Equador: o passado de volta
Texto: Elaine Tavares
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Jornadas Bolivarianas anunciam novas práxis
Por elaine tavares – jornalista
Auditório lotado todos os dias e uma juventude vibrante, cheia de vontade de fazer acontecer. Foi assim a quinta edição das Jornadas Bolivarianas, promovidas pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC. Não foi à toa que o professor mexicano John Saxe- Fernández encerrou a mesa redonda do último dia com a histórica frase de luta do povo hispânico: “Si, se puede!“ Para ele, os exemplos de levantamento popular já dados pela Venezuela, Bolívia, Equador e México mostram que quando um povo unido e esclarecido quer, as mudanças acontecem.
Discutindo a política dos Estados Unidos para a América Latina as Jornadas trouxeram à Florianópolis intelectuais do México, Colômbia, Paraguai e Panamá e, com eles, apresentaram novos conceitos, teorias originais, e também velhos problemas que seguem assombrando a vida das gentes tais como a Operação Condor e o terrorismo de estado.
John Saxe-Fernández fez questão de lembrar que a América baixa segue vivendo um crucial guerra de classes, enfrentando o império e suas políticas de dominação. Insistiu que os povos da parte de baixo do Rio Bravo não devem mais aceitar a idéia de que são o pátio traseiro dos Estados Unidos, porque não o são. O que os países são de fato é a reserva estratégica de energia, biodiversidade e toda a sorte de riquezas que os Estados Unidos sonham em ter para si. “Trabalhando com esse conceito de reserva energética saímos do choramingo para a resistência“. Lembrou das inúmeras bases militares que os EUA tem na América Latina e em toda a Europa, e chamou a atenção para o que vai fazer Rafael Correa, do equador. “Ele vai tirar de lá a base militar e precisa ser apoiado por todos os movimentos sociais em luta neste continente. Será um momento histórico e importante que pode ser o início de uma grande mudança“.
Marco Gandásegui, do Panamá, trouxe o conceito de “estados falidos“ que é a proposta teórica dos Estados Unidos para os países que pretende dominar. Eles injetam a droga, o medo, o caos e depois dizem que o estado não tem mais condição de se gerir sozinho, que precisa da ajuda dos Estados Unidos para se levantar e manter a democracia. Foi assim no Afegenistão, no Iraque, no Haiti e agora no México.
Hernando Calvo Ospina, da Colômbia, contou a história da Colômbia e develou o processo histórico que veio desembocar na atual situação que vive o país, com um terrorismo de estado jamais visto numa democracia. Segundo ele, os governos “democráticos“ dos últimos tempos – apoiados pelos Estados Unidos – mataram muito mais gente do que todos os regimes ditatoriais vividos pela América Latina juntos. Também mostrou que, apesar de toda a propaganda de combate às drogas quie os EUA faz, inclusive com a presença de milahres de soldados estadunidenses na Colômbia, a produção de drogas triplicou nos anos de ocupação. “O que prova que a ocupação das tropas na Colômbia só têm um objetivo: combater as FARCs, nada mais“.
O professor Waldir Rampinelli trouxe a história das doutrinas ditadas pelos Estados Unidos desde o princípio dos seus tempos de República, observando a prática de roubo e saqueio de riquezas iniciada já com a anexação de quase metade do México ainda no século 17, passando pelo apoio às ditaduras e o atual terrorismo de estado.
Martín Almada contou sobre como se deu a Operação Condor e fez uma fala carregada de sua experiência pessoal, na qual contou sua trajetória de um simples professor que queria melhorar o salário do sistema, que achava que ser professor era ter um sacerdócio, seguir o exemplo de Jesus. “Mas os professores seguiam um Jesus manso e descobri com Paulo Freire que há um Jesus revolucionário, e eu o segui”.
As ditaduras latino-americanas foram foi responsáveis pela morte e desaparição de mais de 300 mil pessoas, e mais de 50% eram dirigentes sindicais. Os demais eram professores e estudantes, ou seja, foi uma conspiração contra a sociedade do conhecimento. Por isso, hoje, no Paraguai, temos apenas a mediocridade comandando o legislativo, fruto da operação Condor”.
Nildo Ouriques fez uma análise da economia estadunidense e sobre a crise econômica que deve se estender por todo o planeta como um castelo de cartas. Lembrou que mais de 38 milhões de empregos formais já se foram nesta crise, meio milhão a cada mês. Não bastasse isso os trabalhadores que seguem empregados abrem mão de salário para poder seguir nos empregos. “E vem coisa pior por aí pois todas as previsões são de que os EUA vão sofrer mais recessão. Numa economia capitalista o que interessa é o investimento e esse está muito baixo, incapaz de gerar riqueza e emprego”.
Na América Latina o cenário não será fácil, mas os países que apostaram nos Tratados de Livre Comércio serão os mais prejudicados. México vai à cabeça, basta ver que na última semana pegou um empréstimo de 50 bilhões de dólares. “Fala-se em livre comércio todo o tempo, mas tem que olhar a indústria. As remessas que saem da periferia para o centro são três vezes maiores que o lucro das empresas manufatureiras nos EUA. Essa perda do setor foi compensada pela ação das multinacionais, o capital produtivo foi quem esteve sempre no comando das ações”.
Nildo fez a crítica às soluções keinesianas que aparecem por todo o planeta alegando que o capitalismo só precisa de controle. Elas não dão conta do problema. Para ele, é necessário que se trabalhe a idéia de uma nova práxis, já que a transição de Bush para Obama é uma das mais conservadoras de todos os tempos. Ele insiste que a crise não tem solução de curto prazo, que haverá muita quebradeira, muito desemprego, a disputa entre as potências cada dia será mais acirrada e haverá, enfim, muito conflito social. “É uma situação que abre muita esperança, muita perspectiva de mudanças. Existe um cenário que exige um novo tipo de ação intelectual e uma nova práxis no movimento social”.
Encaminhamentos
Os conferencistas participantes das Jornadas Bolivarianas insistiram na mobilização das gentes no que diz respeito a retirada das bases militares estadunidenses da América Latina e no repúdio à ocupação do Haiti. Lembraram que o Brasil tem se prestado a um triste papel de gerente dos EUA na região e que isso precisa ter um fim.
No que diz respeito aos direitos humanos martin Almada sugeriu que o IELA investigasse o impacto da Operação Condor em Santa Catarina e que estudasse a influência do banco Mundial e do FMI na educação brasileira. Também sugeriu que todos se solidarizassem com a idéia do fim da escola das Américas, centro de treinamento da tortura e da repressão que segue existindo nos Estados Unidos para o qual vão militares de toda América Latina, hoje menos da Venezuela, Bolívia e Equador.
Os conferencistas deixaram claro que é na América Latina que está se gestando o novo e que o sistema capitalista está esgotado. Para isso, insistem, não cabe aos povos daqui salvar o capitalismo mas sim dar novas respostas á humanidade.
Nildo insistiu que existem épocas que se fecham para mudanças e outras que se prestam à transformações. Esta é uma hora de abertura, na qual podemos ariscar, sermos ousados. “É tempo de alterar a práxis política, ter ambições de poder para a alterar também as relações de poder. Há que ser mais crítico e menos panfletário“.
John Saxe-Fernández fechou com um apelo: “práxis é o que eu proponho. Consciência sobre a ocupação militar e ação contra isso. Nós podemos fazer isso!“.
Texto: Elaine Tavares
Texto: Rafael Cuevas Molina - Presidente AUNA-Costa Rica
Texto: Davi Antunes da Luz
Texto: IELA
Texto: IELA
Texto: Davi Antunes da Luz