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Liderança indígena e pesquisadores discutem diálogo entre culturas na terça

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Por IELA em 14 de maio de 2012

Liderança indígena e pesquisadores discutem diálogo entre culturas na terça 
14.05.2012 – Semana Nacional de Museus  terá debate com Nino Fernandes, liderança da nação Ticuna, do Amazonas e os antropólogos João Pacheco de Oliveira e Priscila Faulhaber
 
A arte, a ciência e a cosmologia dos índios brasileiros encerram ainda um mundo de mistério que fascina e intriga a sociedade ocidental na descoberta do outro colonizado. Os Ticuna, povo indígena mais numeroso da Amazônia, são os grandes homenageados das atividades em comemoração à 10a. Semana Nacional de Museus (14 a 20 de maio) na Universidade Federal de Santa Catarina. Pacíficos mas irredutíveis na luta por seus direitos, os Ticuna, ou povo Magüta, são tema de conferências, debates e de uma impressionante exposição de máscaras, esculturas e objetos ritualísticos que representantes dessa nação do Alto Rio Solimões irão conhecer em visita ao campus universitário em Florianópolis.
 
Com a presença de Nino Fernandes, representante famoso da nação Ticuna (ou Tukúna), o debate “Museus e povos indígenas: espaço para o diálogo intercultural” ocorre na Semana de Museus no dia 15 de maio, como parte das atividades do Projeto Museu em Curso. A mesa-redonda será realizada às 16 horas, no segundo andar do novo Pavilhão Antropólogo Silvio Coelho dos Santos do Museu de Arqueologia e Etnologia Professor Oswaldo Rodrigues Cabral (MArquE/UFSC), em uma parceria com o Curso de Graduação em Museologia da UFSC, o Instituto Brasil Plural e o Museu Amazônico da Universidade Federal do Amazonas. Além do ticuna Nino Fernandes, diretor do Museu Magüta, localizado em Benjamin Constant/AM, participam da mesa de discussão João Pacheco de Oliveira e Priscila Faulhaber, dois grandes antropólogos, pesquisadores e indigenistas.
 
O objetivo da semana é imergir no mundo pensado e vivido pelo povo Ticuna, diz a chefe da Divisão de Museologia, Cristina Castellano. Mundialmente conhecidos por seus rituais de iniciação da puberdade, como a Festa da Moça Nova, os Magüta foram visitados por um pesquisador catarinense pela primeira vem em julho de 1962. Nesse ano, o antropólogo do antigo Museu da UFSC Santos, falecido em 2008, realizou sua pesquisa de campo do Curso de Pós-Graduação em Antropologia do Museu Nacional, do Rio de Janeiro entre os Magüta do Alto Solimões.
 
A exposição “Ticuna em Dois Tempos”, que vai até o dia 25 de outubro no MArquE, reunindo a coleção do antropólogo e do artista plástico amazonense Jair Jacqmont, é uma mostra do colorido e da exuberância da arte desse povo, que se notabilizou em todo mundo por sua cosmogonia e objetos ritualísticos. As mais de 300 peças em exposição expressam também o modo de ver o mundo dessa grande nação espalhada entre a Amazônia brasileira, Colômbia e Peru, que divide os indivíduos de sua sociedadeem metades exogâmicas, compostas por clãs e também subclãs, a classificar todos os seres vivos, humanos ou não: a das aves e a das plantas. 
Palestrantes: 
O Ticuna Nino Fernandes dirige o Museu Magüta, o primeiro museu indígena do país que, em 1996, foi premiado pelo International Commitee on Museums (ICOM) e em 1999 foi tema de uma grande exposição realizada no Tropenzmuseum (Museu Tropical) em Amsterdam. Nino Fernandes recebeu a Ordem do Mérito Cultural do ano de 2005 do então presidente Lula e do ministro da Cultura Gilberto Gil. Em 2007 foi agraciado com a Comenda da Ordem do Mérito Cultural e em dezembro de 2008 com o Prêmio Chico Mendes, outorgado pelo Ministério do Meio Ambiente.
 
Autor de volumosa obra, entre livros e artigos publicados, João Pacheco de Oliveira é Professor Titular do Museu Nacional do Rio de Janeiro, curador das coleções etnológicas do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social e docente da UFRJ. Foi presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) entre 1994 e 1996 e por diversas vezes exerceu a função de coordenador da Comissão de Assuntos Indígenas, função pela qual responde também na atual gestão.
 
Atuando ao lado dos Ticuna desde a década de 1970, Oliveira foi um dos fundadores e primeiro presidente do Centro de Documentação e Pesquisa do Alto Solimões. A entidade criada em 1986 deu origem ao atual Museu Magüta, administrado pelo movimento indígena, por meio do Conselho Geral da Tribo Tikuna. Em 1977 apresentou a dissertação As Facções e a Ordem Política em uma Reserva Tükuna, defendida na UnB e em 1988 a tese “O Nosso Governo”; os Ticuna e o Regime Tutelar,  naUFRJ, posteriormente publicada.
 
Priscila Faulhaber é pesquisadora da Coordenação de História da Ciência do Museu de Astronomia e Ciências Afins e pesquisadora-associada do Museu Paraense Emílio Goeldi, de Belém. Atua como professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Amazonas e do Programa de Pós-Graduação em Museologia da Unirio.
 
Sua dissertação de mestrado, defendida em 1983 (UnB), foi publicada em livro sob o título O Navio Encantado; Etnia e Alianças em Tefé. Nela a pesquisadora enfoca o contexto das relações interétnicas dos povos Miranha, Matsé (Mayoruna) e Cambeba e vários segmentos da sociedade envolvente na região de Tefé, no Médio Rio Solimões. Sua tese, O Lago dos Espelhos; um estudo antropológico a partir do movimento dos índios de Tefé/AM, de 1992 (Unicamp), publicada em 1998, oferece exame sobre oentendimento de fronteira étnica, definida a partir das tensões produzidas com a demarcação das terras indígenas no Médio Solimões. 
 
As relações entre a iconografia das máscaras ticuna da Coleção Curt Nimuendaju (1941/1942) e a mitologia exposta na monografia desse etnólogo remete, como escreve a autora, “à análise da performance do ritual de puberdade feminina”. EntendePriscila Faulhaber que essa simbologia “toca as temáticas da fertilidade da mulher e da natureza, da complementaridade das metades, da passagem do tempo, das obrigações sociais da mulher e dos papéis e lugares na organização social Ticuna.”
 Quem são os Ticuna? 
1.    Autodenominação – Magüta
2.    Língua e família linguística – Ticuna
3.    Quantos são – totalizam cerca de 52.000 pessoas
4.    Onde habitam – no Brasil, Colômbia e Peru. No Brasil a maioria ocupa a região do Alto Solimões, ocorrendo também presença no médio e no baixo curso do rio Solimões, estado do Amazonas
5.    Terras Indígenas no Brasil – atualmente somam 28. Homologadas e registradas: 20; homologadas: 03; declaradas: 04 e em identificação: 01
 
Vivem em mais de uma centena de aldeias e atualmente algumas famílias habitam também centros urbanos como, por exemplo, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Beruri e Manaus.
 
Integrantes do povo Ticuna se encontram em processo de escolarização nas aldeias ou fora delas, o que implica o ingresso em diversos cursos superiores, incluindo os de Licenciatura Intercultural Indígena, da Universidade Estadual de Amazonas (UEA) e Universidade Federal de Amazonas (UFAM). Para incentivar e monitorar esse processo de escolarização, os Ticuna criaram a Organização Geral dos Professores Ticunas Bilíngues (OGPTB) em dezembro de 1986.
 
Em sua vigorosa postura pela autodeterminação e reconhecimento de seus direitos territoriais instituíram, em 1982, o Conselho Geral da Tribo Ticuna (CGTT) e posteriormente, em 1990, o Museu Magüta, localizado no município de Benjamin Constant, no Amazonas.
Fonte: Instituto Socioambiental (http://www.socioambiental.org.br/)

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