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Os populismos de direita na América Central

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Por Rafael Cuevas Molina - Presidente AUNA-Costa Rica em 13 de maio de 2025

Os populismos de direita na América Central

Família Bukele – a imagem do mundo perfeito –  @CC

Na América Central, há amplos grupos sociais que, desencantados com a política e os políticos que governaram no passado, estão oferecendo seu apoio a políticos populistas de direita. Os casos mais característicos são El Salvador e Costa Rica.

Ambos respondem a uma escola de liderança política que tem como modelo Donald Trump. Isso significa que são personagens que têm como estratégias políticas, entre outras, incentivar a polarização ideológica da população; atacar seus adversários com os piores epítetos; utilizar a falsidade e a mentira sem o menor pudor e questionar a institucionalidade estatal. Seu apoio popular é alto.

Muitos se perguntam como os políticos que insultam e mentem abertamente podem agradar às pessoas. A resposta pode estar no fato de que o que a população vê neles é um alto-falante de suas frustrações. O que dizem em público é o que a maioria se queixa em privado. Eles se atrevem a dizer o que os outros expressam em voz baixa.É preciso reconhecer mais. Os políticos populistas de direita da América Central identificaram com precisão onde o calo aperta: a raiva diante da crescente desigualdade; a cleptocracia de certos grupos sociais que se enriqueceram às custas do saque do Estado; os círculos de proteção mútua em que encobrem negócios públicos e privados; a ineficácia burocrática do aparelho estatal, etc.

Os resultados das políticas são magros. El Salvador poderia ser citado como exemplo contrário. Sua política de segurança parece ter sido bem-sucedida, ao ponto de ser tomada como modelo por outros governos latino-americanos. Tal política trouxe resultados na medida em que, muitas vezes, passou por cima da legalidade e violou, sem escrúpulos, os direitos humanos. Mas, para a população, isso parece não importar desde que seus interesses sejam preservados. Nesse caso, a queda espetacular da violência trouxe benefícios em outros aspectos da vida social. O turismo, por exemplo, começou a se desenvolver, com a consequente criação de empregos diretos e indiretos.

Ainda não sabemos quão sustentáveis são esses resultados exibidos por El Salvador. O que já se pode perceber é que são alcançados às custas da institucionalidade sobre a qual se sustenta o Estado de direito. A débil democracia centro-americana, na qual se depositaram tantas esperanças após a guerra, se enfraquece ainda mais. A longo prazo, os danos são imensos. Um rumo está sendo tomado que aponta para a consolidação de governos autoritários dos quais, precisamente, a região estava tentando se livrar.

Na Costa Rica, ao contrário, os resultados do governo populista atual não podem exibir conquistas semelhantes às de El Salvador. Talvez o mais exato seja dizer que não pode exibir conquistas. Mas para tudo há uma desculpa e justificativa. A principal é que não os deixam governar. Para isso, seria necessário um governo como o de Bukele, que tem à sua disposição o Poder Legislativo e o Judiciário. Ou seja, pede-se um governo forte, com mãos livres, que permita agir sem as amarras do Estado de direito.

Independentemente de haver conquistas ou não, os governos em questão seguem a estratégia trumpiana: qualificar o que fazem como maravilhoso, extraordinário e belo, e o resto do mundo como um obstáculo para alcançar o mundo feliz que prometem. Finalmente, estamos indo na direção certa, o mundo do futuro será extraordinário.Os populismos de direita não nasceram por geração espontânea.

Se para algo a história deve nos servir, é para tirar lições para o presente. Já vimos como a frustração e o descontentamento popular podem desembocar no apoio a regimes como o nazista na Alemanha dos anos 30 e 40 do século XX. Após a debacle do fascismo no final da primeira metade do século XX, deixou de ser uma alternativa política, mas está de volta. Hitler também chegou ao poder pela via eleitoral, assim como os atuais presidentes da Costa Rica e de El Salvador. Mas as possíveis consequências estão à vista.

Seria bom colocar as barbas de molho, embora saibamos todos que o ser humano é o único animal que tropeça duas vezes (e mais) na mesma pedra.

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