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O desmonte da nação ou a revolução da contrarrevolução

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Por IELA em 30 de março de 2016

O desmonte da nação ou a revolução da contrarrevolução

A questão metodológica central relativa ao golpe parlamentar em curso é derivada da particularidade desta sociedade capitalista em sua subordinação estrutural ao capital monopolista mundial. Daí podermos afirmar que a real economia política do golpe é o desmonte da nação como forma da revolução da contrarrevolução, cujo complexo socioeconômico e, consequentemente, político, não só não foi derrotado na transição transada à democracia dos monopólios como cresceu sob a sombra dos governos democráticos que se sucederam no poder desde 1985.
O desmonte da nação é o fundamento da economia política do golpe parlamentar. Requião e Benayon bem salientam este sentido histórico da corrida golpista (Benayon, 2016; Requião, 2016). Trata-se do assalto aos avanços da emancipação social e politica dos trabalhadores e ao coração da produção nacional de valor, de seu núcleo estratégico, mais além do que o séquito de predadores já presenteou o capital privado nos governos democráticos, em especial os do PSDB. E o coração do que restou é a Petrobrás e o complexo de empreiteiras nacionais, centro determinante da economia nacional. Cumpre também salientar as declarações de avanço rumo aos universos da emancipação republicana dos trabalhadores tais como a saúde e a educação, como consta do programa do FMI e do PMDB de Temer (OESP, 27/03/20160), prestes a serem dependurados nos colares de nossos novos colonizadores nacionais e estrangeiros.
O complexo político-jurídico-midiático é a alavanca desse processo, tal como ocorreu no desmonte da extinta URSS. O aríete judiciário, conscientemente direcionado, cria o caos necessário para a ação dos piratas da contrarrevolução. A revolução da contrarrevolução é, no nosso caso, a destruição da ordem socioeconômica vigente, necessária para o trânsito a uma nova ordem do capital. É uma variante da estratégia do capitalismo do desastre, notado por Klein (Klein, 2006). O colapso da ordem jurídica e econômica predispõe o país, devidamente desinformado e manipulado pela mídia golpista, a aceitar aquela que parece ser a desgraça menor como alternativa ao insuportável caos reinante.
Eis a razão do açodamento, parido pela força da volúpia, de onde deriva a pressa incontida, a origem da decretação da morte em vida do mandato da presidente, do seu assassinato político. As burguesias sublevadas estão em guerra. Os piratas se atropelam ante a visão do botim, tal como fizeram seus antepassados aqui aportados para fazer a América ou fugir da perseguição das tropas napoleônicas, no séquito real. Eis a sua suprema oportunidade, esta lhes confere coragem indômita. Conquistar os tesouros maiores, embolsar as joias da coroa, transformarem-se em nababos, mais além, muito mais além dos milhõezinhos já depositados em suas contas ultramarinas pelos bons serviços prestados aos ladrões mais graúdos. Tudo o que até agora amealharam é pouco, é quase nada comparado à glória da plena desnacionalização dos tesouros restantes da pátria.
Daí essas miradas transcendentes, postas mais além do horizonte dos pobres mortais naufragados no caos reinante. Daí esse ar de troça, a jocosidade a transparecer em suas bocas contritas, a violência contida em suas frases cortantes e gestos bruscos, decididos. É preciso entendê-los. Eles estão prestes a se tornar donos dos destinos da pátria, revendida por eles aos novos senhores de nossas infinitas desgraças. Eles são as hienas à frente do coletivo dos predadores menores, a secundar o banquete dos felinos maiores. A contrarrevolução cobra agora e permanecerá cobrando os dividendos daqueles que não só a ignoraram como fingiram não se importar com o seu reinado e onipresença. O arrivismo pequeno-burguês será estraçalhado, vítima de sua ignorância e presunção de donos da verdade, de se arvorar em sumo-pontífice do saber moderno. A tragédia maior, contudo, incomensurável, é a do povo brasileiro, de suas maiorias assalariadas, avassaladas em graus inimagináveis de exploração e perdas de direitos, pela fúria das burguesias sublevadas.
Elas estão desmontando a nação, vendendo-a ao capital monopolista, isso é o que lhes interessa e não as divagações acadêmicas economicistas. O golpe parlamentar desvenda enfim, para todo o sempre, o caráter antinacional, antipopular, antidemocrático e antipatriótico dessas burguesias neocoloniais travestidas de cumpridoras do rito constitucional, como rezam muitos guardiões da lei dentro e fora do STF. A necessidade imperiosa da revolução democrática é, desse modo, posta na ordem do dia, ou seja, a da realização do complexo republicano de direitos dos trabalhadores – salário, saúde, educação, moradia, transporte, previdência, segurança e lazer – em uníssono com a realização da plena emancipação econômica e politica nacional, impossível de ser alcançada pelas burguesias antinacionais.
Os feitores do melhorismo contrarrevolucionário, do neodesenvolvimentismo, permitiram a ascensão da contrarrevolução da ultradireita e do fascismo de massas. Este, como é de seu feitio, tragará a todos e aqueles, em primeiro lugar. Diante desta evidência quem sabe agora abracem a causa da revolução democrática?
O capital, suas lideranças politicas, econômicas, jurídicas e midiáticas nacionais e estrangeiras, evidencia pleno controle sobre a reprodução politica e econômica de sua sociedade. A democracia, para eles, ou se adequa aos limites por ele impostos ou deverá ser fechada para balanço. Demonstra para os incrédulos e ignorantes que nada o impedirá de por de joelhos os poderes que ousem enfrenta-lo. O capital é um batalhador incansável e decidido contra os interesses emancipacionistas dos trabalhadores e de toda a humanidade, sempre que seus interesses mediatos e imediatos sejam contrariados. 
O melhorismo social-liberal neodesenvolvimentista sonhou driblar os vampiros que protegem os inimigos da nação sem acordar a contrarrevolução que ele supunha morta e enterrada. Esta não só levantou-se como também arrastou consigo, feito um tsunami, uma boa parte da insatisfação popular contra ela própria. Permitiu, assim, que o ódio inconsciente à contrarrevolução e suas mazelas – a não realização do complexo dos direitos republicanos e a bastardia corrupta e corruptora da politica burguesa, antes de tudo – fosse capturado e transformado em movimento fascista de massas, em hipostasia revolucionária da contrarrevolução, pele que dela só será arrancada caso as maiorias trabalhadoras desejem, por fim, realizar a sua emancipação e abandonar esta farsa capitalista da revolução da contrarrevolução.
Referencias
Requião, Roberto “Ponte para o futuro”: análise das consequências das 30propostas do documento do PMDB para o Brasil” inhttp://www.conversaafiada.com.br/economia/requiaoprovaoposicaoquerumfmir…
Benayon, Adriano   “Império anglo-americano usa Lava Jatopara destruir empresas nacionais”,  28 de março de 2016  in http://www.viomundo.com.br/wpcontent/uploads/2016/03/captura-detela-2016-03-28-axxs-18.05.24.png
Klein, Naomi “Disaster capitalism: how to make money out of misery”, inhttp://www.theguardian.com/commentisfree/2006/aug/30/comment.hurricaneka…
OESP, 27/03/2016 in http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,pmdb-prepara-ajuste-para-c…

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