Início|Cinema|O Brasil e o cinema mundial

O Brasil e o cinema mundial

-

Por Michel Goulart da Silva em 04 de novembro de 2025

O Brasil e o cinema mundial

Imagem: reprodução

Neste ano, um filme brasileiro venceu pela primeira vez uma categoria do Oscar. Esse prêmio, o mais famoso do cinema, ao longo de sua história evidenciou a relação de dominação exercida pelas grandes produtoras norte-americanas em âmbito mundial. O prêmio tardio a um filme brasileiro não se deve à falta de qualidade ou a inexistência de um cinema no país, mas à forma subordinada como estas produções se localizam na divisão internacional dessas produções.

O cinema se desenvolveu como indústria, especialmente nos Estados Unidos e em alguns países europeus. Essa expansão está ligada ao desenvolvimento do capitalismo, tanto no que se refere à produção como à distribuição. Dessa forma, se viu emergir grandes empresas, que, além de produzir os filmes, se constituíram em conglomerados que controlam toda uma estrutura tanto de estúdios e equipamentos como do mercado em âmbito mundial, sendo frequentes a menção a nomes mais antigos como Warner, Disney, Paramount, Sony, Universal, entre outros. Nesse mercado somaram-se empresas mais recentes, como Netflix e Amazon, nos Estados Unidos, e a Rakuten, no Japão. Muitos desses conglomerados dominam tanto a parte de produção como a de distribuição, além de controlar salas de cinema e canais de televisão em diversos países.

Nos anos recentes, com o desenvolvimento de seus próprios streamings, as empresas mais antigas também passaram a ocupar fatias cada vez maiores desse mercado, que cresceu com o desenvolvimento de novos dispositivos de exibição e com a internet. Embora a maior fatia desse mercado seja ocupada pela Netflix e Amazon, é comum que estas realizem parcerias com outros conglomerados na produção e distribuição de filmes e de produtos audiovisuais. Pode ser citado como exemplo disso a parceria da Netflix com a Disney em séries do Universo Marvel. Essa relação entre antigos e novos conglomerados pode se dar por fusão ou aquisição, como no caso da compra pela Amazon dos estúdios MGM, uma das marcas mais antigas e famosas de Hollywood.

No século XX, ao mesmo tempo em que Hollywood consolidou seu domínio sobre o mercado mundial, outras cinematografias passaram a se desenvolver, em um primeiro momento em países imperialistas, como França e Alemanha, e, com o desenvolvimento da dinâmica política e econômica em âmbito internacional, em países periféricos, sejam aqueles de maior desenvolvimento econômico, como Japão e mesmo a Coreia do Sul, sejam aqueles que se tentaram se constituir como espaços políticos alternativos, como União Soviética e Cuba. Na América Latina, países como Argentina, Brasil e México angariaram algum espaço, ainda que pequeno, em termos de mercado mundial. O mesmo pode ser dito de países de outras regiões como Índia, Irã e Rússia.

O crescimento recente de alguns mercados, especialmente o asiático, se deve em grande medida à massificação dos aplicativos de streaming, com sua variedade de filmes e séries e até mesmo a criação de algumas plataformas especializados em cinema “alternativo”, em especial o Mubi. Essa expansão em grande medida é responsável pelo principal prêmio do Oscar a um filme da Coreia do Sul, país que mesmo de forma marginal consegue constituir um espaço relativamente autônomo de produção e distribuição, ou as cinco indicações a um filme do Mubi. Contudo, apesar da mudança na forma de exibição e do crescimento na difusão de obras produzidas em uma maior diversidade de países, o cinema não deixou de ser uma mercadoria dominada pelos grandes conglomerados econômicos dos Estados Unidos, utilizando para isso inclusive mecanismos comerciais como coproduções ou contratos de exibição e distribuição para cooptar produtores independentes.

Embora incorporando ou mesmo difundido elementos culturais de diversas regiões, a maior parte do cinema produzido e distribuído ainda passa pelos interesses econômicos dos grupos econômicos de Hollywood. Os sucessos mais recentes de filmes brasileiros exemplificam esse processo. O prêmio do Oscar foi dado ao filme Ainda estou aqui, distribuído, em âmbito internacional, pela Sony. Coube à Sony também a distribuição nos Estados Unidos de outro filme brasileiro de grande sucesso que concorreu ao Oscar, Central do Brasil. Mais recentemente, o filme Caramelo, ainda que seja uma produção brasileira, foi distribuído – e ganhou projeção internacional – por conta de sua exibição pela Netflix.

Em comparação, mostrando a diferença da localização do Brasil em relação a outros países, pode-se destacar que a distribuição do filme Parasita ficou sob responsabilidade de um conglomerado sul-coreano. Essa comparação pode ser feita com o Japão, país asiático com maior número de premiações no Oscar, que possui uma estrutura de produção e distribuição própria para seus filmes, realizando também parcerias com produtoras e distribuidoras estrangeiras.

O cinema é uma arte que possui uma base industrial e cujo desenvolvimento de produção e distribuição está associado à dinâmica econômica internacional e sua expansão, por meio das relações capitalistas. O cinema mostra-se uma importante expressão artística e uma forma de difusão de ideias e elementos culturais, ao mesmo tempo que se constitui um produto comercializável por grandes conglomerados econômicos. O cinema, dessa forma, mostra-se um produto fundamental nas mãos do imperialismo, seja para difundir suas ideologias, seja para garantir a ampliação de seus lucros e o domínio do mercado mundial nas mãos do capital financeiro.

 

Últimas Notícias