Fascismo Gestual, Luta de Classes
Texto: Gilberto Felisberto Vasconcellos
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No âmbito da iniciativa privada, das chamadas “democracias de mercado”, tudo, absolutamente tudo, é mercadoria, algo destinado não apenas a satisfazer necessidades (muitas vezes inventadas), mas, sobretudo, a gerar lucro para seu produtor. E, curiosamente — ou melhor, tristemente — quem o produz: o trabalhador em qualquer de suas formas (operário industrial, camponês, proletário rural, empregado de serviços, técnico especializado assalariado — mesmo com mestrado e doutorado) — recebe apenas uma migalha desse lucro. O empresário, também em qualquer de suas formas: industrial, banqueiro, proprietário de terras, leva praticamente tudo. Não parece muito justo. Será que esse é um dos benefícios? Para a grande maioria das pessoas: não. Benefício?
Como eu disse: no capitalismo, tudo é feito para vender, para que alguém — os poucos — ganhe dinheiro. Mas e os muitos? Os muitos, a grande maioria, são forçados a sofrer dificuldades. A parafernália de Natal já começou… mesmo que ainda faltem quatro meses para as festas! Os shoppings estão começando a se encher de enfeites e muito mais, tudo pronto para consumo. Somos forçados a gastar o que não temos para celebrar um feriado que não é mais religioso e que, segundo nos dizem, cria um “espírito de amor e paz”. Mas, no processo, descobrimos a verdadeira face do capitalismo: exploração e dificuldades para a grande maioria da população mundial (que nunca vive em “amor e paz”). Isso se torna evidente quando doenças graves atacam.
Em algum país da América Latina (pode ser qualquer país, até mesmo qualquer um em qualquer continente do Sul Global), tenho uma pessoa muito próxima — e, aliás, muito querida — que está sofrendo de uma doença grave. O tratamento exige um investimento financeiro enorme. O que fazer nesse caso? Se você tiver recursos, o tratamento pode ser realizado em um consultório particular (apenas mais uma mercadoria, como qualquer coisa destinada ao mercado: comida, uma casa, um par de sapatos, uma metralhadora, uma universidade particular, uma cadeira de rodas, uma dose de crack e um longo e interminável etc.). Se você não tiver esses recursos… vá para um hospital público ou se demita!
Mas recorrer ao sistema público de saúde, sabemos, é praticamente uma condenação. Os planos neoliberais que nos esmagaram nos últimos anos — e continuam a nos esmagar, sem dúvida — privatizaram tudo o que pode ser privatizado, encarando a saúde pública como uma “despesa” social, não um investimento necessário e essencial na população. O slogan passou a ser “se você pode pagar, pague e provavelmente será curado”; Caso contrário, “confie-se ao Todo-Poderoso”, e o Criador Supremo, em sua suprema sabedoria, decidirá se você viverá ou não, para cujo filho muitos presentes terão que ser comprados mais tarde, evocando seu nascimento milagroso neste ainda distante dezembro.
Existe alguma bondade nisso? Não parece. A saúde, como as declarações de direitos humanos repetem incansavelmente, é um desses direitos inalienáveis. Mas o que acontece no capitalismo, onde tudo está sujeito aos cordões da bolsa?
As Brigadas Médicas Cubanas são um exemplo claro de que é possível conceber a saúde de forma diferente, não apenas como uma mercadoria. Elas prestam atendimento em inúmeros países do Sul, gratuitamente, prestando serviços de primeira classe e trazendo pacientes para a ilha quando a situação exige. Em Cuba, a saúde é gratuita. Quanto custam os medicamentos mais caros do mundo capitalista? Muito, muito caro! O Zolgensma, um tratamento de dose única para recém-nascidos com atrofia muscular espinhal, de um laboratório americano, custa dois milhões de dólares! Ou o Eculizumab, medicamento usado para tratar um grupo raro de doenças que afetam os glóbulos vermelhos, fabricado nos Estados Unidos, por cerca de 7.000 dólares a dose. Ou o Carbaglu (ácido carglúmico), fabricado na Itália, para pacientes com problemas hematológicos, por 1.000 dólares a dose; ou o Ravicti (fenilbutirato de glicerol), fabricado na Alemanha, para distúrbios do ciclo da ureia, por cerca de 5.000 dólares a dose; ou a quimioterapia contra o câncer, com doses de 800 dólares cada (sabendo que múltiplas doses são sempre necessárias: 10 ou mais); ou o Kaftrio (elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor), o tratamento mais caro e avançado para fibrose cística, de um laboratório britânico-americano, a um custo de 8.000 dólares. Quem pode pagar tudo isso? Quem puder, e se não puder… reze.
A saúde não pode ser apenas mais uma mercadoria. Isso foi demonstrado de forma contundente pela recente pandemia de Covid-19. Por que esses lockdowns forçados, com toques de recolher em alguns casos? Porque os sistemas públicos colapsados pela privatização não garantiram eficiência. Cuba — embora a imprensa comercial não mencione —, com uma abordagem socialista à saúde pública, sobreviveu à pandemia em condições muito melhores do que as potências capitalistas.
Eles nos mostram o brilho, os shoppings transbordando de mercadorias, o relógio de US$ 42 milhões de Jeff Bezos, um supercarro Bugatti de € 8 milhões ou a mansão Antilia de US$ 1 bilhão do magnata Mukesh Ambani em Mumbai, Índia (com três helipontos e uma garagem para 168 veículos), enquanto 20.000 pessoas morrem diariamente em todo o mundo por falta de alimentos, embora hoje a humanidade produza o dobro de nutrientes do que seria suficiente para alimentar perfeitamente toda a população mundial.
Quando doenças graves batem à nossa porta e exigem enormes gastos, além do sofrimento que causam ao paciente e a todos ao seu redor, vemos o que o socialismo significa: dignidade. Na Cuba socialista, todos os cuidados de saúde são gratuitos. Por que insistem em nos dizer que o socialismo fracassou?
Texto: Gilberto Felisberto Vasconcellos
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