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O julgamento de Bolsonaro

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Por Michel Goulart da Silva em 03 de setembro de 2025

O julgamento de Bolsonaro

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Esta semana teve início o julgamento de Bolsonaro e dos demais envolvidos na intentona golpista que redundou no 8 de janeiro. O julgamento se inicia com provas substanciais do planejamento do golpe e de sua tentativa de execução, frustrada pela ausência de apoio da maior parte da burguesia e mesmo de setores significativos das Forças Armadas.

Essas movimentações da burguesia para deter ações do bolsonarismo, utilizando as instituições do Estado mostra que as classes dominantes estão buscando estabilizar o regime político diante dos impactos da crise econômica que teve início por volta do segundo semestre de 2019. Nesse cenário, a figura de Bolsonaro, alçado à presidência como um esboço improvisado de bonapartista, se configura atualmente como uma espécie de bode expiatório da burguesia envergonhada de ter apoiado uma figura tão esdrúxula.

O governo Bolsonaro, marcado por crises permanentes, foi incapaz de aplicar até mesmo os elementos mais básicos de sua tosca pauta ideológica. O bonapartismo tentado por Bolsonaro se mostrou bastante frágil, na medida em que outras instituições, como o Judiciário e o Congresso Nacional, se mostraram eficientes tanto para amortecer os impactos da polarização de classes como para legitimar os ataques aos direitos dos trabalhadores.

As próprias instituições burguesas controlaram qualquer ação bolsonarista que pudesse colocar em risco a estabilidade econômica e política. Diante do 8 de janeiro, as instituições viram a necessidade de punir a turba descontrolada financiada e incentivada por empresários e políticos de pouca expressão que queriam manter a qualquer custo um governo Bolsonaro. Como confirmado pelas investigações, havia de fato a ideia de uma “ruptura institucional”, ainda que sem apoio da cúpula militar ou de setores significativos da burguesia.

Passados mais de dois anos desde a articulação golpista, se observa que as pretensões de ruptura institucional e a ação da turba descontrolada que depredou os prédios dos três poderes foram o suficiente para unir o conjunto de instituições contra seus agressores. Para as classes dominantes, em seu mandato presidencial, Bolsonaro não passava de um fantoche que se dispunha a cumprir o programa de austeridade defendido pela burguesia.

Os atos de 8 de janeiro, com incentivo político e apoio logístico de seus apoiadores, mostraram que Bolsonaro poderia ser um incômodo e eventualmente poderia novamente mobilizar sua turba, colocando em risco as instituições. Suas recentes ações de buscar apoio de Trump, numa clara ação entreguista, mostram ainda mais o risco que Bolsonaro e seus apoiadores colocam contra as instituições. Trump, apesar de seus discursos extravagantes e retórica grosseira, sequer consegue apoio majoritário da burguesia ou mesmo das instituições para suas ações.

No período recente, em outros países, a burguesia mandou recados semelhantes. Um deles foi o processo judicial que levou à condenação dos membros do partido de extrema direita Aurora Dourada, da Grécia, por participarem de uma organização agora considerada criminosa. Outro exemplo é o processo contra Marine Le Pen. Esses segmentos são jogados na lata do lixo parte da burguesia, depois de se constituírem como alternativa em contextos de polarização e intensas lutas dos trabalhadores. Cabe destacar que esse tipo de lixo político sequer deveria ter tido algum espaço nas instituições.

Bolsonaro cumpriu seus serviços contra os direitos dos trabalhadores e foi dispensado pela burguesia. Poderia ter deixado o governo tranquilamente e seguir como um parasita do dinheiro do Estado. Contudo, optou pelo enfrentamento com as instituições. Os seguidores mais alucinados de Bolsonaro insuflaram uma turba descontrolada e colocaram em alerta os defensores da ordem burguesa. Essas instituições precisaram coibir qualquer tentativa de ataque contra sua estabilidade e mandar o recado de que, quem não a respeitar, deve ser punido.

Nesse processo, se observa o papel do conjunto das instituições, interessadas não na defesa de direitos políticos e de liberdades democráticas, mas na sua própria manutenção. O STF, que há anos tenta assumir um papel bonapartista, que participou de farsas como as do Mensalão e da Lava Jato, é um exemplo dessa ação visando sua própria manutenção e fortalecimento.

O circo midiático montado para denunciar as ações do bolsonaristas não tem outro papel que não o de mandar o recado para qualquer setor da sociedade que queira se insurgir contra as instituições burguesas. Se neste momento são os bolsonaristas, em outro poderão ser os trabalhadores, na medida em que coloquem em risco a propriedade privada e a estabilidade das instituições.

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