcy Ribeiro, uma das melhores coisas que já se produziu no Brasil. Antes da hegemonia uspiana e paulista nas ciências sociais, foi sem dúvida Guerreiro Ramos, ainda na década de 50, o autor que estabeleceu um programa de pesquisa ainda não esgotado e seminal para a vitalidade da disciplina no país. Na época, o centro cultural e político do país era o Rio de Janeiro que somente em 1964, com o golpe militar, se transferiu finalmente para São Paulo. Guerreiro Ramos era a figura intelectual mais importante do ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros) até 1959 quando abandonou a instituição por discordâncias internas. Contudo, seguiu sendo a figura decisiva no rumo das ciências sociais brasileiras e, de certa forma, na política nacional, até o momento em que a ditadura fechou o ISEB e cassou seu mandato de deputado federal. Não restou a Guerreiro Ramos senão o exílio nos Estados Unidos onde terminou seus dias e foi, finalmente, enterrado.
O mineiro Ruy Mauro Marini (Barbacena, 1932 – Rio de Janeiro, 1987) representa a melhor expressão do marxismo crítico brasileiro. A maior parte de sua ampla obra ainda é completamente desconhecida no Brasil e tampouco esta traduzida ao brasileiro. Contudo, é autor conhecido nas ciências sociais latino-americanas com várias edições, especialmente no México. Não há dúvida que Dialética da dependência é um texto que marca uma nova fase na interpretação marxiana da formação social latino-americana e representa a fusão entre os estudos críticos da realidade de nosso continente com o marxismo. A temática sobre o subdesenvolvimento e a dependência, cuja origem se encontra nos estudos pioneiros de Raul Prebisch – a partir de 1949 na CEPAL – ganharam maturidade e solução quando o marxismo latino-americano elucidou problemas que a visão burguesa julgava inerentes ao processo de industrialização e capazes de ser solucionados a partir da adoção “correta” de política econômica. Marini demonstrará que a transferência de valor e o intercambio desigual não são podem ser solucionados na ordem burguesa, razão pela qual se impõe a atualidade do socialismo. É óbvio o impacto da Revolução Cubana nas ciências sociais latino-americanas.
Existe também uma importante contribuição teórica de Marini para a constituição de uma teoria do estado na América Latina e uma crítica a hegemonia liberal sobre o tema da democracia que vamos expor em linhas gerais. Toda a obra de Ruy Mauro Marini esta finalmente disponível eletronicamente em www.marini-escritos.unam.mx
Texto: Davi Antunes da Luz
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