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Morre Carlos Nelson Coutinho

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Por IELA em 20 de setembro de 2012

Morre Carlos Nelson Coutinho
20.09.2012  – Carlos Nelson Coutinho, um dos intelectuais marxistas mais respeitados do Brasil, morreu na manhã dessa quinta-feira, dia 20, no Rio de Janeiro. Aos 69 anos, deixa uma importante obra sobre a realidade brasileira.
Carlos Nelson nasceu em 1943,  na pequena Itabuna, Bahia, mas logo foi viver na capital, Salvador, e ali forjou seu caminho no campo intelectual. De uma família abastada, desde cedo teve acesso aos livros na biblioteca do pai, advogado. Aos 13 anos leu o Manifesto Comunista, de Marx, incitado pela irmã mais velha e se deslumbrou com as possibilidades que ali estavam colocadas. Iniciou o curso de direito porque entendia que era ali que a política acontecia, mas já no segundo ano viu que o estudo das leis não era para ele. Foi para a filosofia. Tinha 17 anos, e já sabia “mais do que os professores” como afirmou em entrevista na Caros Amigos, quando entrou para o Partido Comunista.
Coutinho foi um dos primeiros a divulgar no Brasil as ideias de Gramsci, uma de suas mais importantes inspirações. Tinha pouco mais de 18 anos quando foi para o Rio de Janeiro trabalhar. Ali ganhava a vida como tradutor e participava da vida política. Em 1976, quando a ditadura ainda seguia apertando o cerco de quem tinha ideias, ele se foi para a Europa. Viveu na Itália e conviveu com todo o clima do florescimento do eurocomunismo. Depois de três anos voltou e entrou para a Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Escola de Serviço Sociais, onde foi o responsável pela formação de gerações de estudantes.
Entrou para o PT na década de 80, junto com Milton Tamer e Leandro Konder e saiu quando Lula chegou ao poder, acreditando que o partido já não era mais o espaço onde queria militar. Então, foi ajudar a fundar o PSOL.
Sobre o socialismo ele diz, em entrevista à revista caros Amigos: “Socialismo não é um ideal ético ao qual tendemos para melhorar a ordem vigente. O socialismo é uma proposta de um novo modo de produção, de uma nova forma de sociabilidade, e nesse sentido eu acho que o socialismo é, mesmo no século 21, uma proposta de superar o capitalismo. Novidades surgiram, por exemplo: quem leu o Manifesto Comunista, como eu, vê que Marx e Engels acertaram em cheio na caracterização do capitalismo. A ideia da globalização capitalista está lá no Manifesto Comunista, o capitalismo cria um mercado mundial, se expande e vive através de crises. Essa ideia de que a crise é constitutiva do capitalismo está lá em Marx. Mas há um ponto que nós precisamos rever em Marx, e rever certas afirmações, que é o seguinte: Quem é o sujeito revolucionário? Nós imaginamos construir uma nova ordem social. Naturalmente, para ser construída, tem que ter um sujeito. Para Marx, era a classe operária industrial fabril, e ele supunha, inclusive, que ela se tomaria maioria da sociedade. Acho que isso não aconteceu. O assalariamento se generalizou, hoje praticamente todas as profissões são submetidas à lei do assalariamento, mas não se configurou a criação de uma classe operária majoritária. Pelo contrário, a classe operária tem até diminuído. Então, eu diria que este é um grande desafio dos socialistas hoje. Hoje em dia tem aquele sujeito que trabalha no seu gabinete em casa gerando mais-valia para alguma empresa, tem o operário que continua na linha de montagem .. Será que esse cara que trabalha no computador em casa se sente solidário com o operário que trabalha na linha de montagem? Você vê que é um grande desafio. Como congregar todos esses segmentos do mundo do trabalho permitindo que eles construam uma consciência mais ou menos unificada de classe e, portanto, se ponham como uma alternativa real à ordem do capital?”
Entrevista feita com Carlos Nelson Coutinho, por Milton Temer
 

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