Início|EUA|Monroísmo Trumpiano

Monroísmo Trumpiano

-

Por Rafael Cuevas Molina - Presidente AUNA-Costa Rica em 28 de julho de 2025

Monroísmo Trumpiano

Embora o Monroísmo Trumpiano possa nos parecer novo e inusitadamente rudimentar, trata-se apenas da atualização de uma constante que nasceu e veio para ficar, quando o nascente imperialismo americano se fez sentir no mundo no final do século XIX e início do século XX.

A Doutrina Monroe, enunciada em 1823, constituiu o princípio norteador de toda a política dos EUA em relação à América Latina desde aquela época até os dias atuais. Ela foi atualizada, ou precisada, com base em necessidades específicas: a política do Big Stick, a política da Cenoura e do Castigo e a Diplomacia do Dólar são exemplos dessas atualizações que permaneceram relevantes desde que foram explicitamente formuladas na primeira metade do século XX.

Como poderíamos chamar a política que Donald Trump está promovendo atualmente, tão rudimentar e intervencionista que parece só poder emanar de alguém tão obtuso quanto ele e o grupo mafioso que o acompanha como equipe de governo? Talvez, como sugere o título do nosso artigo, o monroísmo trumpiano, porque é mais do mesmo, mas em um novo contexto e com outros atores: a essência não muda, apenas suas manifestações particulares.
Esse monroísmo trumpiano não envia (por enquanto) canhoneiras para bloquear portos como Theodore Roosevelt fez com a Venezuela no início do século XX, durante o governo de Cipriano Castro; ou com a Nicarágua, quando, no início da década de 1980, Ronald Reagan minou seus portos como parte da estratégia de sitiá-la e cercá-la para derrubar o governo sandinista.

Uma das estratégias utilizadas pelo monroísmo trumpiano é “punir” com tarifas as importações de países que, em sua opinião particular, não fazem as coisas da maneira que o presidente dos EUA e sua equipe acreditam que deveriam ser feitas. Foi o que ele fez com o Brasil, impondo tarifas de 50% sobre suas exportações por acreditar que a Justiça brasileira está perseguindo Jair Bolsonaro, que está sendo julgado por tentar um golpe de Estado para impedir a posse de Lula.

Protestar neste artigo contra tal arbitrariedade é um pouco como bater no balde; que o acima mencionado sirva, então, ao menos como exemplo e confirmação da persistência da política externa permanentemente intervencionista dos Estados Unidos em relação à América Latina.

Há outros exemplos que mostram variações dessa atualização trumpiana do monroísmo. Um deles foi recentemente denunciado nas redes sociais por Cristina Fernández, a respeito das declarações do homem nomeado como novo embaixador dos EUA na Argentina. Cristina diz: “(…) Ontem vimos e ouvimos o Sr. Lamelas… o indicado de Trump para embaixador dos EUA em nosso país, dizendo que está vindo à Argentina para “monitorar os governadores”, para “impedir acordos com a China” e… (para que ninguém tenha dúvidas sobre o motivo de minha prisão) para “garantir que CFK receba a justiça que merece”. (…) Estão nos enviando um NOVO procurador plenipotenciário diretamente de Mar-a-Lago. Só faltou dizer que ele mesmo nomearia os tribunais. Nem mesmo MONROE ousou ir tão longe.”

Não está claro se o que o futuro embaixador na Argentina está dizendo é a coisa mais grosseira, ou o que o Secretário de Estado Marco Rubio fez com o Panamá, onde desfilou pelo Canal com a atitude de um capataz furioso, enquanto o líder do bando de bandidos imperialistas ameaçava, de Washington, tomá-lo.

Embora o monroísmo trumpiano possa nos parecer novo e inédito, trata-se apenas da atualização de uma constante que nasceu e veio para ficar, quando o nascente imperialismo americano se fez sentir no mundo no final do século XIX e início do século XX. O crescimento do investimento e do comércio chinês no que eles conhecem como Hemisfério Ocidental — ou seja, um processo que remonta à essência original da Doutrina Monroe (de não permitir o acesso de potências extracontinentais a este hemisfério) — está ressurgindo com todo o vigor.

No contexto de sua abjuração da globalização neoliberal, que levou à perda de posições para os Estados Unidos, o governo Trump vê a América Latina como seu reservatório privado, que deve ser monitorado de perto para evitar surpresas em sua retaguarda na guerra global que trava para tentar impedir seu declínio.

Já vimos o suficiente deste governo americano abusivo e arrogante, mas não vimos tudo. Regido por princípios que são a base estrutural do seu país, dependendo das circunstâncias específicas, testemunharemos outras atitudes grosseiramente intervencionistas. Reuniões como a recente realizada em Santiago, com a presença dos líderes do Uruguai, Colômbia, Chile, Brasil e Espanha, que visa coordenar diferentes forças políticas, ainda que incompletas, são bem-vindas. Somente a unidade nos tornará fortes e nos permitirá resistir ao monroísmo em todas as suas formas.

Últimas Notícias